Pesquisadores descobriram que uma substância gordurosa, conhecida por isolar sinais elétricos em células nervosas, pode também servir como uma fonte de energia para o cérebro durante situações de escassez energética. Este achado surpreendente surge de um estudo realizado com corredores de longa distância, cujos cérebros foram escaneados antes e após completarem maratonas. O estudo foi publicado em março de 2025, na revista Nature Metabolism.
Os resultados indicam uma diminuição nos níveis de mielina — a substância isolante — em áreas do cérebro relacionadas ao controle motor e ao processamento sensorial e emocional após as exaustivas corridas. Curiosamente, essa redução parece ser temporária, com a mielina retornando aos níveis normais em até dois meses após a maratona.
Descobertas do Estudo
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Redução Temporária de Mielina: Os exames de ressonância magnética (MRI) revelaram que os níveis de mielina eram significativamente menores em 12 regiões cerebrais após a corrida, evidenciando uma redução clara em áreas específicas do cérebro.
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Recuperação Completa de Mielina: Em um acompanhamento feito semanas e meses após as maratonas, observou-se uma 'remielinização' parcial após duas semanas e uma recuperação completa dos níveis de mielina depois de dois meses.
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Potencial Uso Estratégico de Mielina: A abundância de mielina no cérebro e sua composição gordurosa levaram os pesquisadores a especular que o cérebro poderia estar usando essa substância estrategicamente como uma fonte de energia alternativa quando outras fontes estão baixas.
Implicações
A compreensão de que a mielina pode ser usada como uma fonte de energia abre caminhos para possíveis tratamentos de distúrbios neurológicos, como a esclerose múltipla, onde o dano à mielina é uma característica proeminente. Estudar esses mecanismos em corredores pode fornecer evidências para o manejo dessas doenças.
O estudo apresenta algumas limitações, como o pequeno tamanho da amostra e o fato de que os escaneamentos de MRI medem indiretamente os níveis de mielina ao detectar as moléculas de água presas nela, o que pode limitar a precisão das medições. No entanto, a pesquisa é considerada inovadora e pode inspirar estudos futuros para explorar os mecanismos subjacentes a essas descobertas.
Referência:
Biever, C. (2025, March 24). How marathons change runners’ brains: scans point to surprise energy source. Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-025-00864-z