Os microplásticos, longe de se limitarem à contaminação de oceanos e rios, agora invadem um território extremamente delicado: o corpo humano. Essas partículas insidiosas, agora detectadas no fluxo sanguíneo, possuem o potencial alarmante de obstruir vasos sanguíneos cruciais, desencadeando complicações graves de saúde que vão desde doenças cardiovasculares até disfunções cerebrais.
Os microplásticos (MPs), partículas plásticas com diâmetro inferior a 5 mm, são uma preocupação ambiental e de saúde pública crescente devido à sua presença ubíqua em diversos ambientes, incluindo oceanos, sistemas de água doce e atmosfera. Estudos recentes apontam para uma nova e preocupante via de exposição: a presença de MPs no sistema circulatório humano, com potenciais impactos significativos na saúde cardiovascular e cerebral.
A pesquisa publicada em Science Advances, em 22 de janeiro de 2025, revela que os MPs podem penetrar no sistema circulatório humano através de fontes variadas, inclusive através do uso de suprimentos médicos plásticos. Estes MPs têm sido encontrados em tecidos humanos como fígado, rins, placenta e sangue.
O estudo detalha como os MPs são transportados pelo sangue para órgãos distantes, podendo obstruir vasos sanguíneos cerebrais. Utilizando técnicas avançadas de imagem, como a microscopia de dois fótons em miniatura (mTPM), os pesquisadores observaram em tempo real como os MPs obstruem os vasos sanguíneos no córtex cerebral de camundongos, levando a disfunções neurológicas. As células imunes, ao fagocitar os MPs, formam as chamadas MPL-Cells, que podem obstruir os vasos sanguíneos cerebrais e reduzir a perfusão sanguínea no cérebro.
A obstrução causada por MPs pode levar a condições agudas como trombose cerebral e potencialmente exacerbar ou desencadear distúrbios neurocomportamentais. Adicionalmente, a presença de MPs foi associada a um risco elevado de eventos como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e morte.
Apesar dos achados, os autores destacam diferenças significativas entre os sistemas circulatórios humanos e de camundongos, o que pode influenciar a generalização dos resultados. Eles sugerem que estudos adicionais em modelos animais maiores ou que se assemelham mais ao sistema humano são essenciais para entender melhor o risco real dos MPs para os seres humanos.
A pesquisa expande nosso entendimento sobre o papel dos microplásticos como um fator de risco significativo para a saúde humana, demonstrando a urgência de adotar políticas públicas e práticas industriais que coloquem a saúde humana e a sustentabilidade ambiental no centro das atenções. Este estudo ressalta a necessidade crítica de uma resposta coordenada envolvendo pesquisa científica, saúde pública e regulamentação política, para reduzir a presença dessas partículas e minimizar seus impactos adversos.
Referência:
Haipeng Huang et al.,Microplastics in the bloodstream can induce cerebral thrombosis by causing cell obstruction and lead to neurobehavioral abnormalities.Sci. Adv.11,eadr8243(2025).DOI:10.1126/sciadv.adr8243