*Nota do editor: a data original dessa publicação é 23/01/2020.
Antes mesmo de falar da revisão integrativa especificamente, é importante suscitar a real importância de uma revisão bibliográfica, seja para o crescimento cientifico de uma determinada área, seja para o conhecimento próprio e, consequentemente, profissional.
A revisão de literatura é o primeiro passo para a construção de um determinado conhecimento, pois é por meio desse processo que novas teorias surgem, assim como são reconhecidas as lacunas e oportunidades de pesquisa em um assunto especifico.
A revisão de literatura pode ser realizada de diversas maneiras e com variados objetivos. De acordo com Rother (2007), podemos subdividí-la em revisão narrativa ou sistemática, a qual também pode ser subdividida em sistemática, meta-análise, qualitativa e integrativa. Desse modo, fica notório que o processo de revisão não é tão simples como imaginamos.
Deve-se pensar, inicialmente, em qual o tipo de metodologia utilizar, quais os operadores booleanos são mais adequados e, posteriormente, as bases de dados a serem investigadas. Ou seja, se você fizer uma revisão bibliográfica com certa facilidade, pode ser que tenha algo de errado em sua metodologia (cientificamente, o método pode ser passível de vieses).
Agora sim vamos falar mais especificamente da revisão integrativa. Para Whitemore e Knafl (2005), o “termo integrativa tem, origem na integração de opiniões, conceitos ou ideias provenientes das pesquisas utilizadas no método", ponto esse que “evidencia o potencial para se construir a ciência”.
Uma boa revisão integrativa apresenta o estado da arte sobre um determinado tema, contribuindo para o desenvolvimento de teorias, sendo possível a inclusão de estudos metodologicamente diferentes (sejam eles experimentais ou não).
Assim como os outros tipos de revisão, a integrativa deve ser realizada com extremo cuidado em todo o seu percurso. Os métodos de busca devem ser claros e sistemáticos. Desse modo, a chance de obter um viés será a mínima possível. Por exemplo, ao se elencar descritores que não sejam específicos do tema ou pesquisar em poucas bases de dados, é possível que a revisão fique incompleta e não seja representativa.
Sabendo que as revisões bibliográficas não são simples, após o levantamento dos trabalhos (por intermédio dos descritores, operadores boolenanos e bases de dados abrangentes), deve-se fazer uma análise crítica dos artigos e síntese dos dados encontrados. De acordo com Redeker (2000), a revisão integrativa pode ser dividida em 5 aspectos principais:
- Definição: um sumário de literatura, em um conceito específico ou em uma área específica. Sendo os dados analisados e sumarizados, a fim de que seja extraída conclusão verossímil;
- Propósito: revisar métodos, teorias ou estudos empíricos sobre um tópico particular;
- Escopo: pode ser limitado ou amplo;
- Amostra: podem ser pesquisados estudos que sejam qualitativos ou quantitativos;
- Análise: deve ser narrativa.
Diante de um processo tão complexo, segue uma imagem que tornará mais simples a compreensão dos passos de uma revisão integrativa:
Etapas de uma revisão integrativa (Fonte: BOTELHO, CUNHA, MACEDO, 2011, p. 129).
Então vamos lá entender, resumidamente, como é realizada cada etapa explicitada na imagem anterior. Antes de começar com a 1ª etapa, deve-se cultivar um espírito de investigação (Etapa 0), ou seja, pensar em possíveis perguntas que seriam feitas diante da situação problema. Sendo essa etapa o alicerce da Prática Baseada em Evidências (PBE), a qual não cabe ser minuciada aqui, pois é passível de ter um texto específico só para isso.
Um exemplo prático dessa etapa 0, suscitado por Melnyk, Fineout-Overholt, Stillwell e Williamson (2010a, 2010b): “Pensem em uma situação, na qual pacientes com ferimentos na cabeça, estão posicionados em decúbito dorsal. Como a elevação em 30 graus da cabeceira da cama pode afetar a pressão intracraniana?” E, de acordo com os mesmos autores, sem o espírito de investigação os próximos passos da PBE estão fadados ao fracasso.
A próxima etapa a ser realizada é a identificação do tema, definição do problema e pergunta clínica em formato PICOT ou PICOD. Mas o que seriam essas duas últimas palavras? Bom, antes de mais nada devemos explicitar os objetivos desta etapa:
- Definir o problema;
- Formular uma pergunta clínica de pesquisa;
- Definir os descritores;
- Definir a estratégia de busca nas fontes de dados;
- Definir as bases de dados.
Agora, com os objetivos bem nítidos em nossa mente, vamos prosseguir para os formatos PICOT e PICOD.
- PICOT
- P: população alvo (em quais pessoas foi realizada a intervenção?);
- I: interesse da intervenção (como foi feita a intervenção?);
- C: comparar tipos de intervenção ou grupos (essa comparação é factível?);
- O: obter resultados e considerar os efeitos a serem alcançados com intervenção (quais os efeitos causados?);
- T: tempo necessário para realizar a intervenção.
- PICOD
A única alteração em relação ao PICOT é que ao invés de considerar o tempo (T) de realização da intervenção, deve-se considerar o desenho do estudo (D).
A segunda etapa tem como objetivo usar as bases de dados para buscar os artigos originais e, com isso, utilizar os critério de inclusão e exclusão. Algumas bases de dados que podem ser usadas são: MEDLINE, PUBMED, LILACS e portais nacionais, como BVS - Bireme e Portal de Periódicos CAPES.
Por conseguinte, a etapa 3 objetiva-se em avaliar criticamente as evidências dos estudos pré-selecionados e selecionados. Esse processo consiste em, de acordo com Pereira e Bachion (2006), classificar os artigos de acordo com tipo e força de evidência; níveis de evidência; nível do estudo e seus respectivos graus de recomendação; valor de evidência; hierarquia das evidências e categorização das recomendações.
A etapa 4 tem como principal objetivo a integração das evidências e visa a análise crítica e síntese de várias fontes. Com isso, será possível formar uma biblioteca individual com os artigos selecionados, analisar as informações neles contidas utilizando os critérios de validação e, consequentemente, categorizar os conteúdos que respondem à pergunta clínica de pesquisa.
As etapas 5 e 6 visam, respectivamente, discutir os resultados baseados em evidências e apresentação da síntese do conhecimento produzido (por meio de um artigo científico, por exemplo).
Portanto, percebe-se que a realização de uma revisão integrativa não é um processo fácil. Contudo, apesar de ser dispêndioso, se realizado adequadamente, pode trazer vários conhecimentos para a melhoria da prática clínica ou até mesmo ideias para pesquisas que possam sanar algumas dificuldades diárias dos profissionais de saúde.
Caso tenham se interessado nos passos de uma revisão integrativa, o Centro Crochane (2014) disponibilizam como deve ser a estrutura de uma revisão sistemática integrativa.
Para finalizar, deixo algumas orientações presentes no livro “Effectiveness and Efficiency Random Reflections on Health Services”:
- “Lembrem-se: a evidência confiável sobre uma intervenção, embora essencial para melhorar as decisões clínicas e as pesquisas, é apenas parte do que se necessita.”
- “Pesquisem, sempre que possível, as formas de intervenção que possuem efeitos desconhecidos, a fim de conhecer sua real utilidade.”
Referências
BOTELHO, Louise Lira Roedel; CUNHA, Cristiano Castro de Almeida; MACEDO, Marcelo. O MÉTODO DA REVISÃO INTEGRATIVA NOS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS. Gestão e Sociedade, Belo Horizonte, v. 5, n. 11, p.121-136, ago. 2011.
CUNHA, Pedro Luiz Pinto da; CUNHA, Cláudia Silveira da; ALVES, Patrícia Ferreira. Manual REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SISTEMÁTICA INTEGRATIVA: a pesquisa baseada em evidências. Belo Horizonte: Grupo Ănima Educação, 2014.
MELNYK, Bernadette Mazurek; FINEOUT-OVERHOLT, Ellen; STILLWELL, Susan B.; WILLIAMSON, Kathleen M. The Seven Steps of Evidence-Based Practice: Following this progressive, sequential approach will lead to improved health care and patient outcomes. American Journal of Nursing (AJN), jan.2010a, v. 110, n.1. p. 51-53. Disponível em: <http://download.lww.com/wolterskluwer_ vitalstream_com/PermaLink/NCNJ/A/NCNJ_165_516_2010_08_23_DGSODKGNM_1651_ SDC516.pdf>.
MELNYK, Bernadette Mazurek; FINEOUT-OVERHOLT, Ellen; STILLWELL, Susan B.; WILLIAMSON, Kathleen M. Asking the Clinical Question: A Key Step in Evidence-Based Practice. A successful search strategy starts with a well-formulated question. American Journal of Nursing (AJN), mar. 2010b, v. 110, n. 3, p.58-61. Disponível em: <http://download.lww.com/wolterskluwer_vitalstream_com/ PermaLink/NCNJ/A/NCNJ_546_546_2010_08_23_FGBKSPG_15616_SDC156.pdf>.
PEREIRA, Ângela Lima; BACHION, Maria Márcia. Atualidades em revisão sistemática de literatura, critérios de força e grau de recomendação de evidência. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 27, n. 4, p. 491, 2006.
ROTHER, Edna Terezinha. Revisão sistemática X revisão narrativa. Acta paul. enferm., São Paulo, v. 20,n. 2, jun. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 21002007000200001&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 03 mar. 2014. http://dx.doi.org/10.1590/ S0103-21002007000200001.
WHITEMORE, Robin; KNAFL, Kathleen. The integrative review: updated methodology. Journal of Advanced Nursing, 2005, v.52, n.5, p. 546–553, Blackwell Publishing Ltd. Disponível em: <http://users.phhp.u .edu/rbauer/ebpp/whittemore_kna _05.pdf>.