Após a publicação de um artigo em que a Ivermectina in vitro diminuiu em 93% a carga viral em 24 horas e zerou esta carga em 48 horas, ela se tornou bola da vez no momento para o tratamento precoce e/ou profilático da COVID-19.
Se a cada momento temos uma bola da vez, a conclusão que se chega é que até este momento a ciência correta e a medicina baseada em evidências científicas, que é o tipo de medicina que devemos praticar para segurança de nossos pacientes e da população, ainda não comprovou o benefício de nenhum medicamento para evitar de contrair a COVID-19 como também sua evolução para formas graves.
A indicação tem sido muito mais por mídias sociais ou por comentários e sugestões de médicos das mais diversas especialidades e não por especialistas da área, que são os infectologistas, intensivistas, pneumologistas e suas respectivas Sociedades Científicas Nacionais e Internacionais, que sem dúvida Jusão os profissionais e sociedades que devem nos orientar neste momento.
Se eu estou com um problema no coração vou procurar um cardiologista, se meu problema é na tireoide vou procurar um endocrinologista e na prática o que está acontecendo é que pessoas com uma infecção(COVID-19) ou suspeita dela estão procurando não um infectologista ou bom clínico geral, mas sim profissionais das mais diversas especialidades, que não são referências para tratar uma grave infecção sistêmica como é a COVID-19.
Os argumentos dos que preconizam seu uso são: se nada está adiantando é melhor prescrever algo, no caso a ivermectina, do que deixar o paciente piorar e até morrer sem fazer nada e que na minha experiência (?) ela funciona, argumentos estes muito tênues e sem respaldo científico algum.
A maioria destes preocupados e bons profissionais estão prescrevendo vários medicamentos, que não são isentos de efeitos colaterais, mesmo sem saber se é COVID-19 ou não, para pacientes com Infecções de Vias Aéreas Superiores. A grande maioria sem solicitação de exames para sua confirmação ou não, como também para seu uso e de todos os familiares de maneira profilática.
É uma conduta baseada muito mais em achismos (inadmissível) e até empirismo, que é uma conduta baseada na experiência individual de cada um que até pode ser usada e aceitável em momentos como o que estamos vivendo, mas deve ser um empirismo de profissionais especialistas, no caso infectologistas, pneumologistas e clínicos gerais, que são os profissionais com maior intimidade e conhecimento relacionado à COVID-19.
O pânico, agressividade, falta de bom senso e ética médica estão tão grandes em muitos grupos de médicos, que o profissional médico que não está prescrevendo ivermectina, hidroxicloroquina, azitromicina, zinco, vitamina D para todos casos suspeitos e/ou como profiláticos, está sendo tachado de omisso ou até negligente.
Em pesquisa publicada no dia 08 de Julho de 2020, realizada em São Paulo, metade dos médicos relataram que estão sendo pressionados por pacientes a prescreverem medicamentos que eles julgam não necessários devido à falta de evidências científicas. Sem dúvida, este é um efeito de divulgação de condutas médicas em mídias leigas que ao meu modo de ver no caso da COVID-19 traz muito mais angústias do que benefícios.
A conclusão que vai se chegar e até já está se chegando é que se você tomou ivermectina ou qualquer outro medicamento e não teve a COVID-19 ou suas formas graves é por que este medicamento foi efetivo, agora se mesmo tomando teve a doença ou infelicidade de ter formas graves era por que não tinha o que fazer e que a carga viral que foi exposta (o) era muito alta e não havia remédio que pudesse evitar esta evolução.
Tenho certeza que todos nós profissionais da área da saúde queremos o bem de todos e temos obrigação de promover este bem estar, querendo conter o mais rápido possível esta elevada morbimortalidade da COVID-19, assim como aceito que na busca de um tratamento efetivo, uma conduta empírica não baseada em evidências seja tomada.
O que não posso aceitar e admitir é que profissionais formadores de opinião, tão capacitados quanto, sejam criticados, cobrados e até ridicularizados em vários níveis e mídias por tomarem condutas éticas e profissionais baseadas em evidências científicas e não baseadas nestes achismos e empirismos.
O que a experiência de 6 meses desta pandemia evidenciou sem sombra de dúvidas é que as únicas condutas efetivas para minimizar os trágicos números desta pandemia são as medidas de higiene, isolamento social e a torcida para que uma vacina comprove sua eficácia e seja disponibilizada o mais rápido possível.
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Referências
1-Caly, L., Druce, J. D., Catton, M. G., Jans, D. A., & Wagstaff, K. M. (2020). The FDA-approved Drug Ivermectin inhibits the replication of SARS-CoV-2 in vitro. Antiviral Research, 104787. doi:10.1016/j.antiviral.2020.104787
Nota do editor: esse foi o décimo texto mais lido da comunidade Academia Médica no ano de 2020 e foi publicado originalmente no dia 10/07/2020.