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Dia do médico: Sonho de infância? Não, mas a vida tem seus caminhos...

Dia do médico: Sonho de infância? Não, mas a vida tem seus caminhos...
Lilian Galligani
out. 18 - 7 min de leitura
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A última coisa que eu pensei em ser quando eu crescesse foi ser médica! Não, você não leu errado! A medicina não foi meu sonho de infância,

nem de adolescente no terceirão. Minha história até aqui é longa... 

Quando criança, com uns 5 anos, eu queria ser veterinária. Até o dia que eu descobri que teria de abrir a barriga dos "bichinhos". Provavelmente eu achava que veterinários só brincavam com os animais, eu não entendia o porquê precisava fazer cirurgias. Daí em diante foi um vaco enorme. Estilista, professora, bailarina até chegar no ensino médio.

Meus pais me falaram para fazer o técnico. Engraçado é que naquele momento, por estudar em uma escola médio/técnica, eu já me sentia impelida a tomar uma identidade. Na escola existia os que fariam administração, os que fariam a mecatrônica (trazia status ser da meca naquele micromundo, rs), etc. Escolhi o técnico em química (outro curso com status na escola por ser difícil).

Nesse momento, parecia que todos os meus problemas estavam resolvidos. "SOU QUÍMICA!". Simples, rápido, fácil e essa era minha função no mundo e identidade. Problema resolvido para o resto da vida. Era só me empenhar. Não preciso nem contar que não foi isso o que aconteceu. 

Entrei na faculdade de Tecnologia em Processos Ambientais em 2012, SENAI. O curso foi excelente. Professores mestres, doutores e atuantes na indústria. Laboratórios com cromatografia disponível para a aula, espectroscopia, etc... Tive a oportunidade de fazer meu TCC produzindo biodiesel a partir da gordura de frango e deu certo! Mas não me encontrei no curso. Eu tive três semestres de biologia, aula que mais amava, mas não gostava de botânica de jeito nenhum. Fiz tecnologia em processos ambientais porque gostei de química ambiental no téc. em química. O que eu não me dei conta era que meu propósito com a matéria não era o tratamento da natureza. Remediação de solos, tratamento de água, tratamento de gases industriais. Eu gostava de entender como a poluição afetava o ser humano. Eu queria tratar, mas não sabia que era pessoas.

Tive a oportunidade de atuar em laboratórios químicos, mas diferente da faculdade e técnico em que se desenvolve as coisas, no laboratório do mercado de trabalho foi muito binário. Põe a substância no aparelho, resultado positivo ou negativo. Eu havia estudado tanto e sentia que podia fazer mais. Mas como? Fazer o que mais? 

Ao passo que chegava o término da faculdade, também vieram novas cobranças. "Você vai fazer pós?", "você vai complementar com engenharia ambiental?"

Na contra mão eu resolvi fazer téc. em administração. Eu já trabalhava com gestão da qualidade desde 2013 e administração é um curso que permite entender a empresa como um todo e algo que se leva para a vida toda. E ficar parada não combina comigo. Definitivamente ficar parada não ia fazer com que eu descobrisse o que eu queria fazer da minha vida. Claro que ouvi muita coisa negativa de colegas e conhecidos. "Nossa, você vai voltar para trás, de uma faculdade para um técnico?", "você deveria complementar com engenharia". 

Aqui fica o meu primeiro aprendizado: Você melhor do que ninguém sabe o que sente e conhece tua vida. O que funciona para o outro não funciona para você. E conhecimento não ocupa espaço. 

A melhor coisa que fiz foi a faculdade e o técnico em administração depois. Me tornei uma profissional cada vez melhor e capacitada. Depois fiz outros cursos de curta duração. 

Minha história só se cruza com a medicina em 2018. Fui contratada para trabalhar com qualidade na área da saúde. Foi bem inesperado. Eu não sabia que existia isso na área da saúde. Conhecia a ISO 9000, 14000 e OHSAS 18000. E na minha cabeça todos esses processos só se encaixavam em industrias e comércios. 

Foi ali que me encontrei. Pude acompanhar a rotina de enfermeiros(as), tecnólogos em radiologia e os médicos. E cada dia mais fui me descobrindo, a cada momento em que estava acompanhando aqueles fluxos, ajudando a elaborar aqueles protocolos de exames conforme os profissionais diziam e ensinavam suas nuances e técnicas meus olhos brilhavam. Foi um processo longo até eu perceber, e quando percebi não foi uma decisão impulsiva. Procurei muito sobre as profissões na área da saúde. Cada rotina, cada função e atribuição. Fui conversar com outros médicos e a primeira coisa que ouvi foi "medicina não dá dinheiro". Realmente, o médico, mesmo ganhando mais que a maioria, ainda ganha pouco se comparado a todas as horas de estudo e dedicação. Mas isso eu já tinha ciência se somadas todas as horas de estudo que já tive e mais a de medicina, minha conta nunca vai bater em retorno do investido. Mas nessa altura da vida eu já tinha maturidade o suficiente para entender tudo isso. Ainda mais com os anos de residência, com a bolsa-auxílio baixa.

Quando comentei com os "amigos" mais próximos, eu escutei de tudo. "Você está velha", "você vai mudar agora que conseguiu montar tua carreira na área da qualidade?", "tudo isso para começar do zero?". 

Com o tempo e experiência de vida, você percebe que nunca recomeça do zero. A sabedoria se acumula. A maturidade aumenta. O complicado é que saímos do ensino médio e temos que tomar decisões que a sociedade coloca como definitivas. E a sociedade fica sempre cobrando mais. Sendo que a vida não tem script. A vida acontece e a gente sempre vai se descobrindo.

Sartre escreveu "a existência precede a essência". Ele quis dizer que não nascemos fadados a um destino, mas que temos a responsabilidade de escolher nosso destino, o que causa angústia . Eu havia finalmente escolhido o meu com ciência de todas as dificuldades que a saúde possui. Com ciência de todo o desafio da profissão. E as únicas pessoas do qual eu devo alguma satisfação são meus pais. Porque, infelizmente, nesse objetivo precisarei de ajuda financeira deles. Conversamos muito. Mas muito mesmo e agradeço a Deus por ter me dado essas duas pessoas maravilhosas que me inspiram. 

Infelizmente, não vai caber nessa publicação toda a experiência de vida e tudo o que realmente aconteceu nesses 10 anos de vida no mercado de trabalho. 

Mas, aqui fica meu recado final. Você vestibulando de medicina  (como eu, mais velho), estudante de medicina ou médico que se formou mais velho. Você não está sozinho. E tudo o que você viveu te faz um profissional único. 

Feliz dia do Médico.


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