Há algo na ciência que me conforta imensamente de todos os meus defeitos. É como se ela me eximisse totalmente de culpa. Um dia, em um consultório de um neurologista, ele se virou para mim e falou a respeito de uma pessoa com transtorno de personalidade antissocial: “ela não tem culpa”. Aquela frase até hoje guia meu olhar sobre os transtornos de personalidade. Não que tenhamos que aceitar todas as “loucuras” da humanidade, entretanto pode nos guiar futuramente a soluções para esses transtornos com o avanço da Medicina.
Então, espera, talvez eu não tenha culpa da minha extrema ansiedade, do meu humor ácido e muitas vezes impaciente?!? Até que ponto o que pauta o nosso comportamento é culpa da epigenética?
“Quando as mudanças epigenéticas atingem o momento ou o lugar errados, desligam ou ligam genes erroneamente”
A epigenética é a maneira como, além das mutações, interferimos em nosso DNA. Não em sua estrutura, mas na sua expressão. Como um gene se torna disponível para ser lido por suas instruções codificadoras de proteínas.
“Em um novo estudo com foco em quatro regiões do tecido cerebral humano normal, os cientistas da Johns Hopkins descobriram cerca de 13.000 regiões de diferenças epigenéticas entre os neurônios em diferentes regiões do cérebro que variam em pelo menos 10%. Usando sequenciamento genômico completo e ferramentas estatísticas computacionais, eles também descobriram que a localização dessas mudanças epigenéticas - cobrindo cerca de 12 milhões de bases no genoma - co localiza com o sinal genético que contribui para o comportamento aditivo, esquizofrenia e neuroses, como o transtorno bipolar.”
Os pesquisadores acreditam ter descoberto variantes epigeneticamente diferentes no tecido neuronal. Áreas cujas modificações podem estar ligadas a transtornos psiquiátricos. É como se aquelas células ao serem ou não metiladas - expressam ou não suas proteínas da maneira que não deveria ser.
Esse funcionamento às avessas de nossas células nos exime de culpa? Penso que nosso livre arbítrio esbarra sempre no biológico. Dependemos da nossa bagagem genética. Portanto, se você se supera em suas neuroses, parabéns!
“Os cientistas da Johns Hopkins começaram sua pesquisa com 45 amostras de tecido cerebral retiradas de seis pessoas - três homens e três mulheres, com idades entre 37 e 57 ano”
O que diferencia esse estudo dos feitos anteriormente é que foram usados diferentes tipos de células, incluindo neurônios e células gliais - células de suporte que atuam como fornecedores de andaimes, limpadores e nutrientes. Olhando para a distribuição das mudanças epigenéticas em todo o genoma, os cientistas encontraram mais diversidade em 12 milhões de pares de bases (de 3 bilhões) do genoma do que o que normalmente ocorreria nessas regiões apenas por acaso.
“As mudanças epigenéticas podem alterar a identidade das células, bem como a sua função", sugere Feinberg, que também é professor de engenharia biomédica, bioestatística e psiquiatria e ciências comportamentais na Johns Hopkins.
Neuroses, traumas, condições graves psiquiátricas podem ser herdadas além da nossa estrutura do DNA. Será que um dia vamos conseguir domar a expressão dos nossos genes? Seremos todos “saudáveis”? Um dia vi um documentário sobre Watson e Francis Crick - elaboradores do modelo da dupla hélice do DNA - Nesse documentário uma bióloga se questionava se eliminar todos os nossos comportamentos “anormais” era também tirar muito da nossa criatividade. Será que um Steve Jobs surgiria em toda a sua genialidade sem os seus bizarros comportamentos?
Sim, a ciência sempre consegue me eximir de culpas. É minha religião, meu confessionário íntimo. E meu Deus sempre será Darwin.
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Informação extraída do artigo: Study defines differences among brain neurons that coincide with psychiatric conditions