Bom dia pessoal. Nos da Academia Médica iremos retransmitir o Fórum de Telemedicina do CFM AO VIVO, com comentários meus e de alguns colegas. Caso queira acompanhar conosco, clique em https://events.genndi.com/channel/forumtelemedicinacfm . Se inscreva. Estamos o/a aguardando logo mais das 10h às 14h.
Desde a publicação da nova resolução do CFM (227/2018), que "define e disciplina a Telemedicina como forma de prestação de serviços médicos mediados por tecnologias", os grupos de Whatsapp não param de apitar. São médicos de todo o país cobrando conselheiros estaduais e federais sobre os ditames do texto que veio a público.
Como toda "nova" ferramenta, a Telemedicina vem dotada de muita desconfiança de todos os pares. Muito também já a veem como oportunidade de desenvolverem seus negócios considerando essa nova opção de atendimento. Tentarei aqui discorrer um pouquinho sobre o que tenho visto quanto às atitudes da classe médica quando o assunto é Telemedicina e o que prevejo para os próximos acontecimentos que iremos observar.
Quero começar pela problemática...
Os histéricos
Alguns desses pelos derivativos do mito da caverna. Outros pelo protecionismo da atividade profissional. Outros ainda devido ao medo de terem que mudar a sua prática. Alguns pelo medo real dos efeitos da transição tecnológica com a população. E, um número bem reduzido, mas bastante influente, por anseios eleitorais para a conquista de votos nas eleições do Conselho Federal de Medicina.
Tenho assistido muitos colegas replicando opiniões histéricas sobre o assunto. São médicos falando sobre o fim da medicina assistencial como a conhecemos; sobre o fim da relação médico paciente; morte da propedêutica e do exame físico. Isso já aconteceu antes. Foi assim quando René Laenac nos apresentou o estetoscópio. Quando Semmelweiss exigiu a lavagem das mãos. O mesmo aconteceu com o uso do ultrassom, da tomografia, das estatinas...
Ao conversar com alguns colegas conselheiros estaduais, percebo que há uma dificuldade de propagação dos conceitos que permearam a resolução sobre o uso da Telemedicina. Alguns atribuem a uma dificuldade de comunicação vertical do CFM aos CRMs. Alguns atribuem ao fato de não terem participado da discussão e, por isso, não estarem sabendo explanar as questões que lhes são feitas.
Nesse processo, chama a atenção o caminho escolhido por atores do submundo (aqueles que não assinam suas afirmações) para minar a índole da diretoria que assina a resolução. Julgam-os com conflito de interesse para o desenvolvimento de negócios próprios. Fazem afirmações sem provas, sem subsidio, sem argumento, atentando contra a índole ou atividade. Os que fazem isso não têm capacidade de observar a complexidade de escrever uma resolução como esta. Estão apenas envenenando a opinião da classe médica para que, na metade do ano tenham alguma possibilidade de ganhar valor frente aos colegas que não têm tempo para o todo e se atém às picuinhas politiqueiras.
Os empreendedores
Uma resolução como essa jamais deveria ter demorado tanto tempo para ser revisada. O último documento do CFM dedicado ao assunto data de 2002. 16 anos para uma nova resolução frente a uma Tecnologia da Informação rapidamente mutante é realmente demais. Mas estamos falando de personas, de colegas.
Alguns de nossos colegas foram beber de fontes onde a telemedicina se desenvolvia com velocidade. Mais do que isso, alguns começaram a empreender na telemedicina. Ligaram médicos a outros médicos (como previa a resolução de 2002). Ao fazer isso largaram na frente. Muitos deles quebraram, pois desenvolveram soluções afrente de seus tempos, sem contar com uma resolução que os apoiassem. 16 anos, e algumas mentes empreendedoras morreram no caminho.
As grandes corporações estão nesse rol também. Algumas delas podiam agir contrariando as normas do CFM. Faziam isso, pois tinham poderio jurídico e financeiro para sustentar todo o processo de P&D e judicial que o tempo iria apresentar. Hoje, com um mundo um pouco mais claro, irão dominar o mercado. A velha máxima:
"Quem chega antes (e consegue ficar vivo), bebe água fresca!"
Os realistas
A maior parte de nós médicos se comporta como realistas. Não adotamos uma nova tecnologia simplesmente porque é nova. Esperamos alguém realizar o caminho científico para poder adotar a nova prática. Consumimos diversos congressos médicos, recebemos inúmeros representantes de laboratório e ouvimos tantos outros colegas como caminho básico para tomar a melhor decisão sobre como queremos tratar o nosso paciente.
A decisão de entrar de cabeça ou entrar aos poucos se dá pelo grau de conforto para o uso da nova tecnologia. Nada mais normal. Fomos ensinados assim. Quando deixamos de fazer isso conseguimos assistir a atrocidades que com o passar dos anos precisam ser relembradas: o uso da Talidomida na gravidez e, recentemente, a Fosfoetanolamina para a "cura" do câncer.
O avanço das Tecnologias da Informação pode, sim, cunhar o caminho para o que eu chamo de Talidomidas Digitais. A febre de como a tecnologia é boa e a inteligência artificial algo matematicamente divino, pode nos cegar a ponto de entrarmos em um flow da tecnologia pela tecnologia, deixando o paciente e os processos científicos novamente de lado.
Provavelmente vejamos muitas "Digiatrogenias" (neologismo criado por este que vos escreve), mas de fato elas serão necessárias para a evolução da relação médico-paciente, na forma que os órgãos regulamentadores lidam com as novas tecnologias e para o desenvolvimento dessa maravilhosa arte que é a medicina.
"A clínica vai continuar sendo soberana; o exame físico, necessário; e a comunicação/relação médico paciente, imprescindível."
A razoabilidade sobre as ações frente às tecnologias como a Telemedicina vai continuar sendo uma atividade individual. Cabe a você capacitar-se para entregar o maior valor possível ao seu paciente, utilizando as novas ferramentas ou não.