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Como fazer residência médica no exterior

Como fazer residência médica no exterior
Eduardo Costa
nov. 4 - 7 min de leitura
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Nos Estados Unidos, o termo 'educação profissional' refere-se aos estudos, treinamentos e exames de licença necessários para conseguir a admissão em um conselho de fiscalização, como CRM ou CREA. No Brasil, esse tipo de educação e preparação para atuação profissional tem um período de duração que equivale à metade do tempo exigido em outros países.

Um clínico geral nos Estados Unidos, por exemplo, precisa de 4 anos de estudos universitários básicos, seguidos de mais 4 anos de medical school e 36 meses de residência. Somando tudo, são 11 anos de preparação. Se esse clínico geral quiser tornar-se um oncologista, precisa fazer ainda mais 2 anos de fellowship. Sem a residência, um Medical Doctor não obtém o certificado da American Board of Internal Medicine (ABIM) para trabalhar como clínico geral.

Um engenheiro está em situação semelhante: precisa obter 12 years of credit para ter direito de acrescentar um PE (Professional Engineer) depois do nome e assinar projetos. Desses 12 years of credit, oito são obtidos em universidades credenciadas pela ABET, e os quatro anos seguintes em uma empresa escola. 

No Brasil, o médico pode começar a exercer a profissão assim que recebe o diploma, ao fim de um curso universitário de 6 anos. Neste período reduzido, o treinamento acaba ficando de fora da formação do médico brasileiro. Todo treinamento do médico recém-formado resume-se aos 2 anos em que o estudante passa no internato. 

Vale a pena investir mais seis anos de estudo para obter o certificado de um conselho americano, como o American Board of Internal Medicine (ABIM)?

 Na minha opinião, o treinamento e o certificado de um conselho médico com aceitação internacional é uma necessidade, pois o mercado brasileiro está ficando saturado rapidamente devido à formação abreviada de nossos médicos.

As escolas de medicina brasileiras diplomam 30 mil médicos por ano. Daqui a dez anos, 300 mil novos médicos entrarão no mercado, somando-se aos 450 mil já existentes. Países estrangeiros, como Bolívia e Cuba, aproveitam-se da formação simplificada do médico brasileiro para ampliar essa saturação do mercado.

Com uma educação profissional completa de 12 anos, o médico brasileiro poderá trabalhar em países como Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, onde os salários são condizentes com os longos anos de dedicação do estudante de medicina. O salário de um médico, nesses países, vai além de 170 mil dólares por ano. As condições de trabalho são ótimas, em hospitais bem equipados, laboratórios modernos e indústria farmacológica de ponta.

 

Mas como obter um certificado médico americano?

Para ajudar quem têm interesse em estudar nos Estados Unidos, vamos fazer um roteiro sobre como obter um certificado médico americano.

Terminada o curso de medicina no Brasil, o primeiro passo para o estudante recém-formado é entrar em contato com a Educational Commission for Foreign Medical Graduates (ECFMG). É ela que vai fornecer um número para  fazer inscrição no United States Medical Licensing Examination (USMLE).

Esse exame consiste em 5 provas:

  1. USMLE step 1;
  2. USMLE step 2 CK (Clinical Knowledge);
  3. USMLE step 2 CS (Clinical Skills);
  4. USMLE step 3 FIP (Foundations of Independent Practice); 
  5. USMLE step 3 ACM (Advanced Clinical Medicine).

Cada prova dura pelo menos 8 horas e são divididas em blocos, de modo que o estudande possa responder um bloco em período menor do que o alocado e acumular tempo para ir ao banheiro. 

No step 1, com um score de 260, você estará acima de 96% dos candidatos. O score de 265 coloca o estudante acima de 99% dos candidatos. Tente, portanto, ficar entre 260 e 265 no step 1, que é o score utilizado na seleção de futuros residentes.

Existem vários cursos preparatórios para os exames, dos quais destaco First Aid, UWorld e Kaplan. Há também self-assessment tests realizados pela NBME, a organização que aplica os exames.

Além de passar nos cinco testes, você vai precisar de 3 Letters of Recommendation (LORs), que o estudante americano consegue com seus professores durante a clerkship - a prática de clínica médica. Como você não tem clerkship no currículo, precisa de fazer observership. Para isso, é necessário pagar 1.000 dólares por mês para obter três meses de observership em um hospital escola americano.

O processo é simples. Peça a dois professores brasileiros para lhe darem cartas de recomendação. Com essas cartas, você consegue agendar uma entrevista com algum professor voluntário da universidade americana. Esse professor irá entrevistá-lo e preencher um formulário que será utilizado como critério de aceitação na observership. Ao término da observership, você obterá as LORs que realmente importam. 

A má notícia é que o processo é difícil e caro, mas a boa notícia é que nesse processo não há necessidade de fazer prova de inglês. As universidades americanas consideram que um score acima de 260 em qualquer dos steps do USMLE é demonstração suficiente de conhecimento do inglês.

Vamos, agora, imaginar que você cumpriu todo o ritual e tornou-se médico nos Estados Unidos. O que fazer?

Minha sugestão é que você trabalhe nos Estados Unidos durante 9 meses por ano. Os três meses restantes você pode vir ao Brasil e prestar serviço voluntário. Os hospitais americanos aceitam liberar seus médicos três meses por ano para trabalho voluntário em países da América Latina ou África. Claro que sua instituição americana só pagará pelos 9 meses de trabalho prestado nos Estados Unidos. Mas, dependendo da sua especialidade, você deve ganhar pelo menos 180 mil dólares por esses 9 meses.

No Brasil, as prefeituras do interior, normalmente falidas, ficarão encantadas em ter um profissional treinado nos Estados Unidos trabalhando de graça por três meses do ano. Isso é especialmente verdade se você for cirurgião, pois um bom cirurgião pode, em três meses, diminuir em muito as filas de espera para cirurgia. Conheço vários médicos com diplomas reconhecidos nos Estados Unidos que prestam serviços voluntários no Brasil.

Não se esqueça de pagar o CRM, que é exigido até mesmo para prestar o serviço voluntário. É bom também trazer material cirúrgico, pois em alguns locais de trabalho você pode não encontrar sondas, agulhas, cateteres, bisturis, luvas ou fio de sutura. Se você usar técnicas cirúrgicas avançadas, como photoselective vaporization ou cancer-specific staining, traga todo o material e equipamento, pois tais coisas não são comuns no Brasil.

Outro país interessante para fazer serviço voluntário é Angola, que tem apenas 6.400 médicos para uma população de 28 milhões de habitantes. O conselho de trazer material cirúrgico para desempenhar seu trabalho no Brasil também é válido para quem pretende atuar na Angola.

 

Da curadoria: você pode encontrar materiais preparatórios para os exames da USMLE no site da Amazon, eles estão disponíveis neste link.

Pretende obter certificado médico americano? Conta para nós como está sendo sua preparação para os testes.

 


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