Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Sydney trouxe uma preocupação sobre os efeitos das dietas modernas na saúde cerebral. O estudo, publicado no dia 19 de abril de 2025 na International Journal of Obesity, é o primeiro a demonstrar em humanos uma ligação direta entre a ingestão frequente de alimentos ricos em gorduras saturadas e açúcares refinados e a piora na capacidade de navegação espacial – uma função crucial do cérebro relacionada ao hipocampo.
Conduzido pelo Dr. Dominic Tran, da School of Psychology da Universidade de Sydney, o estudo avaliou o desempenho de 55 jovens adultos, com idades entre 18 e 38 anos, em testes de memória espacial em realidade virtual. Antes do teste, os participantes responderam questionários sobre seus hábitos alimentares, tiveram seu IMC registrado e realizaram testes de memória operacional, como exercícios de repetição de números.
O experimento consistiu em encontrar um baú do tesouro dentro de um labirinto virtual por seis vezes consecutivas, sempre com os mesmos pontos de partida e chegada. O labirinto era cercado por marcos visuais (landmarks) que ajudavam os participantes a se orientar.
O diferencial da pesquisa esteve no sétimo teste: o baú do tesouro foi retirado, e os participantes foram instruídos a indicar sua localização exata com base apenas em sua memória do ambiente. Os resultados revelaram um padrão claro: aqueles que consumiam alimentos com alto teor de gordura e açúcar várias vezes por semana apresentaram um desempenho significativamente inferior na tarefa de localização espacial.
Hipocampo como alvo principal
Segundo o Dr. Tran, os dados apontam para uma disfunção localizada no hipocampo – região cerebral essencial para a formação de memórias e a navegação espacial. “É provável que os efeitos negativos da dieta estejam centrados no hipocampo, e não distribuídos por todo o cérebro”, explica.
Essa descoberta se alinha a uma série de estudos anteriores realizados em modelos animais, que já indicavam a vulnerabilidade do hipocampo a dietas ricas em calorias e pobres em nutrientes.
Apesar das descobertas preocupantes, o Dr. Tran destaca um ponto otimista: “Acreditamos que essa seja uma condição reversível. Mudanças alimentares simples podem melhorar a saúde do hipocampo e, por consequência, nossa capacidade de navegação e memória espacial”.
Essa reversibilidade tem implicações importantes, principalmente para jovens adultos – um grupo onde tradicionalmente se assume que a função cognitiva está em seu auge e imune aos efeitos da dieta.
Alimentação e saúde cognitiva precoce
Historicamente, os danos cognitivos relacionados à dieta eram associados ao envelhecimento. Contudo, essa nova pesquisa amplia a compreensão dos riscos, evidenciando que os efeitos podem surgir muito antes do declínio cognitivo natural.
“Já sabíamos que dietas ricas em gordura e açúcar aumentam o risco de obesidade, doenças metabólicas, cardiovasculares e certos tipos de câncer. Agora temos evidências de que essas escolhas alimentares também prejudicam o cérebro em adultos jovens saudáveis”, afirma Dr. Tran.
Embora a amostra utilizada não represente toda a população – por se tratar de universitários, geralmente mais saudáveis – os pesquisadores acreditam que os efeitos observados seriam ainda mais acentuados em uma população mais diversa.
Além disso, o estudo abre espaço para investigações futuras que explorem intervenções nutricionais e seus impactos no desempenho cognitivo, tanto em curto quanto em longo prazo.
Referência:
University of Sydney. "High-fat, high-sugar diets impact cognitive function." ScienceDaily. ScienceDaily, 21 April 2025. <www.sciencedaily.com/releases/2025/04/250421163341.htm>.