Para nós, seres humanos, se faz necessária uma interação complexa entre o sistema imunológico e microbiotas, buscando manter a homeostase do organismo e com isso NOSSA VIDA.
No entanto, quando essa relação é comprometida ocorre uma interação alterada entre células imunes e microrganismos. Você poderia pensar que esse é o mecanismo ÓBVIO da fisiopatologia das doenças, porque necessariamente ele é. Porém, a nova perspectiva apontada por pesquisadores demonstra a relevante associação da microbiota intestinal e o estabelecimento de doenças infecciosas e e principalmente autoimunes.
A superfície das membranas mucosas são colonizadas por um elevado número de microrganismos, principalmente bactérias, representando nossa microbiota comensal. Essas bactérias mantém uma relação simbiótica conosco, auxiliando em processos de fermentação e digestão de carboidratos, síntese de vitaminas e desenvolvimento de tecidos linfóides associados ao intestino, também conhecido como MALT, que além de impedir a colonização por patógenos, atua mantendo o equilíbrio entre fatores imunogenéticos e ambientais provenientes da nossa alimentação.
É UMA RELAÇÃO SIMBIÓTICA, uma interação benéfica para ambos, homem e bactéria. O contrário disso seria DISBIOSE, refletida como um desequilíbrio da microbiota intestinal, redução das espécies benéficas e um incremento na microbiota patogênica, que acaba afetando os processos orgânicos.
VOCÊ É O QUE VOCÊ COME parece fazer mais sentido do que um simples trocadilho para machete de revista.
O modo de alimentação nos primeiros anos de vida influencia o estabelecimento da composição da microbiota intestinal e pode presdipor à doenças autoimunes a partir daí. O modo de parto (vaginal ou cesariana), composição da microbiota da mãe, uso precoce de antibióticos e introdução de fórmulas alimentares são alguns dos pontos que influenciam sua caminhada à resposta imune inadequada.
Se esses fossem os únicos fatores de risco implicados nessa demanda teríamos boas perspectivas de controle. Todavia é preciso falar de comportamento alimentar e componentes genéticos determinantes.
Em indivíduos geneticamente suscetíveis à doenças, os gatilhos ambientais subsequentes podem induzir o desenvolvimento de doenças autoimunes.
Um exemplo simples: uma dieta ocidental é geralmente caracterizada por uma alta ingestão de carnes vermelhas e alimentos ultraprocessados, manteiga e frituras, laticínios com alto teor de gordura, ovos e bebidas com alto teor de açúcar. Associe tudo isso à falta de atividade física e ao dia a dia estressante e, assim, uma dieta ocidental não está apenas associada a uma maior suscetibilidade à obesidade, como também desarranjos de vias de ativação imunológicas, diminuição da função e diversidade bacteriana, diminuição da função da barreira intestinal, aumento da inflamação e diminuição das células T reguladoras no intestino, que desempenham um papel importante na manutenção da tolerância imunológica a antígenos alimentares.
Essa gama de acontecimentos podem levar a ativação inadequada de vias de sinalização da família de receptores do tipo Toll (TLR) e respostas mediadas por células Th17, fortemente implicada em doenças como esclerose múltipla, arttrite reumatóide e doença de Crohn.
Mais recentemente, uma hipótese implicou a modificação pós-traducional de proteínas do lúmen, promovidas por enzimas da microbiota disbiótica, que modificam os substratos de maneira diferente daquela realizada sob condições eubióticas. A modificação pós-tradução defeituosa induziria a geração de neo-epítopos que podem se tornar imunogênicos e podem induzir autoimunidade sistêmica e desencadear doenças autoimunes.
Morgan Spurlock, do filme A DIETA DO PALHAÇO, nunca esteve tão certo quanto aos aspectos prejudiciais de uma "dieta ocidentalizada". De fato, vários estudos demonstraram que a obesidade e uma dieta específica que leva à obesidade, induzem disbiose e causam consequências indesejadas, como mecanismos que induzem à perda de tolerância imunológica pelos quais uma pessoa evolui de uma predisposição para uma doença clínica.
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