Respiração é tarefa do Nariz e Não da Boca
Uma queixa bem comum no consultório pediátrico é aquela criança que só respira pela boca, a criança que possui uma obstrução nasal (“está sempre trançadinho, Dra”) sendo que ela pode ser completa ou incompleta.
O que temos que lembrar é que se trata de uma SÍNDROME e NÃO de uma DOENÇA. Sendo que esta síndrome possui sinais e sintomas característicos e um grande número de etiologias que podem ser intrínsecas e/ou extrínsecas ao nariz.
O quadro clínico é a queixa de OBSTRUÇÃO NASAL, mas temos que lembrar que ela pode estar presente de maneira explícita ou não, ou seja, temos que fazer a distinção entre um respirador nasal, um respirador bucal eventual e um respirador bucal obrigatório.
Sinais e sintomas : (podem variar, os principais estão listados abaixo)
- Respiração bucal
- Obstrução nasal
- Dor de garganta
- Ardência ou prurido na faringe
- Muco espesso aderido à garganta
- Tosse seca persistente
- Cefaléia matinal
- IVAS recorrentes
- Halitose
- Enurese noturna
- Sonolência / Irritabilidade
- Dificuldade alimentar / aerofagia
- Mau aproveitamento escolar
- Fáscies de respirador bucal crônico
- Aumento de cáries dentárias
- Deformidades dento-faciais
- Faringe opaca com metaplasia granulosa e mais vascularizada
- Pectus scavatum
Questionamentos importantes:
Essa criança chupa chupeta, dedo ou mamadeira? Todavia temos que lembrar que mesmo com a retirada destes itens a respiração bucal pode continuar.
Dentre as principais etiologias:
- Hipertrofia adenoideana -> Rx de cavum demonstrando hipertrofia de adenóide
- Rinites
- Rinossinusites
- Tumores nasais benignos e malignos
- Polipose nasal
- Papilomatose nosossinusal
- Mucoceles
- Desvios septais
- Atresia coanal
- Corpos estranhos -> rinorréia purulenta e fétida unilateral
- Estenose de fossa nasal
- Alteração cartilaginosa da pirâmide nasal
E tudo isso pode levar até às repercussões sistêmicas! A saber:
- Sistema respiratório
- aumento da resistência pulmonar, diminuição da complacência pulmonar, diminuição da pO2 arterial, diminuição do VEF1 e conseqüente alteração na curva fluxominuto. A diminuição da resistência ao fluxo aéreo decorrente da respiração bucal leva a menor ventilação e oxigenação dos alvéolos mais periféricos.
- síndrome da morte súbita do lactente -> obstrução nasal em neonatos (lembrar que os RNs respiram quase que exclusivamente pelo nariz, só respiram pela boca se forem estimulados a isso)
- Tosse crônica -> não há a adequados aquecimento e umidificação do ar inspirado.
- Durante os períodos de hipóxia ocorre a vasoconstricção reflexa da microcirculação pulmonar, ocasionando a hipertensão pulmonar, aumento da pós carga do ventrículo direito (cor pulmonale). A insuficiência cardíaca direita leva a hepatomegalia e edema de membros inferiores devido ao acúmulo sangüíneo na circulação periférica.
- A avaliação de SAHOS em crianças envolve a anamnese e exame físico completo, nasofibroscospia para investigação de algum ponto de obstrução de via aérea e radiografia. Gold-standard : polissonografia de noite inteira.
- Sistema hematopoético -> policitemia compensatória
- Trato gastro-intestinal : disfagia -> coordenação da respiração com a deglutição ou a enfermidade nasal exerce efeito obstrutivo por extensão caudal em faringe. A aerofagia é freqüente nesses pacientes.
- Sistema endócrino: Os hormônios dependentes do ciclo cicardiano, assim os distúrbios respiratórios causados pela obstrução nasal levam a produção inadequada. Os principais : GnRH l -> retardo de crescimento pôndero-estatural e diminuição da secreção do hormônio anti-diurético -> enurese noturna.
Fora as já famosas repercussões locais:
As crianças respiradoras bucais têm tendência à face alongada. Apresentam maior tendência à respiração bucal, uma vez que têm os palatos mais estreitos. Causando a Síndrome da Obstrução Respiratória.
- arco dentário superior atrésico
- mordida cruzada posterior e aberta anterior
- padrão de crescimento verticalizado
- palato primário ogival
- boca entreaberta
- língua baixa e para frete
- palato mole orientado verticalmente
- rotação mandibular posterior (negativa)
- hióide baixo
- coluna cervical inclinada para trás
- distoposição mandibular em classe II
Cujas repercussões locais principais estão abaixo:
- Orofaríngeas : O ressecamendo da pareda anterior da faringe oacasiona o aumento dos folículos linfóide, bem como da vasculatura, metaplasia da mucosa tornando-a opaca. O ressecamento da saliva favorece o aparecimento de placa bacteriana.
- Otológicas: otites médias.
- Hipertrofia adenoideana: as adenóide funcionem também com um depósitos de bactérias lesivas as vias aéreas superiores.
- Rinussinusite crônica ou recorrente: estase das secreções nasossinusais, facilitanto a infecção.
- adenoidite crônica
- Voz hiponasal -> “fanho”
- olfação prejudicada -> pela inflamação nasal ou obstrução mecânica da região da placa crivosa.
- halitose -> restos alimentares e debris estiverem depositados no tecido adenoideano.
O tratamento vai ser de acordo com a causa, o que fica de lição: INVESTIGAR! SEMPRE! Encaminhar para o otorrinolaringologista quando necessário.
Respiração é tarefa do nariz e não da boca!