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Por que o médico não vai para o interior?

Por que o médico não vai para o interior?
Fernando Carbonieri
set. 24 - 4 min de leitura
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Por que o médico não vai para o interior? 

Com a presença do presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Roberto d'Ávila, as entidades médicas de Pernambuco – Conselho Regional e Sindicato dos Médicos – divulgaram o resultado da Caravana, realizada entre os dias 16 e 20 de setembro, nas nove cidades mais atingidas pelo processo da seca deste ano no

foto_caravana_seca_cremepe Médicos divulgam resultado da Caravana da Seca

Agreste e Sertão do estado.

A água, o foco da Caravana da Seca, é um problema grave nos municípios, segundo os médicos. A maioria da população só recebe água a cada quinze dias ou mensalmente, embora mantenha o pagamento da conta em dia. Muitos deles precisam comprar baldes e tonéis, que custam R$ 5 e R$ 10, respectivamente, ou pagar o valor de R$ 120 por um carro pipa. Essa realidade atinge cerca de 60% dos entrevistados. "Isso sem falar na qualidade da água", disse a presidente do Cremepe, Helena Carneiro Leão. O material coletado nos hospitais e escolas públicas foi enviado para análise e o resultado será obtido na próxima semana. A partir das análises bacteriológicas das amostras da água será possível saber se há presença de bacilos ou coliformes fecais.

Também foram encontrados diversos problemas nas unidades de saúde e hospitais, assim como na merenda escolar. "Em Serra Talhada, por exemplo, a merenda escolar é só angu e leite e ainda é divida com o presídio. Precisamos saber da prefeitura o porquê disso. Por outro lado, em Caetés e Bom Conselho, as crianças comem arroz, feijão, carne, macarrão e frutas", questionou d'Ávila. Cerca de 27% dos professores, por sua vez, apresentaram pressão alta acima da média. "Esse número pode estar relacionado ao estresse do ambiente de trabalho", afirmou o presidente do CFM.

Nas escutas de rua, as entidades puderam concluir que metade da população diz ter sede e fome, tornando a vida mais difícil na zona rural, realidade que culmina com o desejo de 59% dos habitantes de sair de onde moram. Diante dessa realidade, 52% afirmam não receber ajuda do governo. "Não há acesso ao lazer, o consumo do crack e a violência doméstica têm aumentado e as obras da transposição estão paralisadas", disse d'Ávila.

No setor da saúde quase todos os vínculos são precários. "Os contratos são feitos de boca, o médico não tem nenhuma garantia trabalhista e também não recebe os salários altíssimos que são divulgados", contestou. Em Bom Conselho, Agreste de Pernambuco, o Hospital Monsenhor Alfredo Dâmaso, por exemplo, que atende cerca de 200 pacientes por dia, possui apenas um médico no plantão noturno durante quatro dias da semana. "Muitas vezes o profissional tem que trabalhar 48 ou até 72 horas seguidas para não deixar o plantão desfalcado", denunciou o presidente do CFM. Além disso, o hospital não possui material de reanimação na sala de parto e na ala vermelha. A equipe de caravaneiros detectou, ainda, que a unidade possui apenas uma enfermeira por dia e, muitas vezes, por apenas 12 horas.

Roberto d' Ávila aproveitou a ocasião para criticar o "abandono" do SUS e o Programa Mais Médicos. "Nos últimos dez anos, foram fechados 280 hospitais. Além disso,  47 mil vagas de unidades básicas de saúde deixaram de existir. O governo federal também fechou 13 mil leitos de 2010 pra cá. Vamos enfrentar o factóide de que precisamos de médicos estrangeiros com fatos e contra eles não há argumentos", finalizou.

O resultado da visita e os relatórios da análise laboratorial da qualidade de água serão enviados às autoridades responsáveis como Secretarias Municipais de Saúde, Secretaria Estadual de Saúde, Ministério da Saúde, Gabinete da Presidência, Ministério Público estadual e Federal e Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Assessoria de Imprensa do Cremepe

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