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O bolo e os famintos: o maior problema da saúde

O bolo e os famintos: o maior problema da saúde
Carlos Eduardo Bernini Kapins
jan. 31 - 3 min de leitura
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Esses dias estava lembrando um episódio bem interessante. Em São Paulo, desde 1985, o aniversário da cidade passou a ser comemorado no bairro do Bexiga com um enorme bolo que crescia todos os anos. Idealizado por Armando Pugliese, que era o presidente da escola de samba Vai-Vai, a comemoração com o bolo de São Paulo transformou-se em um evento que demonstrava a receptividade e as tradições da população do Bexiga (quem quiser saber um pouco da história, e também se divertir, o livro Brás, Bexiga e Barra Funda é uma boa sugestão).

Pois bem, essa festa era razoavelmente tranquila, até que quebrou o recorde mundial. As notícias em todos os jornais e revistas, publicidade e fama não acabaram bem. O que se viu nos anos seguintes, foram recordes batidos e centenas de pessoas literalmente repartindo o bolo de forma selvagem, tentando pegar a maior fatia possível. É claro que faltaria bolo para tantos participantes do evento.

Podemos dizer que estamos com um problema semelhante a esse na saúde. Nas últimas décadas, mais e mais pessoas se interessaram pelo bolo, mas ele não conseguiu crescer na mesma velocidade.

Talvez isso não seja algo exclusivo da saúde, mas é a área que mais tem refletido esse problema. Uns culpam os médicos, outros as OPMEs, alguns acham que o maior problema são as perdas do sistema (perdas morais e imorais), a maioria dos profissionais culpam os administradores. No final, um culpa o outro, mas o problema da saúde está longe de ser resolvido pois o bolo não tem acompanhado a fome daqueles que o querem comer.

E isso tende a piorar; não há como resolver! 

Vamos aos fatos aqui no Brasil: 

  • Aumentamos as faculdades de medicina, enfermagem, fisioterapia, etc, mas o bolo não cresce tão rápido.
  • Aumentamos o número de gerentes, auditores, investidores, etc, mas falta fermento para este bolo.
  • Aumentamos o preço da pesquisa de novas tecnologias, novas burocracias, etc, e adivinhem: o novo pedaço do bolo não saiu do forno.

Como sempre, nós temos a tendência de colocar o dedo em riste apontando os nossos candidatos a responsáveis por isso, mas, de fato, todos somos responsáveis! E, simplesmente por ter entrado nesse jogo, somos mais um dos famintos pelo bolo. Para piorar, estamos jogando jogos infinitos, com estratégias para jogos finitos.

Não pense que isso está acontecendo somente aqui no Brasil. O fenômeno é mundial. Sistemas da saúde, inclusive aqueles que pensávamos ser moldes a se espelhar, estão quebrando ou estão com sérios problemas.

A conclusão de tudo isso é que por mais que o bolo cresça, ele nunca cresce suficientemente para saciar a fome daqueles que querem uma fatia do mercado da saúde.

 


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