Na última semana, o Instituto Butantan submeteu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) o pedido de autorização para o início de testes clínicos do soro antiSars-CoV-2. Ao contrário das vacinas, o composto desenvolvido pelo Butantan deve ser utilizado quando o paciente já está infectado pelo vírus, e não como medida preventiva.
Mecanismo de ação
Assim como os humanos, se infectados com o coronavírus, os cavalos têm uma resposta do corpo e produzem anticorpos. Os cientistas do Instituto Butantan usaram um vírus inativado, capaz de manter toda a estrutura e proteínas, mas que não tenha capacidade de desenvolver a doença e dessa forma o coronavírus foi injetado nos animais. Os pesquisadores utilizaram radiação para inativar o Sars-CoV-2, contando com o auxílio do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN).
“Em colaboração com a USP, tivemos acesso ao vírus isolado e fizemos a inativação dele. Depois, o estudamos, a fim de entender se ele tinha capacidade de produzir anticorpos ou se causava alguma resposta imune no organismo”, explica a pesquisadora Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, diretora de Inovação do Instituto Butantan.
Depois de ser infectado com essa versão modificada do vírus, o cavalo começa a produzir anticorpos. A escolha do animal não é à toa: as proteínas de defesa geradas por ele são 50 vezes mais concentradas do que as produzidas por humanos.
A partir daí, os cientistas extraem o plasma sanguíneo do equino e o purificam. Depois, o produto ainda precisa cumprir uma série de etapas para garantir o controle de qualidade. Ao final, restam apenas anticorpos envasados.
O soro, ao ser oferecido às pessoas doentes, age no organismo combatendo o vírus e evitando sua replicação. Por enquanto, o produto foi testado apenas em hamsters infectados.
Soro x Vacina
A diferença do soro para a vacina é que, no caso do soro anticovid, é oferecido ao paciente um anticorpo pronto, capaz de reconhecer o vírus e bloquear seus efeitos e propagação nas células. Já a vacina é profilática, ou seja, quando injetada, o sistema imunológico é o responsável por gerar o anticorpo, assim, em caso de contato com o vírus, o corpo consegue se defender.
Expectativas
Mais de 3 mil frascos do produto já estão prontos. O soro tem como objetivo diminuir a letalidade dos casos de COVID-19 e a gravidade da infecção, impedindo o colapso no sistema de saúde.
O dossiê, que apresenta todas as fases de produção, foi encaminhado à Anvisa na terça-feira (2). Só após a aprovação é que o Instituto poderá iniciar os testes em humanos, que deve acontecer no Hospital do Rim e no Hospital das Clínicas, ambos em São Paulo.
Com a liberação da Anvisa, o Instituto Butantan poderá iniciar os testes em humanos. Feito isso, primeiro os pesquisadores terão que aplicar o soro em um número restrito de pacientes, apenas para avaliar a segurança do composto e também a quantidade ideal de doses a serem oferecidas. Apresentando resultados positivos nessa primeira fase, os pesquisadores poderão seguir para ensaios clínicos maiores buscando avaliar a eficácia do soro contra a COVID-19.
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Referências
Anvisa recebe pedido de anuência para pesquisa com soro antiSars-Cov2: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2021/anvisa-recebe-pedido-de-anuencia-para-pesquisa-com-soro-anti-sars-cov2
Como funciona o soro para Covid-19 testado pelo Instituto Butantan: https://super.abril.com.br/saude/como-funciona-o-soro-para-covid-19-testado-pelo-instituto-butantan/
Soro anticovid, do Instituto Butantan, chega à fase final de testes em animais: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/03/06/soro-anti-covid-do-instituto-butantan-chega-a-fase-final-de-testes-em-animais