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A alta da Selic e o seu impacto no mercado da saúde

A alta da Selic e o seu impacto no mercado da saúde
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jul. 25 - 5 min de leitura
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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou, no último dia 15 de junho, o aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic). Assim, a mesma passa de 12,75% para 13,25% ao ano, sendo a maior desde novembro de 2016.
 
A alta impacta diretamente o mercado econômico, inclusive o setor de saúde, influenciando em seus créditos e investimentos. Para falar sobre o assunto, a Academia Médica convidou três especialistas na área: o head de inovação na Aceleradora Hotmilk, co-fundador da AtendeDoc Telesaude e presidente da Associação Brasileira de Startups de Saúde (ABSS), Cristiano Teodoro Russo; o fundador da Docway, Fábio Tiepolo, que há vinte anos atua no setor de healthcare; e o presidente do Sistema Unimed Teresina, Newton Nunes.
 
Segundo Cristiano, com o aumento da Selic o dinheiro para crédito fica “mais caro” e retrai o ímpeto dos negócios com maior risco para retorno. Para o mercado de saúde em geral, contratos que precisam ser negociados com base na Selic podem ter aumento no custo de operação, que consequentemente acaba sendo repassado ao consumidor final.
 
Em relação às healthtech´s, o presidente da ABSS diz que os investidores tendem a migrar para opções mais conservadoras, como renda fixa, o que torna a captação de recursos junto a fundos de private equity ou venture capital uma tarefa mais complexa. Para ele, mesmo as grandes empresas tendem à frear um pouco seus projetos de open innovation.

"Costuma-se dizer por aí que em toda crise sempre há oportunidades. Aqui não é diferente, é preciso estar preparado."

Com a declaração, Cristiano diz acreditar que, se por um lado o investimento no risco fica mais difícil, por outro projetos mais maduros e que não exijam grandes cheques podem se beneficiar. Tudo vai depender do perfil dos investidores. Ele ressalta que sempre haverá dinheiro para bons projetos, que se apresentem como negócios maduros e equilibrados financeiramente. Mais uma vez, os olhares se voltaram para os projetos em early stage, pois geralmente requerem valores menores.
 
De acordo com Cristiano, a inovação no Brasil é sufocada desde sempre.

“Nosso país ainda tem um longo caminho até entender que investimentos em inovação não são despesas e que ser o criador das soluções de impacto sempre foi uma vantagem competitiva e estratégica. Historicamente, os governos encolhem os recursos para inovação nacional”. 

As grandes empresas multinacionais raramente possuem no país unidades de pesquisa e desenvolvimento implantadas e o mercado é duro com o empreendedor nacional. A crise sanitária, a retração econômica mundial, a guerra na Ucrânia e o período pré-eleitoral também geram impacto importante na retração dos mercados.

“É preciso ter resiliência, estar atento às oportunidades, se preparar continuamente e seguir em frente. O cenário só se altera se os atores mudarem as peças.”

Já Fábio destaca que, em teoria, outra consequência da alta da Selic pode ser a queda do dólar, onde o dinheiro estrangeiro seria empregado como uma relação melhor de risco-retorno. Entretanto, devido à guerra, houve aumento do preço do petróleo, que também interfere na aquisição de equipamentos e medicamentos estrangeiros por hospitais.

“Ainda que necessário, o aumento da Selic freia o crescimento do país e prejudica negativamente o PIB, a renda e a geração de empregos.”

O fundador da Docway ressalta que as necessidades do mercado de saúde são diferentes, pois as pessoas, quando precisam de um serviço da área, acabam o utilizando de qualquer maneira. Existe um impacto muito grande para startups da área da saúde, que dependem de financiamento, recurso para suas captações. Esse dinheiro acaba ficando mais caro e o investidor também muito mais reticente.
 
Pessoas que pagam planos de saúde também sentem a correção de juros em suas mensalidades. Em relação aos planos e às cooperativas de saúde, Newton ressalta que as cooperativas mais afetadas são aquelas que são operadoras de saúde, pois há redução no crescimento e também na contratação dos planos. Auxílio do resultado operacional pode ser observado apenas entre as que possuem reservas significativas aplicadas em fundos de renda fixa.
 
Por fim, Newton lembra que, além da Selic, o aumento do IPCA e especialmente da inflação médica ( VCMH - Variação de Custo Médico Hospitalar) oneram toda a cadeia produtiva do mercado da saúde.

 

Entrevistas e texto por Isadora R. Mesadri 

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Referência 

RUSSI, Anna. Copom eleva a taxa Selic para 13,25% ao ano, maior patamar desde 2016. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/copom-eleva-a-taxa-selic-para-1325-ao-ano-maior-patamar-desde-2016/. Acesso em: 14 jul. 2022.


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