A pericardite, caracterizada pela inflamação do saco seroso que envolve o miocárdio, é a manifestação cardíaca mais comum do lúpus eritematoso sistêmico (LES), afetando cerca de 20% dos pacientes. O estudo publicado em JAMA Network Open em 25 de fevereiro de 2025, traz uma análise sobre a recorrência da pericardite em pacientes com LES, explorando fatores de risco e tratamentos associados a essa complicação.
No contexto geral, cerca de 30% dos casos de pericardite têm recorrência. O estudo em questão analisou a Cohort Lupus Hopkins, um grupo longitudinal de pacientes com LES, revelando que a taxa de recorrência da pericardite entre esses pacientes foi de 0,053 recorrências por ano. Surpreendentemente, essa taxa é menor do que a observada na população geral, que é de aproximadamente 33%.
O estudo identificou que a atividade do LES e uma idade mais jovem estão associados a um risco aumentado de recorrência. Curiosamente, o envolvimento sistêmico para além do pericárdio, como o sistema renal e a hipertensão pulmonar, mostrou-se associado a uma menor recorrência. Notavelmente, o uso de prednisona foi vinculado a um risco aumentado de recorrência, o que sugere a necessidade de reavaliar o uso desse corticoide no tratamento das manifestações de LES envolvendo o pericárdio.
🟦 A figura detalha as análises multivariadas dos fatores associados à pericardite recorrente:
Fonte: Kim YJ, Lovell J, Diab A, et al., 2025
A gestão da pericardite para pacientes com LES difere da abordagem para a população em geral. Enquanto os corticosteroides orais são frequentemente considerados para tratar surtos de LES, incluindo pericardite, a administração parenteral pode ser preferida para minimizar o risco de complicações. Além disso, a colchicina e os anti-inflamatórios não esteroidais são considerados agentes de primeira linha para o tratamento da pericardite aguda na população geral.
O estudo também destacou a eficácia dos inibidores de interleucina 1 no tratamento da pericardite recorrente idiopática em vários ensaios clínicos randomizados, sugerindo uma potencial aplicação desses tratamentos em pacientes com LES.
Este estudo é pioneiro ao investigar os fatores de risco associados à recorrência de pericardite em pacientes com LES e destaca a necessidade de futuras pesquisas para determinar os métodos de tratamento mais eficazes. Apesar da prática comum de usar prednisona para tratar surtos de LES, seu uso deve ser evitado em pacientes com histórico recente de pericardite, dada a associação com um maior risco de recorrência.
Referência:
Kim YJ, Lovell J, Diab A, et al. Incidence and Factors Associated With Recurrent Pericarditis in Lupus. JAMA Netw Open. 2025;8(2):e2461610. doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.61610