Um estudo publicado na JAMA Network Open em 04 de abril de 2024, traz informações sobre as preocupantes desigualdades e mau trato recebido por indivíduos durante o parto nos Estados Unidos. Intitulado "Disparities in Mistreatment During Childbirth", o estudo explora em profundidade as experiências de mau trato enfrentadas por parturientes em vários contextos demográficos e sociais, enfatizando a urgente necessidade de intervenções centradas no respeito e na igualdade no atendimento materno.
Principais Achados
A pesquisa descobriu que mais de 1 em cada 8 pessoas com um nascimento vivo em 2020 nos EUA experimentou algum tipo de mau trato por profissionais de saúde durante o parto. As taxas mais altas de mau trato foram observadas entre indivíduos solteiros, segurados pelo Medicaid, que se identificam como LGBTQ+, obesos, com histórico de uso de substâncias, distúrbios de humor, ou violência por parceiro íntimo, e aqueles que passaram por um parto cesariano não planejado.
Alarmantemente, as taxas de mau trato foram significativamente mais altas entre indivíduos negros e multirraciais, bem como entre aqueles com seguro público. Ademais, o estudo identificou fatores de risco antes inexplorados, incluindo identidade LGBTQ+, obesidade, distúrbios de humor e estado civil.
Implicações para o Atendimento Materno
O estudo destaca a existência de um estigma social estrutural profundo que influencia a experiência de parto e molda como o cuidado é recebido. Por exemplo, indivíduos que se identificam como LGBTQ+ tinham duas vezes mais chances de sofrer mau trato, frequentemente sentindo-se forçados a aceitar tratamentos não desejados ou sendo negados os tratamentos desejados.
Outra descoberta preocupante é a alta prevalência de mau trato vivenciada por indivíduos segurados pelo Medicaid, indicando uma área crítica para intervenção. Administradores do programa Medicaid poderiam considerar a cobertura de doulas e incentivos financeiros para promover um cuidado materno respeitoso.
Necessidade de Intervenções
Embora o estudo não tenha identificado associações estatisticamente significativas de mau trato com idade mais jovem, raça e etnia, nuliparidade ou gravidez de alto risco, foi notável a maior probabilidade de relatos de mau trato entre respondentes do Sudoeste Asiático, Oriente Médio ou Norte da África, seguidos por indivíduos negros e pessoas de várias raças minorizadas.
A pesquisa também sublinha a importância do controle, isto é, da participação no processo de tomada de decisão compartilhada e na comunicação entre paciente e clínico, como um dos fatores mais importantes para a satisfação com o parto.
Conclusões e Direções Futuras
Este estudo vai além ao oferecer uma compreensão abrangente do mau trato durante o parto, evidenciando desigualdades significativas que requerem atenção imediata. A evidência de intervenções eficazes para melhorar o cuidado materno respeitoso nos EUA é escassa, apontando para uma necessidade crítica de desenvolver e avaliar intervenções centradas no paciente que abordem viéses implícitos, competência cultural, condições da força de trabalho de saúde, inclusividade dos ambientes clínicos, e outros fatores estruturais, incluindo os fatores do sistema de saúde, para melhorar as experiências de parto.
Referência:
Liu C, Underhill K, Aubey JJ, Samari G, Allen HL, Daw JR. Disparities in Mistreatment During Childbirth. JAMA Netw Open. 2024;7(4):e244873. doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.4873