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O caminhar do ensino médico no Brasil

O caminhar do ensino médico no Brasil
Fernando Carbonieri
jul. 29 - 5 min de leitura
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Ao começar minha leitura diária dos jornais na manhã de hoje deparo-me com um texto do atual Ministro da Saúde do Brasil , Artur Chioro.

Em tom ufanista e peculiar a todo integrante deste Governo populista, o texto para a seção "Opinião" da  Folha copia o mesmo já dito por Padilha e Dilma durante este 1 ano de Mais Médicos. Ou seja, Blablablás que não dizem em que condições querem criar as mais de 11 mil vagas nas faculdades de medicina e nas Residências Médicas. Leia este texto AQUI.

Abaixo trago o texto do professor Antonio Celso Nunes Nassif, publicado no número corrente da Revista do Médico Residente. O Doutor Nassif, há anos pesquisa a explosão do número de escolas médicas no país e a recorrente incapacidade do MEC em avaliar e controlar a formação médica. Diferentemente das atitudes impostas pelo tal governo, sua análise é pautada sim na transparência dos erros e na propagação das escolas caça-niqueis, que aumentaram exponencialmente nestes últimos 12 anos. O Texto a seguir integra o Editorial do atual número da Revista do Médico Residente.

O caminhar do ensino médico no Brasil

Antonio Celso Nunes Nassif*

Ex- professor adjunto e livre docente da UFPR. Foi presidente da Associação Médica Brasileira.

"A esperança enxerga o invisível, sente o intangível e alcança o impossível"

A década de 60 foi marcada por uma posição política inconsequente que atingiu, deliberadamente, o ensino médico, com suas repercussões desastrosas no exercício da profissão.

Eram 29 as escolas de medicina no país, passando a 73 em 1971. Ao mesmo tempo, nas escolas mais antigas, o número de vagas, praticamente, dobrava chegando a quase 9.000. No governo Collor, o então ministro Carlos Chiarelli “conseguiu” aumentar em 10% o número de vagas nos cursos superiores. Isto significou aproximadamente mais 800/ano, ou, se quiserem o equivalente à criação de 10 cursos de medicina com 80 vagas.

Ainda mais, na última semana da presidência de Itamar Franco, seis universidades novíssimas foram criadas, dezenas de cursos foram autorizados e credenciados. Assim, em fins de 1999 nosso país esbanjava 101 escolas médicas.

É como afirmou o senador Darcy Ribeiro: “O Brasil é o único país do mundo que permite ao sujeito criar uma escola – como uma padaria ou açougue – para ganhar dinheiro”.

E nos dias de hoje, ao que tudo indica, a medicina e os médicos brasileiros caminham “ladeira abaixo”. O MEC, só neste inicio de século autorizou a criação de 128 novos cursos colocando nosso país, com 229 escolas médicas, no segundo lugar do ranking mundial perdendo apenas para a Índia (381), mas, deixando para trás a China com 150 e os EUA com 141 escolas médicas.

Em 1988, no Parecer N.SR-78, o então Consultor Geral da República Saulo Ramos escreveu: “A educação, direito de todos e dever do Estado, não pode ser transformada, sobretudo nos cursos superiores, em simulacro diplomado. A sociedade deseja médico que saiba medicina, que se tenha preparado cientificamente para cuidar da saúde do povo e que não seja, pela precariedade do ensino improvisado na industrialização de diplomas, uma ameaça à vida do paciente, assim como o advogado mal formado é ameaça ao patrimônio e à liberdade individual, e o engenheiro, sem curso sério, é candidato a construir obras que desabarão.”

Pelos favores políticos feitos a alguns é que nos estão saindo médicos fabricados no afogadilho de fins de semana, médicos sem a residência em escolas que não contam com hospitais; médicos - o que é sumamente grave - a quem se confere um diploma pela simples quitação das mensalidades para com as respectivas "faculdades". Não se fala, por exemplo, sobre a ausência de habilitação do médico, que é mal muito maior para a sociedade. Por esses favores é que hoje se distribui a incompetência, a irresponsabilidade e o descaso pela vida humana.

Inexiste, no atual governo, a determinação política para o cumprimento de uma exigência mínima: o respeito pelo papel social do médico, a reclamar o máximo de escrúpulo na qualificação, e uma pequena dose de pudor, diante desse desajuste entre faculdades de Medicina em excesso e carências de saúde em constante aumento e deterioração.

O que não se pode permitir é o desabamento da estrutura do ensino brasileiro, com a criação de cursos de medicina sem mínimos recursos, sem hospital na região, sem corpo docente, sem estrutura adequada. O dever do Estado é ministrar a educação e, no curso superior, assegurar o conhecimento científico que irá, efetivamente, beneficiar a comunidade. “O simples diploma não cumpre esta finalidade, antes, seria um estelionato contra a sociedade e uma grave lesão à teologia constitucional”.

A Revista do Médico Residente é uma publicação aberta do CRM-PR, dirigida pelo Doutor João Carlos Simões, da qual tenho o prazer de integrar o corpo editorial.


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