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Menos é mais - Será que não estamos solicitando exames demais?

Menos é mais - Será que não estamos solicitando exames demais?
Roberta Fittipaldi
fev. 22 - 4 min de leitura
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Desde a faculdade aprendemos que, durante a avaliação do paciente, a sequência anamnese, exame físico e exames complementares vai nos acompanhar para o resto de nossas vidas, principalmente como clínicos. Aprendemos também que exames complementares são necessários para confirmar, identificar e direcionar diagnósticos e tratamentos.

Porém, em consequência do avanço tecnológico da medicina, a mecanização da prática médica e a formação irregular de profissionais com tendência a desvalorização dos achados semiológicos e a supervalorização da solicitação de exames laboratoriais se tornou um verdadeiro problema de saúde pública.

A maior causa de aumento nos gastos em saúde, sem dúvida, resulta da incorporação de refinamento diagnóstico em exames laboratoriais, muitas vezes desnecessários. Nos Estados Unidos, o National Health Found, em 2012 estimou um gasto de 16 bilhões de dólares em exames complementares de pacientes de média e alta complexidades, internados ou não, e sem dúvida este número só aumenta.

O uso excessivo de testes laboratoriais e exames diagnósticos é particularmente comum nas unidades de terapia intensiva. Fato esse, atribuído à complexidade dos pacientes, à necessidade de um diagnóstico rápido e preciso e, porque não dizer, às questões culturais e psicológicas dos intensivistas. O medo de processos, de represálias de familiares, gestores e até de outros médicos, nos torna cada vez mais "laboratoristas" do que realmente médicos.

Uma pesquisa conduzida na Universidade de Campinas com pacientes internados e ambulatoriais mostrou a alta incidência de pedidos de exames que não possuíam alterações. Em números: 56% em pacientes internados e 70% em pacientes ambulatoriais. Obviamente, em um país como o nosso, com tantas diferenças em recursos destinados aos cuidados em saúde, a tendência nos faz pensar que em lugares com mais estrutura e recursos tecnológicos esses números venham a ser maior. Porém, estudos desse tipo ainda são escassos por aqui.

Um estudo interessante, publicado em 2017 na revista Chest, instituiu a utilização de um protocolo de coleta de gasometria arterial como uma estratégia educacional na equipe das unidades de terapia intensiva, coletando gasometria arterial somente a cada mudança clínica aguda do paciente e previamente a decisão médica de qualquer intervenção associada à mudança de quadro clínico.

Dessa forma houve redução em quase 50% da coleta de gasometrias arteriais. Resultando em redução de custos totais em UTI, perdas sanguíneas e em ausência de impacto negativo nas condução das alterações clínicas dos pacientes. Sendo assim, vários guidelines e protocolos vêm surgindo para conter essa enxurrada de solicitação de exames, muitos deles sem necessidade.

É imprescindível hoje, no contexto de redução de custos e na busca de investimentos que realmente importam para melhora os cuidados dos pacientes, que mais estudos divulguem práticas racionais na utilização de exames complementares. O empenho da equipe médica em desenvolver protocolos que ajudem e conscientizem o time de profissionais envolvidos na assistência ao paciente também é fundamental. Não só em UTIs, mas em todo processo de cuidados da saúde.

Nunca fez tanto sentido resgatar o olhar semiológico ao doente, a visita à beira do leito, a observação atenta aos detalhes na história clínica para a tomada de decisão mais acertada aos nossos pacientes.

 

Para acompanhar mais textos como este, siga a Dra. ROBERTA FITTIPALDI e as tags TERAPIA INTENSIVA e PNEUMOLOGIA

 


Referências:

  • JAMA Intern Med 2017 Nov 13. Andrew S. Parsons, MD, MPH reviewing Valencia V et al.
  • Chest. 2017 An Educational Intervention Optimizes the Use of Arterial Blood Gas Determinations Across ICUs From Different Specialties: A Quality-Improvement StudyMartínez-Balzano CD et al.

 


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Roberta Fittipaldi é colaboradora da Academia Médica e professora do curso Ventilação Mecânica Online, uma um curso para se manter atualizado e ainda aprender de vez Ventilação Mecânica, com o intuito de melhorar a qualidade e segurança do paciente, intensivo ou não, que necessita de suporte ventilatório. 
É também doutora em Ventilação Mecânica pela FMUSP, especialista em Educação Medica pela Harvard TH Chan e médica intensivista das UTIs respiratórias do HIAE e Incor.

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