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Como os médicos podem vencer a Inteligência Artificial?

Como os médicos podem vencer a Inteligência Artificial?
Marcelo Tournier
jul. 12 - 11 min de leitura
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Apesar da revolução que a Inteligência Artificial está iniciando na área da Saúde, acredito que nós médicos não seremos substituídos por computadores. Contudo, o novo paradigma exigirá que a arte da medicina seja reinventada, a fim de assumirmos um papel estratégico no futuro da Saúde. Isto passa por desmistificar os limites e o potencial de uso destas novas tecnologias para a classe médica e sociedade. Além disso, precisamos abraçar o lado artístico da medicina, alavancando resultados positivos para os pacientes com a ajuda do pensamento criativo. Finalmente, em um mundo no qual as mudanças são constantes e cada vez mais rápidas, o aprendizado de novas competências se faz essencial para que os profissionais da Saúde trabalhem de modo adequado o uso destas novas tecnologias.

 

Entendendo a Inteligência artificial

Recentemente, um grupo de pesquisadores de Medicina e Computação de Stanford desenvolveu um programa computacional que detecta sinais de pneumonia em radiografias de tórax com uma precisão superior a de radiologistas experientes. Assim que publicaram os achados no arXiv, um debate intenso começou – seria o início do fim de especialidades que lidam com avaliações de imagens, como radiologistas e patologistas?

Diagrama descritivo do programa para detecção de imagens de Raio-X.
Fonte: Ng et al. CheXNet: Radiologist-Level Pneumonia Detection on Chest X-Rays with Deep Learning. arXiv:1711.05225v2 [cs.CV] 25 Nov 2017.

 

Para funcionar, esse sistema reúne uma série de imagens de radiografias com diagnóstico de pneumonia e é “treinado” para identificar, em uma nova imagem, todos os sinais que sugerem o diagnóstico. Assim, quando alguém apresenta uma nova radiografia ao programa, ele compara a imagem ao banco de padrões “aprendidos” e devolve ao usuário um possível resultado (diagnóstico de pneumonia), com um percentual de precisão – neste caso, superior ao humano.

Esse processo de alimentação de padrões e treinamento de algoritmos é chamado de Machine Learning (ou aprendizado de máquina). É a mesma função que Google, Youtube, Netflix, Facebook, Amazon e tantos outros fazem para “adivinhar” o que você precisa/deseja consumir em um determinado momento.

Apesar de vermos essa aplicação na medicina para apenas uma tarefa (leitura de Raio-X para diagnóstico de pneumonia), a área de Machine Learning encontra-se muito avançada em outras indústrias, como a automobilística – na qual já temos carros sem motorista sendo testados graças a uma série de programas desse tipo, trabalhando simultaneamente integrados dentro de um veículo.

Para quem tiver mais interesse, recomendo a leitura de “Como criar uma mente”, de Ray Kurzweil. Você irá se espantar em ver como a interconectividade dos nossos sistemas neuronais inspira no desenho de sistemas de Inteligência Artificial. O autor, que é da área de ciências da computação, dá um show de neurociência. Minha conclusão ao ler e ao conversar com amigos especialistas em tecnologia é de que Machine Learning ainda precisa amadurecer bastante, mas que pode servir de uma ferramenta poderosa para nos livrar de tarefas repetitivas, para focarmos no cuidado ao paciente – o gesto mais importante no ofício médico.

 

Medicina é arte

Para sermos os médicos do futuro, precisaremos ser mais artistas – pessoas com maior sensibilidade para o intuitivo, criativo, conectivo e subliminar.

Para exemplificar a importância dessas características, observe o experimento onde um grupo de estudantes de medicina da Universidade da Pensilvânia recebeu seis sessões de treinamento de 90 minutos no Philadelphia Museum of Art. Lá foram ensinados, como há séculos os estudantes de História da Arte aprendem, a como olhar para a arte: o processo de observar, descrever e discutir obras da imaginação.

Será que lições em um campo de conhecimento tão distante os tornaria melhores nas habilidades de observação e diagnóstico que estão no cerne do raciocínio clínico? Naquele caso, fez a diferença – os alunos, ao retornar ao hospital, tiveram habilidades superiores de diagnóstico de problemas oculares, em comparação aos outros que tiveram um treinamento tradicional no hospital. Parece que tirar os médicos do hospital e fazê-los entrar em um museu – em “outro mundo” – tornou-os melhores médicos.

No livro “A Revolução do Lado direito do Cérebro”, o autor Daniel Pink aponta para a necessidade de exercitarmos nosso “hemisfério criativo”. Uma das dicas mais úteis do autor é: exercitar atividades artísticas (escrever um blog, fazer desenhos, fotografar, filmar, fazer dança, música, teatro...). Ele cita diversos estudos de função cerebral, mostrando que o cérebro de profissionais que têm a arte como hobby faz conexões de modo muito mais eficiente para resolver problemas. Outra recomendação é estimular sua criatividade em contatos com pessoas, atividades, filmes, músicas, eventos, revistas e livros de várias diferentes áreas do conhecimento. Ele citou um exemplo de como trouxe várias contribuições interessantes para seu trabalho ao ter contatos com eventos e revistas de cabeleireiros e iatistas. Considero este livro a Bíblia do pensamento criativo. Foi um dos livros que mudou meu jeito de pensar e uma das obras que mais me marcou nos últimos 10 anos.

 

As habilidades do século XXI

De acordo com o relatório sobre o futuro dos empregos, realizado pelo Fórum Econômico Mundial, a partir de 2020 estima-se que um terço das habilidades que consideramos importantes hoje no mercado de trabalho serão obsoletas. A nova Revolução Industrial trazida pela Inteligência Artificial transformará o modo em que vivemos e trabalhamos. Enquanto algumas profissões e especialidades deixarão de ser necessárias, outras mudarão profundamente suas rotinas e atribuições. Para quem quiser entender melhor sobre a nova Revolução Industrial, recomendo a leitura de “A Quarta Revolução Industrial”, de Klaus Schwab (CEO do Fórum Econômico Mundial).

Para sermos médicos preparados para o futuro, o que aprender?
De acordo com Davos, 10 competências são fundamentais. Vamos relacioná-las com as rotinas diárias dos médicos:

As habilidades do Século XXI. Fonte: Fórum Econômico Mundial.

 

Resolução de problemas complexos, negociação

Já é da rotina médica, e será ainda mais importante, a capacidade dos profissionais lidarem com questões cada vez mais complexas envolvendo a Saúde do paciente. Com o crescente impacto dos comportamentos dos pacientes como determinantes de Saúde e as novas tecnologias vestíveis que trazem mais informações sobre estilo de vida, torna-se fundamental a visão integrada de diferentes fatores correlacionados na gênese de diversas doenças para a promoção da saúde dos pacientes. Além disso, para a proposição de soluções, o médico atuará como um “coach”, ajudando o paciente a encontrar o melhor caminho para a mudança.

A complexidade dos fatores de risco relacionados com doenças isquêmicas cardiovasculares. Fonte: World Health Organization. Global health risks: Mortality and burden of disease attributable to selected major risks. WHO, Geneva, 2009.

 

Pensamento crítico, julgamento e tomada de decisão 

Devido ao fato de sistemas de apoio à decisão serem cada vez mais frequentes na prática diária, será essencial ao novo médico entender se os resultados apresentados pelos programas realmente refletem o quadro do paciente. Será que a clínica continuará soberana?

 

Inteligência emocional, gestão de pessoas, coordenação com colegas

Aprender e exercitar a liderança será vital para que os médicos possam tomar um papel de orquestrar o cuidado ao paciente. Cada vez mais essas relações com colegas de outras formações será horizontal – realidade que exigirá mais habilidades de liderança contextual, boa comunicação, escuta, empatia e foco nos desfechos clínicos.

 

Criatividade, Flexibilidade Cognitiva, Orientação a Serviços

Uma nova geração de médicos empreendedores está surgindo, com uma visão que vai além de gerar ganhos econômicos na atividade da Saúde. Para esses profissionais, será fundamental buscar inspiração nas áreas de design de produtos e serviços, assim como nos setores de tecnologia e inovação disruptiva, a fim de abrir novas fronteiras de pesquisas e negócios para a melhoria do setor saúde.

 

E agora, Doutor?

As novas tecnologias para a Saúde estão mostrando seu imenso potencial em salvar vidas. Ao mesmo tempo, o papel do médico vai mudar, exigindo um perfil profissional diferenciado, em que a criatividade será essencial nas suas atividades. Em vista disso, ficam várias perguntas no ar:

  • Como os médicos já formados poderão se adaptar a esta nova realidade?
  • Como formar médicos mais criativos?
  • O que será dos profissionais com tarefas relacionadas com rotinas de imagem, como patologistas e radiologistas?
  • Como preparar os alunos em formação para novas competências?

Essas discussões precisam tomar os fóruns estratégicos de todas as Associações, Conselhos e cursos de Medicina com urgência, com foco em observar as tecnologias e contribuir para o bom uso e desenvolvimento das mesmas como aliadas na prática de promover saúde aos pacientes, reduzir custos com saúde e facilitar o trabalho do médico.

Finalizando, é importante lembrar os exemplos que a história registrou, no que tange à inovação tecnológica. Entre 1811 e 1813, o movimento Ludita apregoava que destruir as máquinas era a solução contra a perda de empregos no setor industrial. Vemos a história se repetir recentemente com atos de agressão entre motoristas de Uber e Taxistas. Podemos fazer melhor que isso na Saúde, com homens e máquinas dando as mãos em uma saúde mais criativa, para uma sociedade mais longeva e próspera.

(Arte do título: "Evolution of man" - Ahmed Mater)

 

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