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Quando o dia chegou

Quando o dia chegou
Crônicas de Anestesia
abr. 13 - 6 min de leitura
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Quando o dia chegou

Havia um certo país com um governo muito corrupto. Este governo não era só corrupto. Era arrogante, indecente, vergonhoso. Pior do que isto, este governo não respeitava o seu próprio povo. Pior ainda! Este governo apoiava ditaduras sanguinárias tirando dinheiro do seu povo que era trabalhador e honesto e dando para os mais diferentes tipos de tiranos ao redor da Terra. A presidente deste país era incompetente ao extremo, mas isso não era o pior, ela era mal-intencionada e também manipulada pelo chefe de seu partido. O pior de todos eles.

As pessoas deste país, depois de muito tempo, começaram a se irritar com o seu governo. Alguns passaram a vaiar a presidente, mas eram poucos e mal foram percebidos. O governo não lhes dava nenhuma atenção. O governo alegava que eram pessoas do mal que não suportavam que aquele governo fosse tão bom, principalmente para os mais pobres a quem o governo dava dinheiro.

No entanto, com o passar do tempo, mais e mais pessoas começaram a se irritar e a questionar as coisas que o governo fazia. Roubos, impunidade, conchavos e toda sorte de ações para que o partido do governo não saísse mais do poder. Mesmo algumas pessoas que antes defendiam o governo passaram a enxergar o grande engano que cometeram ao apoiá-lo. As pessoas queriam esperança. O governo prometia ser um salvador e acabar com todos os males, mas não foi isso que em verdade aconteceu.

Em determinado momento as vaias tornaram-se mais frequentes, a ponto da presidente e do seu mentor não poderem mais sair na rua ou de participar de eventos que não fossem os rigidamente controlados e abertos apenas aos apoiadores do governo, muitos deles pagos com o dinheiro das pessoas honestas que trabalhavam e que não perdiam mais a chance de vaiar.

A presidente manifestou-se em cadeia de rádio e televisão. Ainda assim as pessoas não a deixaram falar. Bateram panelas em suas casas, fizeram barulho, atrapalharam tudo de maneira que nada do que ela dissesse fizesse algum sentido, já que não fazia mesmo! Estas pessoas foram taxadas pelo governo de “elite”, “ricos”, “egoístas”. Mesmo aqueles que não eram nada disso, na verdade a maioria era formada por trabalhadores cansados e que estavam realmente descontentes com os rumos daquele país.

Estas pessoas resolveram ir às ruas. Usavam as cores da bandeira daquele país. Levaram seus parentes, filhos, netos, amigos. Foram em paz mas exigiam que o governo os respeitasse, que os malfeitores fossem punidos com rigor. Todos podiam ver o que estava acontecendo. Saíram aos milhares com faixas, gritos de ordem, cantavam o hino de seu país e rezavam juntos por um lugar melhor para viver. Pediam que a presidente fosse embora, renunciasse o cargo. Pediam um futuro melhor que nunca conseguiram alcançar ao longo de sua História.

Os meios de comunicação, muitos deles manipulados por aquele governo, ficaram atônitos. Faziam-se de cegos e surdos. Diziam que não eram tantas pessoas assim que estavam na rua protestando. Que as demandas dos manifestantes eram muitas e incoerentes. Mas quem estava lá testemunhava claramente o que acontecia e seguia em frente cantando.

O governo ficou mais desorientado ainda. A presidente se escondeu em algum lugar e não quis falar com as pessoas. Mandou seus assessores fazerem isso. Os assessores fizeram e foram para a televisão falar coisas mais sem sentido do que as que a presidente já falava. Disseram que agora haveriam mudanças no governo, nenhuma delas estava na lista de pedidos das pessoas que tinham ido às ruas. Estavam muito confusos e presos às suas velhas ideias. Mas estas pessoas não acreditavam mais em nada do que o governo lhes dissesse.

As pessoas voltaram para as ruas, tendo em vista que o governo se fez de desentendido. As marchas foram retomadas. As bandeiras voltaram a tremular nas mãos destas pessoas. No entanto tudo continuava igual. O governo queria vencê-los pelo cansaço como tantas vezes já tinha acontecido. O governo esticou a corda o máximo que pôde. As pessoas resistiram. O número dos que saíam às ruas era menor, mas eles ainda estavam lá. Os mesmos gritos e a mesma fibra. Um desejo inquebrantável de mudar o país e acabar com aquele governo terrível.

Como num último chamado em um último dia as pessoas marcharam. Foram até a sede do poder daquele país. Queriam mostrar que ainda estavam unidas e confiantes como da primeira vez. E lá foram eles cheios de fé e de coragem. Desta vez eram muitos. Demais para serem contados. Agora a presidente não tinha mais como fugir. Ninguém sairia dali enquanto ela não largasse a faixa de presidente e fosse embora junto com o seu partido nefasto.

Ninguém sabe explicar mas o fato é que ela realmente foi embora para nunca mais voltar. O povo comemorou, riu e chorou como nunca antes havia acontecido em nenhuma parte do mundo. As cores da bandeira daquele país: verde, amarelo, azul e branco estavam estampadas em toda parte. A bandeira era carregada por todos, crianças, adultos, jovens e velhos. Negros, brancos, pardos, orientais. Todos! Num só coro cantavam o hino. A garganta embargada de emoção. Os lábios pronunciando as palavras como uma prece. As pessoas voltaram felizes para suas casas pois haviam vencido. O outro dia seria algo novo. Havia muito para ser feito, todos sabiam disso.

O futuro estava ali esperando de braços abertos e nada mais poderia impedi-los de avançar.

 

Carlos Eduardo dos Santos Martins

*** Este é um espaço para a expressão de opinião de nossos colunistas, não condizendo necessariamente com as opiniões editoriais do Academia Médica.


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