Um estudo conduzido pela Universidade de Michigan e publicado na JAMA Network Open, traz informações sobre a complexa interação entre o transtorno bipolar e o consumo de álcool, desafiando a noção comum de que o álcool é usado como "automedicação" por indivíduos que buscam aliviar os sintomas do transtorno. A pesquisa é parte do Programa de Pesquisa Bipolar Heinz C. Prechter e oferece uma nova perspectiva sobre as implicações do consumo de álcool em pessoas diagnosticadas com transtorno bipolar.
O estudo utilizou dados de dez anos de quase 600 participantes do Estudo Longitudinal de Transtorno Bipolar de Prechter (PLS-BD), que preencheram questionários detalhados sobre sintomas de humor, funcionalidade da vida, uso de álcool e mais, a cada dois meses. Aqui estão algumas das descobertas-chave:
- Impacto do Álcool nos Sintomas: O aumento no consumo de álcool, mesmo que moderado e abaixo dos níveis considerados problemáticos por especialistas, mostrou estar associado a um aumento nos sintomas depressivos e/ou maníacos nos seis meses subsequentes.
Relação Bidirecional: Contrariamente à hipótese de automedicação, o estudo não encontrou evidências de que um aumento nos sintomas de humor levasse a um aumento subsequente no consumo de álcool.
Funcionalidade no Trabalho: Consumir álcool acima do usual estava ligado a uma maior probabilidade de enfrentar problemas no funcionamento profissional, com efeitos ainda mais acentuados em indivíduos com transtorno bipolar II.
Implicações Clínicas
Os pesquisadores sugerem que a consistência no consumo de álcool deve ser uma parte integral do manejo do transtorno bipolar, similar à manutenção de horários regulares de sono e medicação. Utilizar ferramentas como o Teste de Identificação de Distúrbios de Uso de Álcool (AUDIT) para monitorar padrões de consumo pode ser crucial para guiar as discussões sobre álcool nas consultas de saúde mental.
A equipe de pesquisa, liderada pela Dra. Sarah Sperry, já está planejando estudos subsequentes para explorar os fatores psicológicos e neurofisiológicos que influenciam o uso de álcool e as mudanças nos sintomas em pessoas com transtorno bipolar. Técnicas como EEG e o uso de tecnologias móveis e vestíveis para monitorar comportamentos reais são algumas das abordagens que serão utilizadas para entender melhor essas interações.
Este estudo destaca a necessidade de abordar o consumo de álcool em pacientes com transtorno bipolar de maneira integrada e consciente, considerando as complexas interações entre álcool e sintomas de humor. Ao entender melhor essas dinâmicas, profissionais de saúde podem oferecer intervenções mais eficazes e direcionadas, ajudando a melhorar a qualidade de vida e a funcionalidade desses pacientes.
A pesquisa sublinha a importância de não simplificar as questões relacionadas ao consumo de álcool entre indivíduos com transtorno bipolar e sugere que abordagens de redução de danos e conversas abertas sobre o uso de álcool devem ser priorizadas em contextos clínicos.
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Referência:
Medical Xpress. (2024, July 22). Bipolar disorder and alcohol: It's not as simple as 'self-medication,' says study. Medical Xpress. https://medicalxpress.com/news/2024-07-bipolar-disorder-alcohol-simple-medication.html