Na semana em que realizei as provas do módulo de oncologia, tive a chance de visitar um hospital especializado em câncer. Encontrei naquele local crianças e idosos; homens e mulheres e aprendi que o câncer chega de mansinho e quando menos se espera tira o chão daqueles que passam a conviver com a doença e dos familiares que estão próximos.
No meio de tantos medicamentos, exames e procedimentos, muitas vezes o que um paciente mais precisa é apenas saber que estamos ali para ajudá-lo a atravessar esse deserto. Se não for rumo a cura, que seja pelo menos a um final menos doloroso.
Como jovem estudante e sonhador, nunca tive a pretensão de curar. Existem coisas que transcendem a inteligência humana, e para mim o dom da cura é uma delas. Mas sempre tive vontade de aliviar o sofrimento daqueles que convivem com uma doença. Arrancar um sorriso. Dizer que estou ali. Nem que seja para chorarmos juntos.
Em meio a tantas pessoas vistas naquele dia, uma pequena menininha de dois anos chamou-me a atenção ao dizer "vem pra cá", quando eu e meu grupo de colegas nos afastávamos de seu leito. Como um ímã, nos voltamos na hora para ela e fomos para perto de seu leito. Ver um adulto doente é ruim, mas ver uma criança, chega a ser revoltante!
Entretanto, naquele momento não questionei a Deus sobre o porquê daquilo. Não tentei buscar uma explicação. Não tentei entender. Fiquei apenas observando o sorriso e a carequinha de nossa ilustre hóspede. Enquanto brincava de fazer hambúrgueres de massinha e se escondia envergonhada embaixo de uma coberta quando falávamos com ela, pude perceber como as crianças conseguem rir até mesmo em situações em que muitos de nós estaríamos revoltados e de mal com tudo e todos. Uma lição única!
Quando dissemos que íamos embora, ela pediu que ficássemos mais um pouco. Claro que ficamos! Minha vontade era poder ter passado o dia a seu lado. Em silêncio. Apenas vendo-a brincar. Contemplando aquela risada gostosa de uma criança.
O tempo passou e tivemos que seguir com nossa visita. Mas saber que pudemos, mesmo que por poucos minutos, arrancar alguns sorrisos de nossa pequena fez o dia valer a pena. Como disse Madre Teresa de Calcutá: "Não podemos fazer grandes coisas neste mundo. O que podemos fazer é pequenas coisas com amor."