Menopausa Prematura e saúde mental: quase 1 em cada 3 mulheres desenvolve sintomas depressivos, aponta estudo
Um estudo publicado em 16 de julho de 2025 na revista Menopause revela uma face ainda pouco abordada da menopausa precoce: a alta prevalência de sintomas depressivos em mulheres diagnosticadas com insuficiência ovariana primária (IOP). De acordo com os dados analisados, quase um terço (29,9%) das mulheres com o diagnóstico apresentam sintomas depressivos significativos, e diversos fatores psicossociais foram associados ao agravamento desse quadro.
O que é insuficiência ovariana primária?
A insuficiência ovariana primária (IOP), também chamada de menopausa precoce, é caracterizada pela cessação da função ovariana antes dos 40 anos. Além dos sintomas físicos causados pela deficiência de estrogênio, como fogachos, ressecamento vaginal, diminuição da densidade mineral óssea e aumento do risco cardiovascular, as mulheres enfrentam impactos emocionais e sociais significativos, principalmente relacionados à infertilidade e à perda precoce da função reprodutiva.
O estudo analisou dados de quase 350 mulheres com diagnóstico confirmado de IOP, sendo o maior estudo até hoje a investigar variáveis específicas associadas a sintomas depressivos nesse grupo. Os principais achados incluem:
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Alta prevalência de depressão: 29,9% das participantes apresentaram sintomas depressivos clinicamente significativos.
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Fatores de risco identificados:
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Idade mais jovem ao diagnóstico: Quanto mais cedo ocorre a IOP, maior o risco de sintomas depressivos.
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Gravidade dos sintomas da menopausa: A intensidade geral dos sintomas foi diretamente associada à depressão, exceto os fogachos noturnos, que não tiveram relação estatisticamente significativa.
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Luto relacionado à infertilidade: A dor pela perda da capacidade reprodutiva demonstrou ser um dos fatores mais fortemente associados aos sintomas depressivos.
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Falta de apoio emocional: Mulheres que relataram ausência de suporte psicológico ou social adequado apresentaram maior risco de depressão.
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Hormonioterapia não associada a melhora do humor: O uso de estrogênio combinado a progestagênio não foi associado à redução dos sintomas depressivos. Este dado sugere que a hormonioterapia, embora essencial para outros sintomas e riscos da IOP, não deve ser considerada tratamento de primeira linha para transtornos de humor.
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Origem genética atenuante: Curiosamente, mulheres cuja IOP tinha uma causa genética conhecida apresentaram menores índices de sintomas depressivos.
Implicações clínicas
Os dados reforçam a necessidade de uma abordagem multidimensional e precoce para pacientes com IOP. Além da indicação consagrada de hormonioterapia para prevenir complicações relacionadas à deficiência estrogênica, o estudo destaca que cuidados em saúde mental devem ser sistematicamente incorporados ao plano terapêutico dessas pacientes.
A triagem rotineira para depressão, combinada a intervenções psicossociais baseadas em evidências, como psicoterapia de apoio, grupos de acolhimento e acompanhamento multiprofissional, deve fazer parte de qualquer plano de cuidado integral para mulheres com menopausa precoce.
A depressão em mulheres com IOP não é apenas consequência dos sintomas físicos, mas de um contexto biopsicossocial complexo, que envolve perdas simbólicas, estigmas sociais, mudanças nos planos de vida e alterações no papel social e familiar. Assim, entender a mulher como um todo e acolher suas dores invisíveis é parte essencial da boa prática clínica.
“Embora a terapia hormonal seja o padrão de tratamento para muitos sintomas da IOP, ela não é indicada como primeira opção para tratar distúrbios do humor. Este estudo reforça a importância de cuidados específicos em saúde mental nesse grupo vulnerável”, destaca a Dra. Monica Christmas, diretora associada da The Menopause Society.
Referência:
The Menopause Society. "Not just hot flashes: The hidden depression crisis in early menopause." ScienceDaily. ScienceDaily, 17 July 2025. <www.sciencedaily.com/releases/2025/07/250717013903.htm>.

