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O que muda no cuidado com o diabetes em 2025

O que muda no cuidado com o diabetes em 2025
Fernando Carbonieri
mai. 7 - 5 min de leitura
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A American Diabetes Association (ADA) publicou a versão atualizada dos Standards of Care in Diabetes—2025, agora também em um formato abreviado voltado para profissionais da Atenção Primária. O documento é extenso, criterioso e traz recomendações fundamentais para a prática clínica, com foco em rastreamento, diagnóstico, tratamento farmacológico, gestão de comorbidades e incorporação de tecnologias.

Neste artigo, destaco os principais pontos que merecem atenção imediata no dia a dia do consultório.

Triagem e diagnóstico: agir mais cedo, com mais precisão

A recomendação para triagem do diabetes tipo 2 e pré-diabetes agora é ainda mais direta: adultos com sobrepeso ou obesidade (IMC ≥25 kg/m², ou ≥23 kg/m² para asiáticos) com qualquer fator de risco associado devem ser triados. Para aqueles com exames normais, a repetição deve ocorrer a cada três anos; para indivíduos com pré-diabetes, a triagem deve ser anual.

Critérios laboratoriais como glicemia de jejum, A1C e TOTG continuam sendo as principais ferramentas diagnósticas. O uso de monitorização contínua da glicose (MCG) não é indicado para diagnóstico, o que ajuda a delimitar seu papel clínico.

Prevenção e comorbidades: o risco cardiovascular no centro

As diretrizes reforçam a necessidade de rastrear comorbidades associadas desde o início. Pessoas com diabetes tipo 2 têm risco significativamente aumentado de apresentar doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD). O uso do índice FIB-4 é recomendado mesmo em pacientes com enzimas hepáticas normais, como forma de antecipar riscos como cirrose e carcinoma hepatocelular.

No campo da prevenção, adultos com sobrepeso importante e histórico de diabetes gestacional devem ser considerados para o uso de metformina como estratégia de prevenção. A suplementação de vitamina B12 deve ser monitorada em pacientes que fazem uso prolongado do medicamento.

Metas glicêmicas personalizadas e foco na hipoglicemia

As metas de controle glicêmico devem ser individualizadas com base em idade, condições clínicas e risco de hipoglicemia. Para a maioria dos adultos não grávidos: A1C <7%, glicemia pré-prandial entre 80–130 mg/dL e pós-prandial <180 mg/dL.

A hipoglicemia recebe atenção especial. Além da categorização em três níveis, a diretriz sugere rastreamento regular da consciência hipoglicêmica e o uso de MCG para indivíduos com risco aumentado. Glucose pura continua sendo o tratamento de primeira linha para episódios leves a moderados.

Tecnologia no cuidado: realidade da atenção primária

As recomendações da ADA deixam claro: tecnologias como MCG, bombas de insulina e canetas conectadas devem ser consideradas não apenas em contextos especializados, mas também na atenção primária, desde que os pacientes e cuidadores estejam aptos e motivados.

Para pacientes em uso de insulina, especialmente aqueles com risco de hipoglicemia, a MCG se torna uma aliada valiosa. Já o monitoramento capilar permanece indicado para ajustes terapêuticos mesmo em quem não utiliza insulina, especialmente durante períodos de mudança de plano alimentar ou prática de atividade física.

Obesidade, peso e medicamentos: uma nova lógica

A linguagem adotada pela diretriz é centrada na pessoa e sem julgamentos, orientando profissionais a usar termos como “pessoa com obesidade” e evitar o estigma.

O documento também reorganiza a abordagem terapêutica em pacientes com sobrepeso ou obesidade. Medicamentos como agonistas do receptor GLP-1 e os duais GIP/GLP-1 são preferidos antes da introdução de insulina, pela sua eficácia em controlar glicemia e peso, e por benefícios cardiovasculares adicionais.

Enfrentando a inércia terapêutica

O manejo farmacológico do diabetes tipo 2 deve evitar a inércia — aquela demora injustificável em intensificar o tratamento mesmo diante de metas não atingidas. As palavras de ordem da ADA são claras: “agir agora”, “empoderar o paciente” e “quebrar barreiras”.

A individualização do tratamento inclui considerar os efeitos de cada medicamento no peso corporal, risco de hipoglicemia, custo, comorbidades e preferência do paciente. O algoritmo atualizado para hiperglicemia prioriza tanto o controle glicêmico quanto a proteção de órgãos-alvo.

Populações especiais: cuidado com nuances

Para crianças, adolescentes, gestantes e idosos, as recomendações ganham especificidades. Em jovens com sobrepeso e fatores de risco, a triagem deve iniciar na puberdade ou aos 10 anos. No caso de adultos mais velhos, as metas de A1C variam conforme o estado funcional e cognitivo, podendo ir de <7,5% em idosos saudáveis até <8% em pacientes com maior complexidade clínica.

Em gestantes com diabetes tipo 1, a MCG é incentivada para melhor controle. Para o diabetes gestacional, a insulina é o tratamento de escolha, com metformina e gliburida não recomendadas como primeira linha.

Considerações finais

As novas recomendações da ADA para 2025 reforçam a necessidade de uma atenção primária atualizada, resolutiva e centrada no paciente. Integrar tecnologia, personalizar metas e rastrear comorbidades com mais precisão não são mais luxos — são exigências clínicas.

Para quem atua na linha de frente, o documento é um lembrete importante: cada consulta é uma oportunidade de prevenção, reavaliação e tomada de decisão fundamentada. O desafio, como sempre, é colocar essas recomendações em prática, sem perder de vista o vínculo humano que sustenta o cuidado em saúde.


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