Essas três táticas simples, usando a inteligência emocional, vão te ajudar a convencer as pessoas a cumprirem o distanciamento social.
Preciso ser direto: as mortes por #Covid-19 vêm aumentando em proporções assustadoras e o que se observa é um número maior de pessoas transitando em locais públicos. Muitas pessoas estão ou voltaram a se reunir em grupos, seja se exercitando nas ruas ou em “eventos” privados em casa, desrespeitando todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde.
“Nenhum deles têm nada”, “todos se cuidam”, “são só poucas pessoas”, eles dizem.
Não é só aos governos e organizações de saúde que cabe o estímulo ao cumprimento dessas orientações, mas sim, de todos os cidadãos brasileiros comprometidos com esse período crítico. Isso inclui eu e você. Sendo muito honesto, não importa agora se a pandemia é fruto de uma enorme conspiração, ou se ela é apenas “uma gripezinha”, fato é que as pessoas estão morrendo. Aos milhares, todos os dias, há meses. Isso é real. Ainda assim, já cheguei a ouvir de algumas pessoas, em tom displicente, que ainda não sabiam de nenhum conhecido que pegou ou morreu. Como se isso fosse um aval para que pudessem viver suas vidas normalmente. Triste e perigoso pensamento, já que agora, cuidar de si é cuidar não só também do próximo, mas de todos. A responsabilidade é com a humanidade.
O real contexto
Como profissional na linha de frente da luta contra a pandemia do novo coronavírus, posso afirmar que os números divulgados na mídia não refletem a realidade. Sério. Há um atraso na entrega dos dados entre o contágio ou morte do paciente e a chegada nos veículos de comunicação. Fora isso, por um nítido déficit no número de testagens, sem sombra de dúvidas, há milhares de pessoas infectadas, assintomáticas ou não, que não entram para as estatísticas. Há muitos casos subdiagnosticados pela falta de kits específicos de diagnósticos e muitos profissionais da saúde se expondo e morrendo por falta de EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual). Com isso, já dá para imaginar o quanto o cenário é muito mais grave.
À exemplo de métodos de combate em outras pandemias, o distanciamento social protagoniza a forma mais rápida e eficaz de tentar manter tudo isso sobre algum controle. Ficar em casa, usar máscara, lavar muito bem as mãos são as orientações dadas à exaustão. Como já disse antes, isso nem é imposto, é sugerido, e ainda assim, há quem não só desdenhe como ainda afronte a alta periculosidade e poder de infecção do novo coronavírus. Brigar não resolve. Devemos utilizar algumas habilidades da inteligência emocional para fazer com que as pessoas se sintam convencidas de que essas recomendações são a melhor coisa para a vida delas, de seus entes queridos e de toda a sociedade. A pergunta é: como fazer isso?
#1 - “Mas e se fosse com você…”
A primeira dica é perguntar às pessoas como elas gostariam que os outros agissem para mantê-las em segurança. Pergunte a quem não está praticando o distanciamento social se este indivíduo gostaria que, quem convive com ele na mesma casa, estivesse nas ruas sem proteção alguma, em aglomerações, indo e vindo como se nada estivesse acontecendo. Espera-se que ele responda reprovando tal atitude, e é aí que você mostra, com educação, que o que ele pensa não condiz com o modo como ele age. Ele mesmo reprova quem se comporta com irresponsabilidade. Leve-o a refletir em cima do próprio modus operandi, com o bom e velho “eu não faço pros outros o que eu não quero que façam comigo”.
#2 - “O que você acha de…”
Não ordene, peça. Não ordene que a pessoa obedeça as recomendações, mas peça que ela pense nas consequências caso não as siga. Por exemplo, para você, o que é mais confortável ouvir: “não saia de casa porque pode se contaminar” ou “você não acha que sair de casa pode te levar a se contaminar mais facilmente?”. Transformar uma imposição em reflexão pode ser mais persuasivo do que imaginamos. Fazer com que a pessoa chegue às próprias conclusões baseadas em suas concepções, preferências, vivências e crenças, faz com que ela se veja comprometida com a resposta concedida e articulada por ela, e isso a distancia da ideia de estar cumprindo uma ordem. Ela entende como uma escolha e aprecia tal conclusão a ponto de agir de acordo com o inicialmente proposto.
#3 - “Que tal fazermos assim…”
A última dica é pedir aos poucos, isto é, particionar o pedido em pequenas recomendações que se somarão gradativamente até chegar ao objetivo final completo. Já é comprovado que a maioria dos seres humanos precisa de uma mudança gradual e constante para criar um novo hábito. Não adianta chegar e dizer que a partir de agora a pessoa tem uma bíblia de regras para obedecer, e de uma vez! Mudanças bruscas usualmente não são bem-vindas e não se sustentam, estão aí as dietas radicais que não me deixam mentir. Tenha a paciência e empatia de sempre explicar os benefícios da adesão àquela nova prática. Quando possível, lembre em caso de esquecimento por parte do outro, com boa vontade, até que ele grave. Qualquer rispidez pode gerar uma negativa reatividade.
Exemplo: sugira que as compras sejam feitas uma vez por semana. Isso pode ser bem útil para convencer os idosos a não saírem de casa por qualquer necessidade de consumo, além de terem menos trabalho com a higienização de tudo, o já famoso “banho nas compras”. Sim, é urgente, mas pessoas estão aprendendo, e cada um tem seu tempo, não se esqueça disso.
Conclusão
Em suma, a conclusão é que devemos usar mecanismos equilibrados para persuadir as pessoas sem que elas se sintam na obrigação de fazer aquilo. Devemos evitar a comunicação impositiva e sempre fazer questionamentos que levem a concluir que seguir, as orientações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde, é a melhor alternativa para si e para o coletivo. Quem puder, permaneça em quarentena até que as coisas melhorem. E vão melhorar. Basta a gente ajudar na construção dessa nova mentalidade para viver em coletivo.
Autor: Dr. Marcos Rodrigo S. Fernandes - Médico de Família e Comunidade com pós graduação em Dermatologia e Gerontologia. MBA em Marketing Digital e Negócios On Line. MasterMind pelo Instituto Napoleon Hill. Practitioner em Programação Neurolinguística e Especialista em Inteligência Emocional e Mindfulness.
Intagram: @drmarcosfernandes
Referência bibliográfica
- BERGER, Jonah, 2020. How to Persuade People to Change Their Behavior. Harvard Business Review. Disponível em: https://hbr.org/2020/04/how-to-persuade-people-to-change-their-behavior#comment-section. Acesso em 04/04/2020.
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