Desde que o mundo é mundo, os seres humanos passam por mudanças, sejam elas evolutivas, físicas, psicológicas ou comportamentais.
Durante esse momento de quarentena que estamos vivendo, o simples fato de termos diminuído nossa correria diária (com exceção dos profissionais que estão como linha de frente para o tratamento e contenção do COVID-19, e a eles, toda a nossa gratidão!), muitas pessoas estão tendo tempo de fazer uma autorreflexão, se conhecer mais, avaliar coisas positivas e negativas do seu entorno, e de seus comportamentos.
Diante disso, para que ocorra uma mudança em nossos comportamentos, é preciso passar por estágios de motivação, que foram descritos pelos psicólogos James Prochaska e Claro DiClemente no ano de 1982. Eles elaboraram o Modelo Transteórico de Mudança (MTT), que visa compreender como ocorre a mudança de uma determinada conduta viciante.
As redes sociais e outras mídias têm tomado grande parte do nosso dia a dia, principalmente dos acadêmicos que estão sem aulas ou que estão com aulas online e/ou com com carga horária diminuída.
E com esse tempo, muitas vezes ocioso, conseguimos avaliar muitas atividades que não fazemos, como por exemplo, exercícios físicos. Atualmente o comportamento e as atitudes para uma vida mais saudável têm sido amplamente divulgados, o que é ótimo! A maioria das pessoas sabe da importância e dos benefícios que a atividade física e uma alimentação equilibrada.
Um dos pontos mais importantes a ser evidenciado é que a população, nas ultimas décadas, principalmente a população brasileira, está em processo de envelhecimento, e junto a esse fato há a mudança na exposição a fatores de riscos relacionados às doenças crônicas não transmissíveis, principalmente as doenças cardiovasculares[3].
As doenças cardiovasculares constituem a principal causa de morte e incapacidade na maioria dos países. Possui origem multifatorial e fatores não-modificáveis, como idade, sexo e individualidade biológica; e também, fatores modificáveis, relacionados ao estilo de vida, como tabagismo, inatividade física, consumo abusivo de substancias como álcool, e consumo alimentar inadequado.
No Brasil, os fatores modificáveis são responsáveis por 80% dessas comorbidades [3].
Além das mudanças relacionadas à saúde física do corpo, outras são relacionadas aos diferentes hábitos, também estão fazendo parte da nossa nova rotina, como por exemplo: leitura, cozinhar receitas novas, meditação, aprender uma dança, atividades manuais como crochê, e no meu caso, aprender inglês (já escrevi a importância do conhecimento deste idioma, acesse por aqui).
Esse momento de autoconhecimento e reflexão nos possibilita criar um leque de oportunidades novas, e com isso é preciso entender como ocorre psicologicamente essas mudanças.
Dentre todas as mudanças, a estabilidade psicológica é uma condição muito cobiçada por todos, principalmente no caso dos acadêmicos. O ingresso na faculdade gera tanto desafio e quanto dificuldades, o que acaba afetando diretamente a saúde psicológica dos alunos.
A faculdade exige muitas habilidades e muita cobrança sobre ser bem sucedido, alcançar notas boas e fazer um currículo ímpar. Toda essa adaptação é desafiadora, e o sofrimento e adoecimento psicológico nos acadêmicos acabam sendo destaque [4].
Por isso que nesse momento, entender e pesquisar sobre meios de diminuir a ansiedade e outras comorbidades psiquiátricas, é um bom método para aproveitar a quarentena e preparar seu psicológico para as dificuldades vivenciadas na trajetória universitária.
Claro que não é só na faculdade que essas alterações fazem-se presente. No meio profissional, o estresse e a correria diária, metas a cumprir, carga horária exaustiva e outros agravantes, também corroboram com danos psicológicos. Frente a isso tudo, a importância do autoconhecimento e da busca por mudanças que podem contribuir na qualidade de vida, é essencial.
Quem nunca ouviu um conhecido dizer: “a terapia mudou minha vida, faça!”. Acredito que muitos já se depararam com essa situação. Eu mesma fiz por um bom tempo, e sei que me ajudou muito a controlar a ansiedade, medos e angústias. Além disso, contribuiu para a minha aprovação tão sonhada no vestibular.
Para tal mudança comportamental, é preciso que a pessoa passe por estágios. O tempo em que cada um precisa para evoluir de um estágio para outro é dinâmico e individual, porém, as tarefas que devem ser realizadas, não.
É como se as pessoas devessem passar por uma “roda da mudança”, e o indivíduo devesse ir girando ao redor dessas etapas, várias vezes, para que assim alcance uma mudança estável.
Além de ser usado para modificação do comportamento, o MTT pode ser usado e tem grande potencial benéfico para a organização da vida diária [2].
ESTÁGIOS DE MUDANÇA
-Pré-Contemplação: o indivíduo não tem intenção de mudança e não tem consciência de que tem um problema. Por exemplo: ele não aceita que tem um vício. Para que ele possa evoluir para a próxima fase, ele precisa reconhecer seu problema e aumentar a consciência com relação aos seus aspectos negativos.
-Contemplação: nessa etapa, o indivíduo já tem consciência de quem tem um problema e está pensando em superá-lo. Porém, ainda não houve um compromisso em tomar medidas. Ele está começando a se preocupar com seu problema e se questionar. Começa pensar mais nos aspectos negativos e positivos sobre a mudança.
OBSERVAÇÃO:
Durante os estágios de pré-contemplação e contemplação é preciso que o indivíduo passe por processos cognitivos de mudança. Para isso, um psicólogo que vai intervir nessa mudança, precisa promover a problematização da situação, e para isto, ele faz uso dos seguintes processos cognitivos:
- Conscientização: sensibilizar o problema através da observação, confrontação, interpretação, feedback e materiais informativos.
- Catarse: nesse momento, o profissional estimula e capacita o indivíduo para experimentar a expressar seus sentimentos sobre os problemas.
- Avaliação Socioambiental: avaliação sobre como o problema afeta um ambiente físico.
- Auto Avaliação: abordagem com foco em como o indivíduo se sente e pensa sobre si mesmo, a respeito de seus comportamentos.
- Liberação Social: focada em aumentar o leque de alternativas para comportamentos não problemáticos.
-Preparação: momento em que já ocorre pequenas mudanças comportamentais, e o indivíduo se apresenta pronto para mudança, e com isso as atitudes e comportamentos o levam a buscar uma ajuda, seja por si mesmo ou profissional.
-Ação: já há mudança no comportamento, experimentos e ambientes, cujo objetivo é superar seus problemas. As mudanças são mais evidentes, e exigem compromisso de tempo e energia.
-Manutenção: momento de prevenir recaídas e de consolidação dos ganhos adquiridos durante toda a ação.
-Recaída: esta etapa encerra o estágio de ação ou manutenção e ocorre um movimento cíclico de volta, através de estágios iniciais como pré-contemplação ou contemplação.
-Término: o problema pode não ter desaparecido completamente e ainda pode haver recaídas. Ao chegar nesta etapa, não importa a situação que o indivíduo enfrente, ele não irá ceder à tentação de retornar ao comportamento antigo.
Enfim, seja através de terapia, ou individualmente, buscar a mudança que você quer para melhorar sua qualidade de vida é essencial!
Aproveite este tempo para fazer algo que sempre quis, mas que não tinha tempo, ou para aprender um novo idioma, meditar e praticar exercícios em casa ( há diversas vídeo-aulas na internet que ensinam atividades para serem feitas em casa, mas lembre-se de respeitar seu limite e a qualquer sinal de dor, interrompa o exercício imediatamente).
A Organização Mundial da Saúde, define a saúde como:
“um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”
Seja através da terapia, ou algo do seu jeito, tudo é válido quando queremos buscar a mudança nas nossas vidas.
“Seja a mudança que você quer ver no mundo” - Mahatma Gandhi
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Referências Bibliográficas
- LIMA, Ivanildo Inacio de. Modelo Transteórico de aconselhamento (MTT) no período de pré-adaptação de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI). 2011. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
- SUSIN, Nathália. O modelo transteórico de mudança aplicado às organizações. 2015.
- FERRARI, Tatiane Kosimenko et al. Estilo de vida saudável em São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 33, p. e00188015, 2017.
- RAMOS, Fabiana Pinheiro et al. Intervenções psicológicas com universitários em serviços de apoio ao estudante. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 19, n. 2, p. 221-232, 2018.