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Um minuto de silêncio pelo ensino médico

Um minuto de silêncio pelo ensino médico
João Paulo
abr. 3 - 3 min de leitura
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O declínio do ensino médico no Brasil não é nenhuma novidade entre nós. O caos instalou-se durante os últimos anos, os conselhos nada fazem e os profissionais da área, menos ainda. Qual o preço necessário a se pagar por essa desunião? Valores irrisórios por plantões, desvalorização da imagem, desgaste do paciente, insegurança, declínio no ensino, má qualidade no atendimento. Será que o ego e o orgulho tomaram as rédias e os profissionais voltam-se apenas  para os seus interesses? 

Diante desse cenário, venho relatar mais um descaso com a educação médica no País e gostaria que os colegas de profissão tivesse conhecimeto do que se passa.

Meu objetivo é retratar a situação de uma ilustre faculdade de Medicina no interior de São Paulo, a qual conta com a gestão de um generoso senhor que visa apenas $aúde pública, desde que seus alunos paguem em dia os quase 9 mil reais de mensalidade.

Nesta faculdade foram abertas 500 vagas (isso mesmo: quinhentas vagas!) destinadas ao curso de Medicina para o primeiro ano letivo. Isso em uma cidade com cerca de 70 mil habitantes, sem demanda, sem leitos, sem hospital próprio; com uma Santa Casa em estado deplorável e uma faculdade sem a mínima estrutura física necessária para tanto. 

Seria espantoso se o próprio MEC não tivesse autorizado. Mais espantoso ainda seria se o senhor Ministro da Saúde não fosse um engenheiro que 'sabe tudo' sobre saúde. E, melhor que isso: recentemente o generoso reitor recebeu a medalha Oswaldo Cruz oferecida pelo excelentíssimo Presidente da República por seus ilustres serviços prestados à saúde pública (um momento de palmas para ele).  

Se possível, gostaria que alguém listasse o que foi feito de ilustre. Qual a finalidade disso? Redistribuição de médicos pelo País? Com certeza é o que não vai acontecer.

Nos falta uma forte representação, nos falta humildade para aceitar o declínio e impedir o caos. Uma medicina vermelha tem se instalado de forma radical nos últimos anos no País, e não podemos aceitar isso.

Precisamos de uma classe unida, com ideais e sem prostituição profissional por trocados. Aceitar trabalhar em locais que oferecem cerca de R$350 por plantão de 12 horas para médico generalista, ou em outros que ofertam um salário mínimo por 40 horas semanais aos especialistas é o mesmo que rasgar nosso diploma.

Em uma comparação paradoxal, verifiquei que juízes federais programaram movimentos de paralisação em estados brasileiros como forma de protesto para não perderem o auxílio-moradia. E o que nós médicos estamos fazendo para conseguir trabalhar em boas condições, com tabelas atualizadas, longe de uma situação de profissionais mal valorizados? Vale a reflexão. 

Sem medidas efeitivas, o que já não está bom vai piorar de forma catastrófica nos próximos anos. Aos estudades que estão começando, o mínimo que se espera é que eles possam receber uma preparação que garanta o bem-estar para o paciente com qualidade no atendimento. E, para aqueles que passam anos estudando, o mínimo que se espera é condição adequada de trabalho.


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