Neste excelente artigo escrito pelo Editor Chefe de uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo (The Lancet), Richard Horton, demonstra a oportunidade que toda a nação brasileira tem neste momento frente a epidemia do Zika Virus no país.
O texto original pode ser encontrado neste Link, em PDF , ou na página do Lancet, e foi publicado no dia 02 de fevereiro de 2016. Abaixo voce o lê em tradução livre feita por mim, para o Academia Médica. Muito obrigado ao meu professor de Genética Médica, Salmo Raskin, que deu a dica em seu facebook.
Após a leitura do texto, comente na área destinada se você acha que Conseguiremos aproveitar alguma destas oportunidades que Richard Horton nos apresenta.
Brasil: A oportunidade inesperada apresentada pelo ZIKA
O Brasil está (compreensivelmente) chateado. Na reunião do Conselho Executivo da OMS, no mês passado, um oficial de Genebra me disse que a delegação do país estava se recusando a apoiar resoluções, que poderiam ter apoiado, porque o Ministério das Relações Exteriores brasileiro não concordava com a avaliação do Banco Mundial sobre o País.
O Brasil é classificado pelo Banco Mundial como um país de renda média superior, juntamente com os seus vizinhos próximos Colômbia, Equador, Paraguai e Peru. Infelizmente para o Banco (e OMS), o Brasil não se vê como uma nação de renda média. Ele tem aspirações mais elevadas. Um fator que se somou ao "insulto", em 2015 o Banco promoveu rivais do Brasil, Argentina e Venezuela, para o status de alta renda.
Um país de alta renda é definido por um rendimento nacional bruto por pessoa igual ou superior a US $ 12.736. O Brasil tem um rendimento per capta de $ 11.530 (2014). O Brasil tem sido sensível ao julgamento dos outros. Quando a OMS publicou o seu Relatório Mundial de Saúde em 2000, o governo e a liderança de saúde do país ficou ferido e indignado. A OMS classificou o Brasil na posição 125 dos 191 países (Venezuela foi colocada em 54º lugar e Argentina 75º lugar).
O Brasil pode certamente estar orgulhoso de seu progresso para uma melhor saúde. Mas, em sua história de doenças infecciosas, a pesquisadora Patrice Bourdelais argumenta que um país de alta renda é aquele que conseguiu vencer epidemias - razão pela qual "as ações emergenciais em saúde pública são de preocupação internacional" do Brasil, não são apenas um tragédia nacional, mas também uma humilhação internacional.
A presidente Dilma Rousseff emitiu declarações de cunho provocador. Mas o Zika chega em um momento perigoso para o Brasil. A economia do país está encolhendo, enquanto o desemprego e a inflação estão subindo. Essas pressões têm ameaçado ainda um sistema de saúde já frágil.
Escrevendo na revista The Lancet em 2011, Mauricio Barreto e seus colegas identificaram dengue como um dos principais "fracassos" na saúde pública brasileira. O principal vetor da dengue, Aedes aegypti, é também o vetor para o Zika.
Entretanto, com uma liderança, o Brasil pode transformar essa epidemia em uma força em sua vantagem. O fracasso persistente nos esforços para controlar a dengue no Brasil, leva a crer que a probabilidade de controlar o Zika rapidamente hoje é baixa. Nos momentos de perigo epidêmico, naturalmente as ações são focadas para controlar a epidemia. A pergunta que fica é: Quais são as ações efetivas de uma nação sobre uma epidemia?
Epidemias mudam governos.
Os líderes políticos não poderiam ter sinal mais claro de que é responsabilidade deles proteger a saúde de sua nação (Governos que derrotam epidemias, não médicos!). Estes líderes entendem que a política, a economia, e a estabilidade social depende da saúde. Esse entendimento tem consequências. Leis são feitas para proteger a saúde. Novos investimentos são feitos na ciência médica (o progresso político depende do progresso científico). Novas instituições são criadas para serem os melhores conselheiros para os formadores de opinião (e decisão). Um sistema de saúde universal, gratuito, E DE BOA QUALIDADE, viram uma prioridade pública. E os líderes entendem que ao segurar e sustentar a confiança pública é essencial para a ordem.
Epidemias mudam o relacionamento entre médicos e o Estado. O número, a renda, o posicionamento e o poder dos médicos e das instituições de saúde são aumentados. Médicos afiam suas demandas ao solicitar (e normalmente ganhar) maior participação nas decisões políticas.
Epidemias mudam o entendimento público sobre doenças. Elas passam a não ser mais vistas como patologias do corpo. Elas passam a ser entendidas como uma patologia do ambiente. Saúde não é mais a qualidade do entendimento sobre o indivíduo. É algo que depende da organização da sociedade.
Epidemias moldam novamente o conhecimento. Dados confiáveis assumem uma importância política suprema. Políticos demandam acesso instantâneo sobre esses dados. A pesquisa transforma-se em uma ferramenta importante para o julgamento político. Novas áreas de conhecimento são criadas. Comunicação rápida e transparente sobre as novas descobertas se transformam em uma necessidade.
As epidemias transformam o povo. Suas expectativas aumentam. As pessoas esperam ações governamentais fortes, mas ficam desconfiados com o poder coercitivo do Estado. Elas ficam menos tolerantes sobre aquelas ações que protegem a doença (ou o risco da doença). Os estigmas nascem. A Saúde vira uma obsessão pública. As pessoas fazem lobby para que o Governo leve a Saúde mais seriamente. Impostores e charlatões prosperam.
Epidemias mudam sociedades.
As doenças epidêmicas precipitam crises políticas. A sociedade é reestruturada e reformada. A ideia de progresso é redefinida (reversões são possíveis). O consenso se constrói através do direito à saúde. Em suma, as epidemias podem acelerar quanto destruir o desenvolvimento humano. O Zika será apenas um momento na longa luta das nações afetadas. Mas esse momento é uma oportunidade que não deve ser perdida!
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