Xícaras tinindo, luz agradável, um pequeno murmurinho de conversas ao fundo e o som do borbulhar das máquinas de café. Esse cenário, quase edênico, é confortável e particular a muitos brasileiros, seja na cafeteria ou na mesa de casa, o cafezinho sempre esteve, está e estará presente no nosso cotidiano, seja ele coado, expresso, em grãos, em pó, com ou sem leite.
Há os que digam que é possível caracterizar os povos por alguns produtos típicos, sem dúvida esse é o caso do café brasileiro. Não existe bebida mais característica para a população desta Terra de Santa Cruz do que o “ouro verde”, denominação dada pelos empreendedores do século XIX ao grão. Em face da sua importância fora imortalizado na bandeira do Império Brasileiro (1822 – 1889), nos costumes da sociedade burguesa da época, na nossa belíssima literatura brasileira e no cotidiano da grande maioria da população.
Esse ritual deslancha, segundo a historiadora Ana Luiza Martins, a partir de 1450, advindo da cultura árabe-islâmica. O coffea arábica, trazido pela primeira vez por Francisco de Melo Palheta, de forma pouco ortodoxa e dúbia, da Guiana Francesa mudou radicalmente o trajeto do Brasil e da saúde do brasileiro.
Esse costume diário trouxe impactos na saúde dos consumidores, dentre eles pode-se citar a função de inibição que a cafeína exerce sobre o receptor de adenosina, associado com a sensação de cansaço e fadiga. Segundo uma revisão de literatura de 2017 “The Impact Of Coffee On Health”, novas abordagens em estudos epidemiológicos projetam que o consumo de café pode ajudar a prevenir várias doenças crônicas, incluindo diabetes mellitus tipo 2 e doenças hepáticas, além disso, estudos de coorte também não encontraram que o consumo de café estivesse associado com significativo risco de aumento com doenças cardiovasculares.
Por detrás daquela bebida envolta em uma cortina de aromas, que contém mais de 800 substâncias voláteis, pode-se encontrar polifenóis, cafeína, ácidos clorogênicos, álcoois diterpenóides, entre outros compostos. Em artigo publicado na Food Science and Nutrition, os autores, após uma vasta revisão de literatura, afirmaram que foram encontradas muitas associações que a cafeína, por exemplo, reduz o risco de desenvolvimento de doenças, os ácidos clorogênicos e álcoois diterpenos apresentam benefícios como substâncias antioxidantes e quimio-preventivas, todavia, o mesmo estudo já apresenta uma associação do café com o aumento no níveis séricos de homocisteína e colesterol, portanto, com efeitos adversos ao sistema cardiovascular.
Em 2013, após a revisão de 159 trabalhos científicos, um outro estudo homônimo ao citado anteriormente, “The Impact Of Coffee On Health” vinculado ao portal ScienceDirect, trouxe como resultado novamente os benefícios do café na redução de diabetes, doenças hepáticas e aparente efeito protetor na Doença de Parkinson e um fator de risco em debate acerca da osteoporose. Sobre as doenças cardiovasculares, arritmias ou insuficiências cardíacas afirmou parecer não serem influenciadas pela ingestão do café.
Então, o café, é herói ou vilão? Em uma leitura madura do método cientifico seja para história, seja para a medicina, não existem heróis e vilões. Existem evidências. Uma construção de estudos que vão se substituindo sob a luz do tempo. Interpretar o café como carrasco da saúde ou mocinho é subestimar toda a complexidade entorno da realidade, cabe a cada sujeito entender qual a sua realidade. Existem, de fato, efeitos adversos e contraindicações médicas a depender de cada caso, a título de exemplo, pessoas com insônia.
Assim sendo, seja com açúcar ou com adoçante, o santo cafezinho brasileiro é elucidado com o tempo acerca dos seus potenciais benéficos e fatores de risco. Sempre com moderação, o líquido protagonista no café da manhã dos brasileiros permanece vivo e revigorante na nossa vida, assim como na história do nosso país.
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