Por que Depressão foi escolhida como tema da campanha do Dia mundial da Saúde?
Por Arthur H. Danila
A Organização Mundial da Saúde (OMS) dedica todo dia 7 de abril, Dia mundial da Saúde a uma campanha diferente. Em 2017, o tema escolhido foi Depressão. Trata-se de uma escolha muito acertada, por vários aspectos, que tentarei explicar nesse breve artigo!
O transtorno
A depressão é diferente da mera tristeza, pois abrange um processo mais profundo, duradouro (pelo menos duas semanas) e debilitante, envolvendo grande sensação de angústia e mal estar. Nesses quadros, é muito comum encontrar falta de interesse em atividades antes prazerosas, perda de vitalidade, cansaço, redução da libido, redução da autoestima, prejuízo na concentração, pensamentos de culpa e desesperança, podendo culminar com ideias suicidas. Encontra-se também a alteração do padrão de sono e apetite, gerando uma piora importante da qualidade de vida do paciente.
O transtorno depressivo pode se apresentar em um único episódio, ser recorrente ou mesmo ser uma fase do transtorno bipolar. De acordo com o número e a gravidade dos sintomas associados, é possível classificar a depressão em leve, moderada ou grave. O comprometimento das atividades da vida diária varia com o grau do transtorno. Em situações mais graves, há maior risco de suicídio.
A prevalência
Estima-se que o número total de pessoas vivendo no mundo com depressão aumentou 18,4 % entre 2005 e 2015. De acordo com a OMS, a depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma muito importante para a carga global de doenças. É a terceira principal causa de anos de vida perdidos por doença. No mundo, cerca de 350 milhões de pessoas convivem com o quadro. Cerca de 11,5 milhões de brasileiros sofrem de depressão. A queda da produtividade e doenças vinculadas à depressão têm um alto custo global, que a OMS calcula em um trilhão de dólares por ano.
Todos os sexos, faixas etárias, raças e classes sociais podem ser acometidos pela depressão. Porém, ela é mais comum entre mulheres, pessoas divorciadas/separadas ou vivendo sozinhas, com baixo nível socioeconômico e escolar, desempregados e morando em zonas urbanas. Jovens, mulheres no pós-parto e adultos com mais de 60 anos são os que mais correm risco de desenvolver o transtorno. Eventos vitais relevantes podem estar presentes, mas não é necessário existir um fator causal identificável ou "ter motivo” para que o diagnóstico seja feito.
A campanha
Com slogan “Vamos conversar?”, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a campanha do Dia Mundial da Saúde 2017 sobre o tema “depressão” buscando dialogar com todos os públicos, independentemente da idade, sexo, condição social ou cultural, afetados por esse transtorno mental em todos os países. Foi dada especial atenção a três grupos populacionais afetados pela doença: jovens com idades entre 15 a 24 anos, mulheres em idade fértil (especialmente após o nascimento de uma criança) e idosos.
O estigma
Assim como muitos transtornos psiquiátricos, a depressão muitas vezes não é adequadamente identificada por amigos ou familiares, ou ainda por médicos de outras especialidades. Infelizmente, ainda é muito comum se acreditar que os sintomas existem “porque a pessoa quer”, “é folgado(a)”, ou que “precisa arranjar o que fazer para sair dessa”. Falas como essas acabam por retardar a busca por ajuda especializada e o correto manejo da situação, por vezes cursando com o agravamento de sintomas.
O tratamento
O tratamento passa por 2 principais abordagens: para formais mais leves, pode ser feito por meio de psicoterapia, mas para os quadros moderados e mais graves há indicação de tratamento medicamentoso, geralmente também associado a abordagens psicoterápicas. Nas situações mais graves, como quando há risco de suicídio ou recusa alimentar, a internação pode estar indicada, para proteção da pessoa.
Felizmente, a depressão hoje em dia é um quadro plenamente tratável e o diagnóstico precoce feito por profissional capacitado pode reduzir o sofrimento do indivíduo, familiares e amigos, e evitar recorrências.
É importante que pessoas com sintomas característicos da depressão procurem ajuda especializada para avaliação e adequada indicação de tratamento. Trata-se de uma doença grave que pode comprometer a vida social, profissional e emocional do indivíduo. Nesse sentido, o apoio da família é fundamental, para que o tratamento tenha suporte das pessoas mais próximas à pessoa e, com isso, resultados apareçam mais rapidamente e de forma duradoura.
O Dr. Arthur H. Danila é Médico Psiquiatria Assistente do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e membro da Câmara Técnica de Psiquiatria do Conselho Federal de Medicina.