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Precisamos falar sobre pessoas com altas habilidades ou superdotação

Precisamos falar sobre pessoas com altas habilidades ou superdotação
Maria de Lourdes  de Moraes Pezzuol
jan. 19 - 11 min de leitura
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É identificado que existem poucos estudos que descrevem intervenções sobre AHSD, sendo que os que existem são mais teóricos e no segmento da educação, demonstrando o quanto este campo de conhecimento ainda precisa avançar.

Pessoas que necessitam de cuidados de equipes multiprofissionais. É fundamental que possamos conhecer a legislação, da LDB (LEI Nº 9.394, de 20 DE DEZEMBRO de 1996), Art. 58, entende-se por educação especial a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Enfatiza-se que a LEI Nº 12.796, de 4 de abril de 2013, que altera e atualiza alguns artigos da LDB, também ratifica e descreve a mesma definição de público para a Educação Especial. (AVAMEC,2022)

As familias e as escolas, com ações integradas de equipes multiprofissionais como um todo, precisam ter um papel fundamental, um olhar amplo para conhecer as dificuldades, identificar as potencialidades, a forma que manifestam essas crianças em suas vontades e a maneira que se expressam e exploram determinados ambientes no enfrentar de diversas situações do dia a dia. A partir dessas estratégias integradas, será possivel aos poucos descobrir possibilidades de intervenções que possam facilitar a inserção social, respeitando toda singularidade.

Para esses alunos, existe um mecanismo de diferenciação na escola que se chama “aceleração”. É uma prática educacional que visa adequar o nível de conhecimento que eles possuem a um contexto curricular que atenda às suas necessidades específicas. Já é um primeiro desafio para os educadores, precisam de formação adequada e capacitação para lidar com essa população e oferecer o apoio pedagógico adequado. (AVAMEC,2022)

Segundo "Capellini, 2022", um dos fatores que pode interferir na saúde mental é o perfeccionismo, que é uma das características que pode estar presente em pessoas com AH/SD (CUPERTINO; ARANTES, 2012). Nesse sentido, "Urbina, Gomes-Arízaga e Conjeros-Solar (2017)" descreveram as principais facetas do perfeccionismo adaptativo e mal adaptativo de estudantes chilenos academicamente talentosos do ensino fundamental e ensino médio. Os resultados apontaram para as expectativas sociais e familiares como os principais aspectos envolvidos no desenvolvimento do perfeccionismo, tanto no âmbito educativo quanto no clínico.

Ainda em seus estudos,  Capellini aborda mais autores que sugerem que pessoas com AH/SD, especialmente aquelas com habilidades extremas, apresentam maior vulnerabilidade a problemas emocionais e sociais e maiores riscos para ansiedade, depressão e suicídio (GROBMAN, 2006; CASSADY, CROSS, 2006). 

"Chagas-Ferreira (2014)" relata que alguns dos problemas enfrentados por essas pessoas estão associados à maneira como a família percebe e lida com suas características, principalmente àquelas vinculadas ao desenvolvimento assincrônico e aos aspectos emocionais e motivacionais. Crianças superdotadas podem se desenvolver de forma assíncrona: suas mentes, em geral, estão à frente de seu crescimento físico e funções cognitivas e socioemocionais específicas.

Algumas crianças superdotadas com aptidão excepcional podem não demonstrar níveis excelentes de desempenho, devido a circunstâncias ambientais, como oportunidades limitadas de aprender, resultado da pobreza, discriminação e/ou barreiras culturais; devido a deficiências físicas ou de aprendizagem; ou devido a problemas motivacionais ou emocionais. Essa dicotomia entre potencial e desempenho tem implicações para as escolas à medida que elaboram programas e serviços para alunos superdotados. (AVAMEC,2022)

Alguns destaques de perfil de um estudo de caso, identificada como Sol (nome fictício), uma personagem superdotada que sofre os problemas do desconhecimento de sua existência e o impacto da falta de domínio de questões que a identificam como tal para que saibam lidar com ela:

- Primeiras palavras verbalizadas aos cinco meses de idade e primeiras frases aos nove meses de idade;

- Sentou-se por volta de quatro meses, engatinhou com seis meses e andou com aproximadamente um ano de idade;

- Possui amigos e se relaciona bem com todos. Entretanto, prefere os mais velhos;

- Já foi preterida pelos colegas, por ser diferente;

- Pesquisa muito e tem assunto para discorrer sobre política, biologia, astronomia e outros que forem iniciados;

- É organizada, focada, persistente, muito obediente e assertiva;

- Lida muito bem com críticas e sabe "se explicar";

- É muito diplomática e com frequência apazigua conflitos entre os colegas, em brincadeiras ou trabalhos escolares;

- Durante as tarefas escolares em grupo, Sol é capaz de dividir as atribuições de cada estudante, a partir do critério lógico de delegar as funções segundo as potencialidades dos colegas;

- Segundo a mãe, essa capacidade de liderança não é impositiva, mas naturalmente reconhecida pelas outras crianças;

- Apesar das queixas com respeito ao ensino, exibe vários demonstrativos de um desempenho acadêmico notável: lê em média um livro por semana; termina em apenas seis meses as apostilas escolares, que são desenvolvidas para serem finalizadas em um ano e oito meses; dentre outros;

- Evidencia o alto rendimento, visto que em todos os componentes curriculares obtêm nota máxima;

- Performance elevada também em atividades extracurriculares que frequenta: balé clássico, curso de ábaco japonês, robótica, Supera e Kumon, no qual está avançada três anos em relação à sua série escolar;

- Vocabulário muito mais avançado e rico do que o dos seus colegas ou demais pessoas da sua idade;

- Capacidade analítica e indutiva muito desenvolvida;

- Deixa de fazer outras coisas para envolver-se numa atividade que lhe interessa;

- Memória muito destacada (especialmente em assuntos que lhe interessam), comparada a outras;

 - Tem sua própria organização e insiste avidamente em mantê-la;

- E muito segura e, às vezes, teimosa em suas convicções;

- Possui muitas informações sobre os temas que são de seu interesse; discurso rico em detalhes;

- Raciocínio lógico-matemático muito desenvolvido e capacidade de calcular situações;

- Dedica muito mais tempo e energia a algum tema de que gosta ou lhe interessa, e treina por conta própria, para aprimorar sua técnica;

- É persistente nas atividades que lhe interessam e busca concluir as tarefas;

- Não precisa de muito estímulo para terminar um trabalho que lhe interessa, insiste em buscar soluções para os problemas;

- Apresenta bons recursos intelectuais (QIT = 138), com nível de inteligência muito superior à média dos seus pares etários;

- Alta capacidade de aprendizagem e escores considerados superiores à média prevista para a idade, em todos os subtestes, exceto aritmética.

Segundo a análise do estudo desse caso, durante o período que não tinha a identificação de AHDS de Sol, foi intensa a batalha de sua mãe para entender o que estava acontecendo e buscar ajuda para saber o que fazer com sua filha.

Conforme a mãe, Sol se queixava do ensino regular, reclamando ser “repetitivo e pouco desafiador”. O estudo “retratou ainda as aflições e a luta incessante dos familiares diante das barreiras de acesso ao atendimento educacional especializado, AEE”.  (SIGNORINI; RONDINI, 2021, p. 17 apud AVAMEC, 2022)

"Silva (2022)", que realizou um estudo sobre "Atendiemento Educacional Especializado (AEE) para deficiência intelectual, altas habilidades e superdotação", relata que segundo Baum e Olenchak (2002); Cramond, (1994); Davis e Rimm, (1994); Weeb e Latimer,(1993) os equívocos nos diagnósticos existentes decorrem principalmente da presença de características de superdotação, já reconhecidas e estabelecidas como parâmetro, e imprecisamente interpretadas como sintomas de TDAH, bem como à ocorrência de distúrbios de atenção e foco entre superdotados, avaliadas inexatamente como indicativos típicos da superdotação.

Não é incomum autores como Webb (2001), Alencar e Fleith (2005) afirmarem que os superdotados têm sido incorretamente identificados como portadores de TDAH em decorrência dos critérios adotados, que são eminentemente fundamentados nos conhecimentos clínicos e pedagógicos, sem se considerar o conhecimento do campo da superdotação.

Estudos sugerem que a América, como um todo, ignora a excelência no nível desses alunos dentro das escolas. Fazem uma crítica de que as escolas terminam “produzindo alunos fracos que ficam atrás de seus pares”. Além disso, há uma percepção de que em cada estado, em cada escola, em grandes cidades e mesmo em pequenas comunidades agrícolas, os alunos estão prontos para superarem muito mais desafios do que o sistema escolar oferece. (COLANGELO; ASSOULINE; GROSS, 2004, p. 14 apud AVAMEC,2022)

Assim, existe a necessidade de um olhar mais apurado dos familiares e das equipes multiprofissionais para as pessoas com suspeita de AHSD. É muito importante que suas habilidades sejam identificadas e potencializadas para que não sejam desperdiçadas no decorrer da vida. Estamos diante de crianças e jovens que anseiam por desafios para desenvolverem suas ideias criativas. (AVAMEC,2022)

Vale destacartar a importancia do documento " Agenda 2030 ” , que aponta para o Desenvolvimento Sustentável no dever "assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”. (UNESCO, 2015)

Para ampliar e fortalecer mais informações sobre o tema abordado, gostaria de compartilhar alguns vídeos interessantes com indicaçoes (AVAMEC,2022). Título: “Mente Brilhante - Desenvolvendo a Genialidade”, da National Geographic Channel, sobre xadrez e o cérebro humano, relatando a história da enxadrista húngara, naturalizada estadunidense, Susan Pólgar (1969) - a primeira mulher a conseguir o título de Grand Master (GM). Dublado em português do Brasil.

PARTE 1. https://www.youtube.com/watch?v=e1IfaD-Visg&t=2s&ab_channel=Rog%C3%A9rioPauloVieira

PARTE 2. https://www.youtube.com/watch?v=xQmSO-htbng&t=228s&ab_channel=Rog%C3%A9rioPauloVieira

PARTE 3. https://www.youtube.com/watch?v=k7nPirtlMjU&t=7s&ab_channel=Rog%C3%A9rioPauloVieira

PARTE 4. https://www.youtube.com/watch?v=GhTFLj587T4&t=454s&ab_channel=Rog%C3%A9rioPauloVieira

PARTE 5. https://www.youtube.com/watch?v=I3joQ3-UX6Y&t=5s&ab_channel=Rog%C3%A9rioPauloVieira

Referências :

AVAMEC. Ambiente Virtual Colaborativo de Aprendizagem do MINISTERIO DA EDUCACAO. Curso Altas Habilidades ou Superdotação, 2022.

CAPELLINI, Vera Lucia Messias Fialho. RASTREIO DE SAÚDE MENTAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO. REVISTA BRASILEIRA DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO, p. 135, 2022.

SIGNORINI, L. C.; RONDINI, C. A. Avaliação psicológica e psicopedagógica junto à estudante com características de superdotação: estudo de caso. Revista Cocar. v.15 n.32, 2021 p.1-21.

SILVA, Rafael Soares. AEE para deficiência intelectual, altas habilidades e superdotação. EDUCTE: Revista Científica do Instituto Federal de Alagoas, 2022, vol. 13, no 1, p. 1883-1893.

UNESCO. Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. https://brasil.un.org/pt-br/91863-agenda-2030-para-o-desenvolvimento-sustentavel


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