Os erros clínicos continuam a representar um desafio para os profissionais e instituições de saúde em todo o mundo. Um estudo recentemente publicado no Frontiers in Public Health traz uma perspectiva sobre o medo de cometer erros clínicos entre os profissionais de saúde. Este medo não só tem implicações para a segurança do paciente, mas também afeta a saúde mental dos trabalhadores da área, frequentemente descritos como "segundas vítimas" de seus próprios erros.
O estudo envolveu um total de 10.325 profissionais de saúde, distribuídos em várias categorias. Entre os participantes, 1.969 eram médicos, representando 19,1% da amostra; 1.768 eram executivos de saúde (17,1%); 2.819 eram enfermeiros (27,3%); 847 assistentes de enfermagem (8,2%); e 2.922 outros profissionais de saúde (28,3%). Esses dados refletem uma amostra ampla e variada, abrangendo diferentes funções dentro do sistema de saúde. A idade média dos participantes foi de 42,3 anos (DP = 10,8).
Os resultados indicam que um quarto dos entrevistados relatou um 'Alto Medo' de cometer erros clínicos, refletindo uma prevalência elevada e uma atmosfera generalizada de risco percebido. Esta investigação evidenciou fatores inter-relacionados que influenciam esse medo, incluindo:
Características socio-profissionais:
Jovens profissionais e aqueles com menor tempo de carreira são particularmente susceptíveis ao medo de cometer erros, principalmente devido à falta de experiência e à necessidade de orientação e apoio profissional aprimorado.
Apoio profissional e burnout:
A falta de apoio profissional é um grande fator de risco para o burnout, que por sua vez está associado ao medo de cometer erros. Este estudo destaca a importância do apoio profissional na prevenção do burnout e, consequentemente, na redução do medo de erros clínicos.
Embora distúrbios como depressão maior e distúrbios do sono não tenham sido associados diretamente ao medo de erros clínicos, eles estão interligados com o burnout, o que coletivamente influencia esse medo.
Implicações para a Segurança do Paciente
A identificação do medo de erros clínicos como um indicador potencial das pressões e desafios enfrentados pelos profissionais de saúde oferece uma nova ferramenta para melhorar a segurança do paciente. Por exemplo, departamentos de cuidados críticos e cirurgia, onde os riscos são especialmente altos, podem se beneficiar particularmente de sistemas de apoio robustos e de uma cultura de segurança.
Este estudo também sugere que o medo de consequências, como ações disciplinares e perda de emprego, é uma barreira significativa para a notificação de erros. Portanto, ao focar mais no medo do que nos próprios erros, as organizações de saúde podem promover uma cultura de relato mais transparente, o que facilita a aprendizagem a partir de incidentes e aprimora a segurança do paciente.
O medo de erros clínicos entre os profissionais de saúde é um reflexo significativo de desafios mais amplos dentro da segurança do paciente e da cultura de segurança nas organizações de saúde. Reconhecer e abordar esse medo pode não apenas ajudar a reduzir a ocorrência de erros clínicos, mas também melhorar o bem-estar dos próprios profissionais de saúde. Portanto, incorporar este conceito nas avaliações de cultura de segurança do paciente pode fornecer insights e servir como meio de aprimorar proativamente a segurança do paciente em ambientes de saúde.
Referência:
Boyer, L., Wu, A. W., Fernandes, S., Tran, B., Brousse, Y., Nguyen, T. T., ... & Fond, G. (2024). Exploring the fear of clinical errors: associations with socio-demographic, professional, burnout, and mental health factors in healthcare workers–A nationwide cross-sectional study. Frontiers in Public Health, 12, 1423905.