Ser médico... Desde pequeno sabia o que seria quando crescesse. A Medicina esteve presente em minhas brincadeiras, em meus sonhos, em meu projeto de vida... Sempre comemorei o dia 18 de outubro. Muito menos como dia do médico em si (até porque eu nem sou médico ainda), muito mais como um incentivo para o caminho que eu teria de percorrer.
Até os meus 16 anos sonhava com a pediatria. Depois decidi pela oncologia. Flertei com a cirurgia cardíaca. Mas, foi a Medicina de Família e Comunidade, juntamente com a chance de poder atuar nos Cuidados Paliativos, que ganhou meu coração.
Há 4 anos vivo o sonho que cultivei ao longo de toda a minha infância e adolescência. Há 4 anos tenho a chance de conhecer o outro lado. Ainda tenho muito a percorrer nessa estrada, mas já aprendi uma lição que os livros não ensinam. E talvez ela seja a mais importante de toda a graduação. Existe uma grande diferença entre fazer medicina e ser médico.
Qualquer pessoa pode fazer medicina. Abrir um livro, escrever um resumo, passar pelas provas, seguir um roteiro de perguntas e as técnicas do exame físico é algo que qualquer pessoa pode aprender. Mas, ser médico não. O ser vai muito além do fazer.
E quando falo ser médico me refiro à essência, à característica mais importante a ser cultivada por quem adentra este caminho. Humanidade. Ser médico vai muito além de ouvir histórias, solicitar exames e preencher receitas. Ser médico vai muito além do status social que nossa profissão nos oferece. Ser médico vai muito além da caneta de marca ou do Lattes construído ao longo dos anos.
Ser médico é ouvir, é cuidar, é consolar, é apoiar, é entrar no coração de quem nos oferece a chave de sua vida, é saber que de nada vale anos de dedicação a livros e artigos se não formos capazes de penetrar a emoção de nossos pacientes. Ser médico é acima de tudo ser humano.
E talvez essa seja nossa maior missão. Não perder nossa humanidade ao longo dos anos. Não perder nossa humanidade diante de um sistema que insiste em nos fazer atender um paciente a cada 15 minutos (sendo bem otimista). Não perder nossa humanidade diante de um sistema onde muitos estão preocupados apenas com seus salários ao fim do mês. Não perder nossa humanidade diante da rotina corrida, das inúmeras tarefas a dar conta, dos inúmeros compromissos a cumprir.
Há 4 anos iniciei minha caminhada por essa estrada. Ainda tenho muito a andar. Sei que a sociedade me vê com os olhos do status que a medicina aparenta ter. Sei que muitas portas serão abertas pela escolha que fiz. Sei que a medicina me fará fazer parte de um grupo de pessoas privilegiadas em uma sociedade que teima em tratar de forma desigual os seus.
Mas, aqui entre nós, o que me importa de fato é a pessoa que senta na minha frente no consultório. Suas dores, suas preocupações, suas histórias.
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O que me importa mesmo é ao terminar um atendimento ou uma visita domiciliar, olhar nos olhos do paciente e perceber que pude tocá-lo um pouquinho. O importante pra mim é o sorriso no rosto daqueles a quem tenho a chance de conhecer. O que importa pra mim é chegar ao fim de cada atendimento com a certeza de que ali depositei, além da técnica e conhecimento, humanidade.
E essa certeza é o que faz a caminhada valer a pena. Essa certeza é o que me move a continuar nessa estrada. Essa certeza é o que me faz olhar para o alto e dizer "Obrigado, Senhor!"
Aos companheiros de estrada, que tenhamos técnica, conhecimento, sejamos atualizados, mas, que com o passar dos dias, meses e anos, possamos manter a certeza de que não perdemos ao longo dessa estrada aquela que é a mais importante das características em nossa profissão: a humanidade.
Feliz 18 de outubro!
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