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O Médico Militar de Carreira

O Médico Militar de Carreira
Rodrigo Rocha Correa
ago. 8 - 10 min de leitura
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Muitos almejam passar 1 ano em algum quartel pelo Brasil sendo Tenente Médico, prestando um serviço de caráter temporário. Neste texto o foco é a carreira militar no Exército Brasileiro, cuja experiência resolvi relatar a vocês.

Em um primeiro momento há de se ter em mente que essa profissão (militar) não é para quem quer, e sim para quem tem vocação! Mesmo na área da Medicina Militar, algumas atitudes relativas ao militarismo terão de ser executadas. A obediência aos preceitos de hierarquia e disciplina (pilares que sustentam e solidificam a conduta militar) são aplicados diariamente e há a necessidade de se adaptar a tal condição extraordinária, principalmente a algumas pessoas acostumadas a alguns melindres da vida civil. Civismo e o sentimento de patriotismo devem estar no cerne de cada militar.  Dessa forma, alguns colegas médicos não se acostumam com tais regras e acabam pedindo baixa (em sua maioria temporários). Para estes, a saída do Exército Brasileiro se faz de forma mais maleável, ao contrário do que ocorre com os médicos de carreira.

Alguns pontos positivos e negativos devem ser analisados, a saber:

PONTOS POSITIVOS:

  • Se você é um indivíduo que gosta de seguir regras e implementá-las na prática, este é o local certo. No dia-a-dia da caserna somos regidos por uma gama de manuais e instruções reguladoras e, o amplo conhecimento destas se faz necessário para embasarmos nossos argumentos em caso de questionamentos de superiores (principalmente os combatentes), que certamente ocorrerão. Como diria Thomas Hobbes, “ Conhecimento é poder”
  • Apesar de cada vez mais os recursos às Forças Armadas serem escassos, as instalações de saúde, em sua maioria, são bem organizadas e cuidadas, se comparadas com as insalubres UBS e hospitais no meio civil. Sim , há  situações de falta de material e medicamento, porém o ambiente de trabalho seguido da hierarquia e disciplina são fatores que fazem o trabalho render.
  • Há o plano de saúde do Exército, denominado FuSEx(fundo de saúde do Exército), onde é descontado do soldo (salário) de 3 a 3,5 % mensalmente, dependendo do número de dependentes cadastrados (há legislação específica). Como todos os planos de saúde, não é perfeito, porém se você necessitar de procedimento cirúrgico ou um período de convalescença maior, a sua remuneração estará em sua conta todo primeiro dia útil do mês, ao contrário do meio civil em que o médico é praticamente proibido de ficar doente, se não perde muito dinheiro.
  • Oportunidade de conhecer diversos lugares pelo Brasil através de apoio em missões. Se houver o deslocamento para fora da cidade em que estiver servindo, há o pagamento de gratificação por representação, que consiste em 2% do soldo ao dia. Se formos analisar criteriosamente, não é lá aquelas coisas, mas é melhor do que ficar alguns dias longe de casa sem ganhar nada por isso.
  • O soldo, por mais injusto que seja( não só para nós médicos, mas para todos os militares), estará depositado em sua conta todo primeiro dia útil de cada mês. Dependendo do local que sirva, há um adicional de localidade ; se for na região amazônica, mais 20 %. Em algumas cidades de fronteira, paga-se 10 % a mais. Logo abaixo o soldo líquido para cada patente. No caso dos médicos de carreira, inicia-se com o posto de 1º Tenente.
  • Progressão na carreira: ao sair da Escola de Saúde (detalhes logo abaixo) , o médico já sai com a patente de 1º Tenente, podendo alcançar o posto de General-de-Divisa (geralmente o Diretor de Saúde). Conforme as promoções vão ocorrendo, o soldo vai se elevando, porém não com valores muito altos. O que aumenta é a responsabilidade, pois é previsto no Exército o médico de carreira comandar/dirigir postos médicos e hospitais, sendo que dessa forma a burocracia e a parte administrativa podem se sobrepor à atuação médica.
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PONTOS NEGATIVOS:

  • Missões inesperadas:  pode ocorrer de última hora você ser escalado para missões de acampamento ou apoio de saúde em manobras ou instruções de tiro e, se tiver um plantão naquele exato dia , há a necessidade de trocar ou até perder essa oportunidade de ganhar um dinheiro extra.
  • Remuneração baixa: infelizmente não só para nós médicos, mas também para os combatentes, o soldo está defasado em relação aos das Forças Auxiliares , o que é inconstitucional. Realmente deveríamos ganhar mais pela importância que temos no âmbito da soberania nacional. Mas nem tudo são trevas. No nosso caso, podemos complementar trabalhando no meio civil através de plantões e PSF , por exemplo.
  • Burocracia: um dos fatores que mais incomodam os médicos militares, visto que por vezes a medicina fica de lado. Geralmente , os médicos de carreira que não têm especialidade vão para a tropa (batalhões/quartéis) e são nomeados chefes das seções de saúde; e com o cargo vêm responsabilidades e diversas missões burocráticas que envolvem a parte administrativa e assinatura de vários papéis ao dia. Para quem gosta da área pericial, há diversas perícias médicas a serem realizadas com o intuito de verificação de capacidade laborativa, controle periódico de saúde, concessão de benefícios como isenção de imposto de renda, etc.
  • Expediente: na maioria das OM´s (organizações militares) e OMS (organizações militares de saúde) ,o expediente para os médicos são executadas em meio período, ou seja, pela manhã ou à tarde. Este item está classificado como ponto negativo porque pode ocorrer de alguns comandantes de unidades militares exigirem que o médico cumpra o período integral, impossibilitando algumas vezes o trabalho no meio civil. Vale lembrar que o meio expediente é uma concessão, não regulamentada, porém orientada pelo escalão superior para que não haja baixas excessivas.
  • Mudança de cidades: com o intuito de conhecer mais detalhadamente nossa Pátria, o Exército costuma movimentar seus militares frequentemente. No caso dos combatentes, esse período pode variar, mas geralmente eles mudam a cada 3 anos (já vi casos em que a pessoa ficou 10 anos na mesma cidade). No caso dos militares de saúde, esta situação é um pouco melhor, variando de 5 anos ou mais. O meu conselho é de quem for seguir a carreira militar não criar fortes raízes na cidade, principalmente iniciar consultório particular. Conheço diversos casos, até de Majores Médicos pedirem baixa (saírem do EB), pois foram movimentados e tinham criado um vínculo muito forte na cidade de origem, inclusive com consultório particular. Por isso sempre digo, há de se abraçar esta carreira e ter a mente livre. E claro, VOCAÇÃO!

Aos interessados, vamos lá! Como se dá o pontapé inicial para seguir esta tão bela carreira?

O processo inicia-se através da realização de concurso público para a Escola de Saúde do Exército(EsSEx), localizada no bairro de Benfica, cidade do Rio de Janeiro-RJ. Geralmente este concurso é realizado no mês de setembro e , além da parte teórica, deve-se fazer o teste de aptidão física contendo corrida, barra fixa, flexões e abdominais. O curso tem a duração de 9 meses, com início no mês de março e término no mês de novembro, sendo necessária a confecção de TCC (trabalho de conclusão de curso) para a conclusão , visto que o curso é considerado uma pós-graduação. Para quem não quiser gastar muito com moradia (os aluguéis no Rio são exorbitantes), há a possibilidade de residir nos alojamentos da Escola e se alimentar lá. O acesso ao metrô é fácil e fica no final da rua da EsSEx.

Até o ano de 2010, a Escola aceitava somente médicos que tinham determinadas especialidades; no entanto, para estimular a entrada de médicos no Exército Brasileiro, houve a criação de mais vagas para os sem especialidade (modalidade a qual me incluo). Você pode me perguntar: quando farei minha residência médica ou especialização? Pensando nisso, a Diretoria de Saúde do Exército criou o Programa de Capacitação e Atualização dos Militares de Saúde (PROCAP/Sau) , onde o médico sem especialidade passará 2 anos atuando como 1º Tenente e, logo após esse período, está apto a concorrer às especialidades oferecidas pelo Hospital Central do Exército ou realizar Residência Médica no meio civil, se o curso for de interesse da Força. Ultimamente a D Sau (Diretoria de Saúde) está autorizando todos a fazerem sua especialização. Portanto, em relação a este quesito, fico mais tranqüilo. Para saber mais informações acerca do concurso e do PROCAP/Sal, solicito a todos acessar o site da Escola de Saúde do Exército ou da Diretoria de Saúde do Exército Brasileiro.

Alguns links interessantes de vídeos seguem abaixo, como o vídeo da formatura final da Escola e um vídeo institucional do HCE (Hospital Central do Exército), o maior hospital do Exército Brasileiro.


- Formatura final do curso, este de 2013.

 

- Vídeo institucional do HCE (Hospital Central do Exército)


Concluindo, espero ter ajudado a todos a conhecerem melhor esta bela carreira (apesar dos pós e contras) de médico militar e qualquer dúvida, mandem uma mensagem através do e-mail : rrcmed@hotmail.com , onde terei os prazer de responder as mais variadas dúvidas e questionamentos.

*  *Rodrigo Rocha Correa é Médico Graduado pela UEM (Universidade Estadual de Maringá) e 1º Tenente do Exército Brasileiro,Chefe da Seção de Saúde do 30º Batalhão de Infantaria Mecanizado, localizado em Apucarana-PR. Gentilmente colaborou com o Academia Médica ao expor essas importantes informações ao médico brasileiro.

Se você também tem algum texto para enviar ao Academia Médica, escreva para contato@academiamedica.com.br e conte também o que a faculdade de medicina esqueceu de nos contar.


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