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Profissão Médica no Profissão Repórter

Profissão Médica no Profissão Repórter
Fernando Carbonieri
dez. 21 - 8 min de leitura
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Como era de se esperar tivemos mais uma vez um retrato borrado da realidade na formação médica brasileira. No programa exibido dia 20/12/2017 o Profissão Repórter retrata a formação médica dos brasileiros. Não dá para dizer que o programa inteiro foi desconexo pois muitas verdades foram expostas. Algumas não tiveram tempo para serem abordadas, mas foram ao menos lembradas. Dentre elas:

Formação em lugares sem estrutura física adequada

Infelizmente o programa utilizou apenas exemplos de faculdades pública para relatar o descaso com o estudante, que não possui salas de aula adequadas, laboratórios adequados, ou ainda, quantidade insuficiente de estabelecimentos de saúde onde eles poderão ter uma prática mínima aceitável. Senti realmente falta das universidades privadas que surgiram em lugares estranhos, que, conforme relatos de seus alunos, diretamente para mim, ou nos canais do Academia Médica, não possuem este mínimo, mesmo pagando algo em torno de 6 mil reais mensais.

Docentes insuficientes

Aqui você pode ler de duas formas. A primeira é apontar que ele são insuficientes em número. Lembramos que um curso de medicina decente precisa de pelo menos 70 professores das diferentes áreas para funcionar. São necessários especialistas para ensinar o mínimo de suas áreas. Esses lugares não possuem estas condições pois não são cidades atrativas para boa parte dos mestres e doutores (médicos ou não médicos). Como trazer estas pessoas para ensinar? A resposta é não trazer. Muitas destas faculdades contratam profissionais não especialistas e sem experiência para atender a demanda, simplesmente por se apoiarem na lógica de que ter qualquer um é melhor do que ter ninguém (a tônica de toda a Lei 12781, a Lei do Mais Médicos). Nesta Perspectiva, são contratados professores hipossuficientes para desenvolver às funções necessárias.

Formação com "ênfase no SUS"

Apesar do programa não colocar isso como um ponto negativo (aliás, ele exalta isso) a cortina de fumaça do "ênfase no SUS" esconde uma realidade de que os alunos não tem onde aprender qualquer especialidade médica além da atenção primária e secundária. Nunca assistirão um y de Roux, uma colecistectomia, um tratamento dermatológico adequado com isotretinoina, catarata, ooforectomias, colocação de haste intramedular em fraturas de fêmur... A ênfase no SUS provará toda uma legião de médicos que só sabem de alguns tratamentos e diagnósticos porque uma vez viram em um livro, mas nunca realmente viram um paciente ser tratado com as técnicas mais adequadas.

A migração médica para o Paraguai

Ao todo, apenas em Pedro Juan Cabalero, são 9 faculdades de medicina, na qual você apenas precisa pagar a mensalidade para frequentar o curso. Não há a necessidade de saber a língua ou a cultura local. Pagou passou. O programa esquece de contar sobre o número total de brasileiros fazendo medicina nos países latino americanos, que hoje beiram os 90 mil. Mas o programa lembra também a chaga dos quase 6 mil reais médios para se formar no Brasil. Para ser médico aqui, nas faculdades particulares, você "investe" algo em torno de 500 mil reais em 6 anos, enquanto lá, algo em torno de 43000 reais (um carro popular com ar-condicionado e direção). Dinheiro que a cada dia fica mais difícil de entendê-lo como bom investimento. 

Residente é médico especialista em formação

Infelizmente o programa não foi suficiente em mostrar a diferença entre um médico residente e um acadêmico do internato. Compreensível pois havia muito para se mostrar em pouco tempo. Mas há algo que temos que valorizar alí. Demonstraram o quanto a formação do especialista é prejudicada devido a falta de leitos de formação e de estrutura mínima para o atendimento adequado dos pacientes. Grandes hospitais com mais de 60% de seus leitos fechados são uma constate no país que Caco Barcelos não ponderou no programa que dirige. Atende-se menos, forma-se o mesmo número de especialistas, e isso não é um indicador de eficiência.

 Infelizmente o programa esqueceu-se de vários pontos. Acredito que existam muitos motivos para isso, entre eles o tempo limitado do próprio programa para explorar assunto tão complexo. Mas aproveitamos o nosso espaço aqui para fazer isso. Dentre os problemas não relatados, apontamos:

Pacientes insuficientes

Não há estrutura, não há professores e também não existem pacientes suficientes. A formação médica exige a visualização de inúmeros casos diferentes, em contextos diferentes, com doenças diferentes. Das fáceis de diagnosticar às mais difíceis. Não há como suprir a necessidade de aprendizado dos alunos de medicina em cidades com menos de 120 mil habitantes. Simplesmente você não terá exemplos suficientes para formar um bom médico.

A previsão de que iria-se bloquear a abertura de novas faculdades

A Lei dos mais médicos é um "tapete" em sua essência. A importação de médicos cubanos é apenas a parte "bonita" do tapete. Os outros 4 artigos são a sujeira que ninguém via quando a Lei foi aprovada. A abertura desenfreada de vagas nas faculdades pelos balcões de negócios que foi realizado elevou o Brasil ao nível de segundo maior país do mundo em número de faculdades de medicina. Perdemos apenas para a Índia, que possui 8 vezes o número de habitantes do Brasil. Chegamos ao nível de admitir a entrada de 32 mil estudantes de medicina ao ano nas faculdades que não tem a mínima supervisão dos órgãos governamentais que deveriam garantir a qualidade destas instituições. Esse número é muito maior que as 27 mil vagas previstas pela Lei dos Mais Médicos, que já declarava a "moratória" para abertura de novas vagas aqui no Brasil. Além de não cumprir com a Lei, o governo e suas legiões fizeram parecer que foi a classe médica que impediu a abertura de novas escolas. Nada diferente do costume que passamos a experimentar desde agosto de 2013 onde a Lei que ajudou a destituir o valor da profissão médica foi promulgada. Pouca gente fala, mas a Lei do Mais Médicos em nada tem a ver com a vinda de cubanos. Ela tem tudo a ver com a precarização do aparelho formador do futuro médico brasileiro.

Meio Milhão de Reais

Temos 70% de todas as vagas nos cursos de medicina nas mãos das escolas particulares. Em média, o custo delas é de 6.000 reais por mês e o FIES não tem mais as condições adequadas para ajudar a financiar este investimento (na minha época 3,4% ao ano, hoje 6,5%). Estamos portanto formando profissionais endividados, que após sua graduação, demorarão em média 5 anos para atingir o patamar de 14 mil reais por mês de remuneração. Basicamente virou um programa do tipo: "MEU FIES, MINHA ETERNA DÍVIDA"

Residência Médica

O programa também não explorou a precarização da residência médica. Acreditem. O que acontece na USP e no Pedro Ernesto, é muito pequeno perto do que acontece em inúmeros hospitais escola do Brasil. 

Entidades médicas para quê?

Não foram ouvidos Conselho Federal de Medicina, Associação Médica Brasileira, Associação Brasileira de Ensino Médico, Associação Nacional dos Médicos Residentes Associação Brasileira dos Estudantes de Medicina... Gosto da perspectiva do que sofre, mas se temos instituições que trabalham diretamente com a formação, por que não ouvi-las

Acredito que abordei os assuntos que queria sobre o Profissão Repórter. Não são só exemplos ruins que temos. Acredito que algumas das escolas que surgiram a partir do BOOM patrocinado pelo Governo devem ter qualidade suficiente para entregar bons médicos a sociedade.

Não acredito na situação de que o aluno esforçado será um excelente médico, pois o instrumento de trabalho dos médicos são pessoas. Um lugar sem um número adequado de pacientes jamais poderá formar bons médicos. Um lugar sem profissionais experientes para ensinar os futuros profissionais jamais entregará qualidade de formação. Houve sim uma hipossuficiência do Profissão Repórter em mostrar o quanto as recentes atividades políticas brasileiras em busca do populismo do "Mais Médicos" trabalha diuturnamente para formar Profissionais Médicos Hipossuficientes.


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