O surto de mpox, causado pelo vírus da varíola símia, está se agravando de maneira preocupante na África Central, levando o Centro de Prevenção e Controle de Doenças da África (Africa CDC) a declarar a primeira emergência de saúde pública da região em 13 de agosto. Este anúncio histórico reflete a crescente preocupação com a possibilidade de uma epidemia que possa não apenas se espalhar pelo continente, mas também alcançar outras partes do mundo.
A atualização publicada em 13 de agosto de 2024 na Nature revela que os casos recentes de mpox surgiram inicialmente na província de Kivu do Sul, na República Democrática do Congo (RDC), uma região já assolada por conflitos violentos. O surto, que teve início no final de 2023, registrou um aumento significativo de infecções em áreas densamente povoadas, incluindo a cidade de Bukavu. A situação se agravou com a propagação do vírus para Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda — países que relataram seus primeiros casos de mpox.
A preocupação se intensifica com o reconhecimento de que a cepa do vírus que está se espalhando, conhecida como clado Ib, parece ser mais letal e transmissível do que as cepas anteriores. Estudos indicam que essa variante tem se espalhado eficientemente entre pessoas por meio de contato sexual, levantando alarmes sobre seu potencial de causar ainda mais danos.
Até o momento, 17.500 infecções foram confirmadas em 2024, um aumento em relação às cerca de 15.000 registradas em 2023, com cerca de dois terços das infecções ocorrendo em indivíduos com menos de 15 anos. A gravidade da situação é amplificada pela vulnerabilidade das populações afetadas, muitas das quais vivem em áreas com infraestrutura de saúde precária e enfrentam múltiplas crises humanitárias e sanitárias.
A resposta a este surto desafiador envolve não apenas aumentar a vigilância e a cooperação entre os países afetados, mas também abordar a escassez de tratamentos e vacinas. Apesar da disponibilidade de uma vacina de duas doses contra o mpox, produzida pela Bavarian Nordic, a Africa CDC estima a necessidade de 10 milhões de doses para conter o surto, um número muito superior às 200.000 doses atualmente em negociação.
O apelo da epidemiologista Anne Rimoin ressoa com urgência: é vital evitar a retenção de vacinas e tratamentos pelos países de alta renda, como ocorreu durante a pandemia de COVID-19 e o surto de mpox de 2022. A ênfase deve ser colocada em fornecer aos países mais vulneráveis os recursos necessários para controlar o surto na fonte.
Este surto destaca os desafios de enfrentar doenças infecciosas em regiões com recursos limitados, e a interconectividade global que torna um surto local uma ameaça potencial em qualquer lugar. Conforme a situação se desenvolve, é crucial que a comunidade global responda com solidariedade e apoio, garantindo que os esforços de contenção sejam tão transnacionais quanto o próprio vírus.
Referência:
Kozlov, M. (2024, August 13). Growing mpox outbreak triggers Africa’s first health emergency — and fears of wider spread. Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-024-02607-y