Quanto tempo dura nossos anticorpos contra o Sars-CoV-2?
Até então achava-se que os anticorpos duravam pouco tempo, tanto que os casos de reinfecção ocorriam entre 6 a 12 meses depois de uma infecção prévia, dando sinais de que a imunidade já não estava mais habilitada a proteger a pessoa contra a infecção.
As amostras de titulação de anticorpos de pacientes convalescentes (em recuperação) mostrava até então que os níveis de anticorpos decresciam rapidamente alguns meses após a infecção, sugerindo portanto que a imunidade contra o novo coronavírus estaria sendo zerada com o tempo.
No entanto, amostras coletadas por outros estudos posteriores começaram a mostrar que a curva de declínio dos anticorpos passava a ser mais branda.
E esse estudo buscou mostrar que em pacientes convalescentes 7 meses pós infecção por Sars-CoV-2 linfócitos B de memória ainda estariam presentes. Além disso, células de longa data produtoras de anticorpos estariam presentes na medula óssea.
Desenho do estudo
Amostras de sangue foram coletadas em uma data próxima a 1 mês após o aparecimento dos sintomas de 77 pacientes convalescentes, a maioria dos participantes do estudo tiveram uma infecção de nível moderado, tendo sido 7.8% deles hospitalizados.
Outras 3 amostras de sangue foram coletadas com 3 meses de intervalos entre cada uma delas.
12 dos pacientes receberam a vacina BNT162b2 ou a vacina mRNA-1273 SARS-CoV-2 no período que envolveu as últimas duas coletas. As amostras pós-vacinação não foram incluídas na análises.
Aspirado de medula óssea foi coletado de dezoito dos participantes 7 a 8 meses após a infecção e dentre os 18, 11 deles foram indivíduos saudáveis sem histórico prévio de infecção pelo novo coronavírus nem mesmo a vacinação contra o mesmo vírus.
O aspirado de medula óssea foi coletado depois de um tempo de 5 dos 18 pacientes e além desses 1 outro voluntário se dispôs a doar sua medula óssea para estudo, lembrando que essa coleta foi feita 11 meses após a infecção.
Resultados
74 dos 77 convalescentes tiveram títulos detectáveis de IgG contra SARS-CoV-2 após 1 mês do início dos sintomas. Entre 1 a 4 meses após o início dos sintomas, os títulos de todos os participantes passaram a decrescer para IgG antiproteína S. (Spike-vide estrutura do SARS-CoV-2).
Para verificar a veracidade dos resultados eles analisaram a secreção de IgG e IgA específicos para proteína S em pessoas controle e convalescentes e em 15 e 9, respectivamente, dos 19 convalescentes teve presença enquanto que não houve em nenhum dos 11 do grupo controle, lembrando que o número está abaixo do n total do estudo porque a análise de medula óssea não foi feita em todos os participantes.
Outro ponto importante do estudo foi que nenhum participante convalescente teve plasmócitos circulantes, indicando que realmente as células secretoras de anticorpos eram provenientes da medula óssea.
Conclusões
Como verificado pelo estudo, ao menos em pacientes que desenvolveram uma infecção moderada, tais pacientes permanecerão com uma imunidade de longa duração, como confirmada pela coleta de medula óssea em pacientes e controles.
Discussão
Esses dados mostram um novo paradigma em relação ao que pensamos em relação à imunidade adquirida pelo contato com o novo coronavírus, sendo que nosso organismo poderá lutar até 7 meses depois com duas linhas de proteção, tanto as células de longa data produtoras de anticorpos assim como os linfócitos B circulantes.
Observações:
O estudo sempre comparou os resultados de titulações com os resultados obtidos em relação ao vírus da influenza.
Para ler o primeiro artigo que confirma que a imunidade adquirida quando entramos em contato com o novo coronavírus é de longa duração clique aqui.
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Por Yan Kubiak Canquerino - Colaborador da Academia Médica
Referências
Kaneko N, Kuo HH, Boucau J, et al. Massachusetts Consortium on Pathogen Readiness Specimen Working Group. Loss of Bcl-6-Expressing T Follicular Helper Cells and Germinal Centers in COVID-19. Cell. 2020 Oct 1;183(1):143-157.e13. doi: 10.1016/j.cell.2020.08.025. Epub 2020 Aug 19. PMID: 32877699; PMCID: PMC7437499. Acesso em: 04/06/2021.
Turner, J. S. et al. SARS-CoV-2 infection induces long-lived bone marrow plasma cells in humans. Nature https://doi.org/10.1038/s41586-021- 03647-4 (2021). Acesso em 04/06/2021.