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Terapia convencional para disfemia

Terapia convencional para disfemia
Bárbara Figueiredo
dez. 22 - 8 min de leitura
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A controvérsia a respeito da disfemia (gagueira), no campo científico, motivou o interesse em conhecer as tendências e características da produção científica fonoaudiológica nacional sobre essa temática. A Gagueira tem sido amplamente estudada por diferentes áreas do conhecimento, dada sua complexidade e possibilidades de interpretação. Teorias, terminologia e conceituação são bastante diversificadas, fundamentando-se em diferentes correntes do pensamento científico, e direcionando o olhar dos estudiosos da gagueira para teorias orgânicas, psicológicas e sociais, o que permite uma infinidade de leituras do mesmo objeto de estudo (ALMEIDA, 2018).

O reconhecimento da presença de compo­nentes cognitivos e afetivos na gagueira fomentou o interesse na Terapia Comportamental Cognitiva (Cognitive-Behavioral Therapy – CBT). Nesta abordagem, o terapeuta auxilia a pessoa que gagueja a entender como seus pensamentos automáticos negativos afetam seus sentimentos, provocam consequências físicas e agravam seus comportamentos (ALMEIDA, 2018).

A terapia fonoaudiológica também deve considerar a perspectiva da pessoa que gagueja. Portanto, o programa de intervenção fonoaudio­lógica, foco deste texto, considerou que os objetivos da terapia devem englobar: a promoção da fluência; a modificação da forma que a pessoa gagueja; a redução das atitudes e sentimentos negativos em relação ao distúrbio, que são a parte central da abordagem de modificação da gagueira sendo que estão associados com o sucesso da terapia de gagueira em longo prazo; a redução das reações ambientais negativas, já que o estereótipo negativo também vem sendo comprovado como um problema para as pessoas que gaguejam, propiciando assim uma comunicação efetiva e participativa. Este estudo revela que um trabalho que aborde todos esses aspectos poderá facilitar a transferência da fluência para as situações cotidianas e a sua manutenção prolongada após o término do tratamento (MORAES, 2007).

Nessa perspectiva, a intervenção na gagueira infantil deve então envolver os familiares como figuras fundamentais que poderão facilitar a trans­ferência da fluência e ajudarão a criança a lidar com as possíveis recaídas. Por este motivo, os familiares vêm sendo incluídos cada vez mais como parte dos processos e programas de avaliação e terapia. O objetivo geral da terapia fonoaudiológica, portanto, é promover a fluência ou reduzir a gagueira. A redução na quantidade de disfluências irá propiciar um maior fluxo de informação e uma fala mais rápida. O processo de intervenção também visa uma fala mais natural possível, que soe normal, tanto para o falante como para o ouvinte (OLIVEIRA, 2014).

Alguns pacientes poderão alcançar a fluência espontânea, outros a fluência controlada, porém, para alguns o máximo que atingirão é a gagueira aceitável, que representa a fala com disfluências notáveis, mas não graves. Portanto, para verificar se o objetivo foi atingido, ou conhecer a eficácia da terapia é necessário comparar os dados da avaliação da fluência antes e após a terapia. A avaliação da eficácia do tratamento contribui para a base de conhecimento que possibilita o terapeuta prover um tratamento baseado na evidência para gagueira (OLIVEIRA, 2014).

RESULTADOS ANALISADOS

De acordo com os estudos aqui referenciados, em relação à avaliação após o programa terapêutico, observou-se uma melhora rele­vante no perfil da fluência, pois a maioria das medidas analisadas (descontinuidade de fala, disfluências gagas, fluxo de sílabas por minuto e gravidade da gagueira) apresentou diferenças estatis­ticamente significantes. Os achados indicaram que houve uma redução quantitativa nas rupturas o que ocasionou um aumento no fluxo de sílabas por minuto, e também uma diminuição na gravidade da gagueira. Estes resultados confirmam a eficácia terapêutica do programa de terapia aplicado.

Os resultados encontrados podem auxiliar o fonoaudiólogo em sua prática clínica, tanto na terapia como na realização do diagnóstico e do controle da eficácia terapêutica.

A maioria dos participantes que chegaram até o final dos programas integrados de intervenção, mostraram algumas modificações em sua fala, quanto aos critérios utilizados na avaliação. Porém, não foram grandes mudanças, mas suficientes para que os participantes percebessem e relatassem progressos fora do contexto clínico. Uma pequena mudança, em termos numéricos, pode representar muito para uma pessoa com gagueira. Além disso, é notória a importância das autoavaliações como uma medida de ganhos obtidos por meio da terapia de gagueira.

CONCLUSÃO

A gagueira é um tema importante a ser discutido e pesquisado na atualidade, pois engloba de maneira geral o desenvolvimento social, escolar e psicológico do indivíduo. Uma vez que o aspecto emocional se encontra alterado irá afetar de maneira negativa nos rendimentos sociais e escolares, sendo necessário os pais estarem atentos aos primeiros sinais de uma disfluência infantil, agindo de maneira preventiva, sabendo diferenciar a normalidade de alterações relacionadas a fala. Observou-se nos estudos encontrados que o desenvolvimento da linguagem ocorre por volta dos 2 anos, percorrendo até os 5 anos de idade, período em que ocorre a gagueira fisiológica, após essa fase há ocorrência da gagueira, sendo considerada, portanto, persistente (ALMEIDA, 2018).

Para o desenvolvimento de linguagem adequado é necessário que a criança seja exposta a diversos estímulos do meio em que vive e que seja estimulada a uma comunicação constante, ampliando o quadro lexical e também observando as modificações e erros na fala espontânea da criança. O outro, portanto, atua como um mediador e interventor, analisando e sabendo diferenciar o que está adequado ou não para a linguagem, agindo no tempo correto de evolução em cada etapa de desenvolvimento. Evita-se com isso a instalação de patologias relacionadas a fala de maneira preventiva, acompanhando desde o início do período de aquisição até conclusão deste(FRY, 2014).

Destaca-se, portanto, a importância de um olhar diferenciado referente à linguagem, por parte da família e professores dessas crianças, durante a fase de desenvolvimento, uma vez que estes são os primeiros observadores de padrões inadequados na fala dessas crianças. Com isso, há estabelecimento de vínculos e estímulos durante todos os episódios de comunicação, passando estabilidade e confiança a fala que está sendo dirigida a esse indivíduo, mostrando, portanto, a importância de intervenção e o auxílio de orientações com profissionais adequados, referente à idade em que ocorre a gagueira fisiológica, assim evitando a persistência e a instalação crônica (FRY, 2014)

É necessário que se realizem mais estudos e investimentos de pesquisas na área da disfluência infantil, com o objetivo de conhecer melhor e destacar os principais influenciadores para o desenvolvimento da gagueira. Assim, com bases mais técnicas para se diferenciar a idade em que ocorre a gagueira infantil fisiológica, com o intuito de prevenir a instalação crônica (ALMEIDA, 2018).

 

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, B., DZULINSKI, K. A., VIEIRA, T. S. Gagueira infantil: até que idade é considerada fisiológica? Paraná: Ponta Grossa. 2018. 14 p. Disponível em: https://iessa.edu.br/revista/index.php/tcc/article/view/584.  Acesso em: 30 de out. de 2020.

DAMASCENO, W. A. P. L.; FRIEDMAN, S. Análise da produção científica fonoaudiológica nacional sobre gagueira.  Revista CEFAC, São Paulo, p. 41-47, fev. 2011.

FRY, J., MILLARD, S., BOTTERILL, W. Effectiveness of intensive, group therapy for teenagers who stutter. Internacional Journal of Language & Communication Disorders. London, vol. 49, n.1, p. 113-126, jan. 2014.

GOMES, M. J. C.; SROCHIO, E. F. Terapia da gagueira em grupo: experiência a partir de um grupo de apoio ao gago. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, São Paulo, vol. 3, n.2, p. 1-9, dez. 2001.

MORAES, R. A.; NEMR, K. A gagueira sob diferentes olhares: análise comparativa das abordagens de quatro autoras. Revista CEFAC, São Paulo, vol. 9, n. 3, p. 308-318, set. 2007.

OLIVEIRA, C. M. C.; PEREIRA, L. J. Gagueira desenvolvimental persistente: avaliação da fluência pré e pós-programa terapêutico. Revista CEFAC, São Paulo, vol. 16, n.1, p. 120-130, jan. 2014.


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