Me perdoem aqueles que iniciam a leitura deste texto singelo acreditando que uma miraculosa ferramenta irá surgir das entrelinhas e brilhantemente fará você descobrir quem o bloqueou no Whatsapp.
Não distante dessa realidade cibernética, sou capaz de prever que todos nós (estudantes, internos, recém-formados e até a vanguarda médica) sofremos com aquela parte da consciência que nos aponta o dedo e diz: EU SABIA! Te avisei que não era uma boa ideia fazer medicina. Estuda, estuda e não sabe nada. Você ainda vai matar alguém! O que você tem de especial?
Vivendo o dia-a-dia onde a maioria dos indivíduos busca holofotes e compartilha apenas momentos de plena felicidade, quando não de ostentação interpretada como sucesso profissional e financeiro, aqueles que são acometidos da chamada "Síndrome do Impostor", também denominados "impostores" por alguns autores (o que parece bem cruel), subestimam a própria inteligência, acreditando que suas conquistas apenas virão da sorte ou do excesso de esforço, ainda que seja possível inferir com certeza suas habilidades e competências. Aquele que sofre com a síndrome diminui suas próprias vitórias (o que é mais cruel ainda)!
Não quero com esse texto subestimar o poder do esforço para alavancar a carreira de alguém, pelo contrário, é preciso tornar público a ideia de que podemos ser bons e estar no caminho certo.
Internos e recém-formados parecem ser a população mais acometida pela síndrome. Uma rotina exaustiva, grande volume de estudos para dar conta, falta de experiência e cobranças diárias fazem parte do bel-prazer da escolha da carreira médica. E é aí que ela surge, quando estamos em uma posição para ter o nosso desempenho julgado.
E assim nos tornamos nosso próprio carrasco, nosso maior crítico, que nos faz sentir insuficientes e despreparados muitas vezes ao dia. Pensamentos como “não sei se sou bom o suficiente”, “acho que não sou capaz de fazer isso” e “não sei se deveria estar onde estou” permeiam a mente vez ou outra.
O indivíduo tem sua autopercepção distorcida e se enxerga como uma pessoa menos qualificada para exercer determinado cargo ou função. O mais interessante é que na maioria dos estudos a população mais acometida parecem ser alunos de graduação com o melhor desempenho acadêmico.
Então por que acabamos nos sentindo muitas vezes bloqueados? Nos sentindo incapazes para algo? Nos cobrando por produzir, mais e mais e mais; estudar por horas e horas e horas?
Não há uma resposta simples para essas perguntas. Mas devemos lembrar que SENTIMENTOS NÃO SÃO FATOS.
O início do ano traz com ele a sensação de que tudo vai dar certo. Para quem ingressou em cursinhos preparatórios para residência, ou acabou de pegar a nova carteira de trabalho pós-formatura e irá enfrentar seu primeiro plantão como responsável do setor: ATENÇÃO!
Talvez o primeiro passo seja o autoconhecimento e retomar a ideia que não precisamos ser bons em absolutamente tudo, temos nossos defeitos e nossas qualidades, e devemos persistir quando confortados com algo que foge da nossa zona de conforto. Além disso, ter pessoas de confiança que possam te auxiliar em momentos de dúvida é fundamental.
Além disso, é sempre bom recordar que na medicina NEM SEMPRE, NEM NUNCA e nessa sociedade do obsoleto nem os erros nem os acertos duram muito tempo.