A pretensão do texto não é fazer uma cruzada contra nenhum profissional em específico, ou questionar a autonomia do profissional médico. Nesse momento, os questionamentos que permeiam as ciências da saúde são genuinamente lícitos.
Poderíamos citar a instabilidade técnica e emocional que a situação da pandemia atual instalou. Por mais que as síndromes agudas respiratórias não sejam novidades em medicina, as particularidades do coronavírus causam fragilidades.
Lembro que o ibuprofeno, foi posto como algoz nas primeiras tentativas de um tratamento mais efetivo. Posteriormente, uma série de opções farmacológicas foram testadas ao redor do globo e cada vez mais os tratamentos “off-label”, ou seja, aquele cuja indicação do profissional assistente diverge do que consta na bula, se tornaram mais constantes, como uma resposta ao medo e passividade médica diante da doença.
Ao mesmo tempo, uma avalanche de novidades científicas diárias revelou o fato que cada vez mais os profissionais de saúde não guardam uma boa formação de metodologia científica. Prova disso, a utilização de artigos apócrifos, medicações com ineficácia comprovada e não reconhecem os estudos com maiores níveis de evidência. Dessa forma, contaminam a prática cotidiana e por vezes desafiam o princípio da não maleficência.
Quando a medicina esquece a ciência, distancia-se do método científico, as anomalias de conduta encontram espaço fértil. As motivações são inúmeras, acredito que o pânico associado a incapacidade de saber o que fazer nas situações críticas, sem diretrizes fundamentadas ou guidelines seja uma das principais angústias. De fato, estar de frente a uma situação crítica e não ter como intervir, deve ser a principal impotência, na prática médica.
Todavia, quando a medicina esquece da ciência, aproxima-se dos interesses econômicos, do achismo, torna-se uma crença ou uma fé e ganha vieses político-partidário, a última coisa em foco é a saúde do paciente. Enquanto existirem medicamentos que capitaneiam segmentos políticos e pseudotratamentos que são defendidos ao som de cânticos, a última coisa em foco é a saúde do paciente. Surgirão gradativamente cada vez mais condutas terapêuticas aberrantes.
Aliás, imaginemos que em meio a situação de guerra que é o trânsito brasileiro fosse defendida a aplicação de vitamina D para o tratamento de pacientes politraumatizados, o quão ridículo seria uma marcha pelas ruas com cartazes e gritos que dizem: vitamina sim! cirurgia não! vitamina sim! cirurgia não!
No contexto atual, os médicos precisam reafirmar que a prática salutar é filha da metodologia científica, esquecer o que os conforta psicologicamente como placebo ou esperança farmacológica e retorna ao que de fato funciona, e deixar o: “se bem não fizer, mal não faz”.
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Medicina sem ciência
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