Antes da rápida evolução da pandemia no país, a telemedicina era restrita a casos específicos, como na prestação de suporte diagnóstico ou terapêutico de maneira remota, mas com a presença de outro médico junto ao paciente, e também na emissão de laudos a distância, por exemplo. Com as medidas de restrição à circulação da população, muitos pacientes se viram desamparados e receosos de buscar os serviços de saúde e os profissionais de saúde começaram a ficar preocupados por não poderem estar acompanhando seus pacientes da maneira adequada.
O Ministério da Saúde e o Conselho Federal de Medicina regulamentaram, de maneira provisória, o exercício da telemedicina no Brasil há poucos meses. Por meio de leis, decretos, regulamentações e portarias, são permitidas as modalidades de teleorientação, telemonitoramento, teleinterconsulta e teleconsulta. Esta prática está, agora, presente em consultórios particulares e até mesmo no SUS, facilitada pela quase onipresença de smartphones no território nacional. Ao redor do mundo, a prática da telemedicina também é recente, o que justifica o fato de haver poucos estudos sobre o tema.
Com o isolamento social causado pela pandemia, um fato que foi muito observado na sociedade como um todo foi a utilização das ferramentas tecnológicas para aproximar as pessoas de amigos, entes queridos, fazer reuniões e, assim, minimizar um pouco possíveis sentimentos ruins de angústia, ansiedade, saudades, solidão, entre outros. Olhando por essa perspectiva, a telemedicina veio como mais uma ferramenta para, neste caso, aproximar pacientes e profissionais de saúde. Antes mal vista por muitos, a prática agora é considerada imprescindível para que muitos cheguem ao final da pandemia com saúde. Neste âmbito, tem-se que a relação individual médico-paciente é sabidamente base da prática médica, e, independentemente do meio através do qual a consulta ocorre. Mas fica o desafio: como manter uma boa relação com outra pessoa com uma tela como obstáculo?
Ao me deparar com este questionamento, busquei em diversas fontes por uma possível resposta. Em meio a artigos que concluíram que não é possível, ou estudos que demonstram que a telemedicina é provisória e não consegue prover uma boa relação médico-paciente, resolvi ter uma conversa com meu professor de Propedêutica, o Dr. Miguel, com quem aprendi e continuo aprendendo tanto sobre a arte da medicina. Também devido ao isolamento social, nosso encontro teve de ser online, e não foi nada menos rico, impactante e transformador do que quando batemos um papo ao vivo.
Cheguei à conclusão de que resposta para aquela pergunta é: da mesma maneira como se estivessem frente a frente. A boa conduta em uma relação com o paciente deve ser a mesma sempre, com flexibilidade para adaptar-se às peculiaridades de cada situação. Obviamente a telemedicina jamais poderá substituir a consulta tradicional, em especial pela impossibilidade da realização do exame físico. Porém, estar aberto a ouvir as queixas do paciente e discutir condutas terapêuticas, transmitir carinho, compreensão, comprometimento, compaixão, calor humano, manter uma linguagem corporal positiva, assegurar a garantia dos direitos do paciente a segurança, autonomia e privacidade e ter empatia são características que devem estar presentes em qualquer consulta médica.
Se profissionais de linha de frente da luta contra a COVID-19 conseguiram descobrir maneiras de “sorrir” através de máscaras nas enfermarias, ambulatórios e UTIs, os médicos que utilizam a ferramenta da telemedicina podem também encontrar maneiras de “tocar” seus pacientes através da tela.
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