Artigo publicado na Social
Science & Medicine, assinado pela psicóloga e sexóloga canadense Peggy
J. Kleinplatz, da Faculdade de Medicina da Universidade de Ottawa, tenta
entender por que cerca de 98% das mulheres presas em campos de concentração
nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, paravam de menstruar logo após chegarem
aos locais.
Segundo a autora, a amnorreia repentina das prisioneiras era
muito uniforme para ser explicada apenas por trauma e desnutrição. No artigo, com
base em evidências históricas e testemunhos de sobreviventes, ela levanta a
suspeita de que esteroides sintéticos eram administrados na alimentação diária
fornecida às mulheres cativas, provavelmente na tentativa de prejudicar sua
capacidade de ter filhos.
De 2018 a 2021, Kleinplatz realizou uma série de entrevistas
e obteve 93 depoimentos de mulheres que passaram pelo Holocausto (com idade
média de 92,5 anos) e seus descendentes. A autora constatou que muitas das sobreviventes
suspeitavam que algo era colocado em suas rações alimentares para que parassem
de menstruar. Uma das entrevistadas, que havia trabalhado na cozinha de
Auschwitz, descreveu que pacotes de produtos químicos eram levados ao local
diariamente sob guarda armada e dissolvidos em sopas com as quais as cativas
eram alimentadas.
A medida teria gerado consequências a longo prazo às
sobreviventes. De acordo com a autora, após deixarem os campos, muitas das
entrevistadas disseram que foram incapazes de conceber ou levar a termo alguma
gestação. De 197 gestações confirmadas, pelo menos 48 (24,4%) terminaram em
abortos espontâneos e 13 (6,6%) em natimortos.
O estudo relata que os esteroides sexuais existiam em
abundância na Alemanha durante a Segunda Guerra. Conforme a publicação, esteroides
sexuais exógenos foram sintetizados e fabricados pela primeira vez em Berlim em
1933 e estavam disponíveis como medicamentos de venda livre. Evidências no julgamento de crimes de guerra
em Nuremberg também teriam demonstrado que os nazistas buscavam métodos de
esterilização em massa de mulheres judias.
O Holocausto matou cerca de seis milhões de judeus.
Referência