O que é necessário para abrir um curso de medicina?
Há muito tempo nos perguntamos sobre os pré requisitos mínimos para a abertura de um curso de medicina. O aparato necessário para receber alunos e formar os futuros médicos que irão cuidar da saúde do brasileiro é caro e complicado.
De acordo com as novas diretrizes curriculares do MEC para os cursos de medicina em seu 3º artigo:
O graduado em Medicina terá formação geral, humanista, crítica, reflexiva e ética, com capacidade para atuar nos diferentes níveis de atenção à saúde, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, nos âmbitos individual e coletivo, com responsabilidade social e compromisso com a defesa da cidadania, da dignidade humana, da saúde integral do ser humano e tendo como transversalidade em sua prática, sempre, a determinação social do processo de saúde e doença.
Mas o que é necessário para chegar ao produto final "Médico"?
Como todos sabem o curso de medicina é dividido em três etapas, cada uma com a duração de 2 anos. O ensino básico, o ensino clínico , e o profissionalizante (internato).
No ensino básico, aprendemos a anatomia geral (anatomia humana, neuro anatomia, biologia celular, histologia, embriologia, anatomia patológica, microbiologia, imunologia...), as relações físico-químicas do organismo humano( biofísica, bioquímica), as relações entre o homem e os processos de adoecimento (propedêutica, saúde coletiva, bioestatística, metodologia científica...).
No ensino clínico entramos em contato com o hospital. Lá aprendemos o básico das principais especialidades médicas. Matérias como a pediatria, clínica médica, cirurgia, ginecologia e obstetrícia, psiquiatria, geriatria e andrologia são os pilares de todo saber realmente médico.
No ensino profissionalizante aprofundamos o que aprendemos nas aulas práticas e teóricas dos 4 anos anteriores. Na presença de um experiente médico preceptor, rondamos os corredores do hospital aprendendo realmente como exercer o Ato Exclusivo do Médico.
Ao fim dos 6 anos de curso, em tese, somos aptos a fechar um diagnóstico e propor um tratamento dentro de uma ampla margem de segurança, sempre observando a qualidade de vida de nosso paciente.
E se os meios para se tornar um médico não existirem? Como formaremos nossos futuros colegas?
Não é de hoje que incentivados pelo Governo o Brasil vem abrindo novas escolas sem os mínimos recursos para funcionar. Na ânsia de obter votos para a situação, o MEC absteve-se de fiscalizar e cobrar das instituições de ensino superior a manutenção da dignidade do aluno que batalhou muito para um dia ser médico.
Motivados por isso, o editorial de hoje coloca o holofote em Cáceres - MT, onde funciona a Faculdade de Medicina da UNEMAT (Universidade Estadual do Mato Grosso).
Acadêmicos de medicina da UNEMAT em GREVE
Há algum tempo os alunos fazem requisições para a instituição pela estrutura mínima necessária a qualquer faculdade de medicina no mundo. Cansados de aguardar uma resposta adequada da instituição, os alunos entraram em GREVE.
Antes de listarmos as faltas da faculdade, gostaríamos de apoiar a causa dos acadêmicos das 5 turmas da UNEMAT. Vocês não são os responsáveis pela insulto que estão sofrendo dia-a-dia.
Quem deveria zelar pela boa formação de vocês lavou as mãos e os abandonou. Falamos da própria UNEMAT e do MEC. Deste último lamentamos profundamente seu zelo em proteger aqueles que deveriam fiscalizar e punir.
Saibam vocês, acadêmicos de medicina do Brasil (em especial da UNEMAT), que nos solidarizamos com seu sofrimento. Como todos que escolheram a medicina como profissão, e lutaram por isso, nos sentimos humilhados por tamanho descaso.
A faculdade de medicina da UNEMAT em cáceres iniciou suas atividades em 2012. Até o momento já abriu suas portas para 5 turmas que ainda não contam com:
- Qualificação de todos os professores para a metodologia PBL e educação continuada;
- Docentes com requisitos mínimos para cumprimento de carga horária;
- Contratação de recursos humanos administrativos;
- Disponibilização na biblioteca de bibliografia mínima recomendada – mínimo de três bibliografias com títulos de todas as áreas temáticas publicados em até cinco anos, excetuando-se os clássicos, atendendo adequadamente aos programas das disciplinas do Curso de Medicina, na proporção de 1 (um) exemplar para mais de 6 e até 8 alunos por turma;
- Regularização de convênios com instituições de saúde e prefeitura;
- Aquisição de peças anatômicas humanas;
- Cumprimento e reposição de aulas;
- Apresentação de projeto pedagógico completo e coerente;
- Disponibilização de identificação estudantil para atividades práticas;
- Oferta de vacinas para estudantes;
- Entrega e seguimento de plano de ensino;
- Revisão de critérios para seleção de vagas remanescentes;
- Criação da Faculdade de Ciências Médicas;
- Oficialização do Hospital Universitário;
- Acesso à base de dados acadêmicos e periódicos na área de Saúde;
- Disponibilização de internet wi-fi na Cidade Universitária;
A escola já está sob investigação do ministério público.
A mobilização dos estudantes também contou com o apoio de outros diretórios acadêmicos espalhados pelo Brasil, como o da UEL(Londrina - Pr), da ESCS (Brasília - DF) e UFMT - (Cuiabá - MT).
O Academia Médica apoia este movimento estudantil e declara-se favorável a causa dos acadêmicos e envergonhado pelos órgãos que deveriam fiscalizar e punir as faltas das instituições de ensino superior brasileiras.
Confira o Manifesto entregue pelos estudantes ao reitor da universidade.
http://sosmedicinaunemat.blogspot.com.br/2014/08/manifesto-de-greve-dos-estudantes-de.html
Faça parte desta causa, compartilhe e discuta os culpados de tamanha humilhação.
Acompanhe os andamentos da greve do estudantes de medicina da UNEMAT no blog SOS Medicina UNEMAT