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A importância da farmácia clínica

A importância da farmácia clínica
Lilian Galligani
mai. 3 - 7 min de leitura
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Na segunda temporada de Outlander, a personagem Claire Fraser viaja para Paris. Seu marido, Jamie Fraser tem dificuldades para dormir, com isso ela conhece seu novo amigo Master Raymond, o boticário .

O cenário e a atuação de Dominique Pinon fazem jus a esse profissional, visto de forma mística, que anteriormente foi chamado de curandeiro, alquimista, bruxo e só na Idade Média passa a ser chamado de boticário. 

Não havia lugar melhor para Claire conhecer um boticário do que na França, visto que foi na França e na Espanha onde as primeiras boticas começaram a aparecer. 

É possível notar que nessa época o boticário ainda era a  fusão do médico com o farmacêutico. O mesmo profissional que ouvia sobre a enfermidade e a  diagnosticava era o mesmo que preparava e vendia a "cura". Posteriormente, elas foram separadas. 

No Brasil, as primeiras boticas (que se limitavam aqui por caixas de madeiras), vieram com os Jesuítas no período colonial. Eles foram os primeiros a testar as plantas medicinais dos indígenas. 

Leia também: Medicamentos Sem Danos - terceiro desafio global da OMS para a segurança do paciente

O Padre José de Anchieta foi um dos primeiros boticários, a se dedicar com ardor missionário a curar os doentes entre o povo da terra brasilis. Em suas memórias, ele escrevia em 1565:


"Nossa casa é botica de todos; poucos momentos está quieta a campainha da portaria ..."

Após a Segunda Guerra Mundial, a produção farmacêutica em larga escala fez com que o farmacêutico fosse desvalorizado e visto só como quem recebe, armazena, dispensa e vende o medicamento. Porém, vale salientar que com o aumento da complexidade assistencial o número de Eventos Adversos relacionados a doses, administrações, interações e iatrogênias também cresceu. Sendo assim, a necessidade de um profissional que tivesse como foco conferir essas questões voltou.

A seguir, entenda como funciona o processo de atendimento com o farmacêutico e sem ele.

  1. Processo de atendimento sem o farmacêutico clínico

     2. Processo de atendimento com o farmacêutico clínico

É possível notar no fluxo com o farmacêutico clínico que ele se torna mais um ponto de checagem. Apesar de os enfermeiros também auxiliarem os médicos na questão medicamentosa, a grande quantidade de atendimentos, que vem reduzindo o tempo de contato do paciente com o médico, unida com as grandes cargas horárias de trabalho dos profissionais da saúde, estresse e fadiga, tornam indispensável a existência de um profissional com foco em conhecimento em medicação.

A seguir, abordarei a importância do farmacêutico clínico em três áreas médicas.

Neonato e pediatria

Em pesquisa realizada no Brasil, os pesquisadores relataram que, em 59,8% dos recém-nascidos internados durante o período analisado, foram encontrados problemas com medicamentos, implicando em uma média de 1,9 problema com medicamentos por paciente e 6,8 problemas com medicamentos a cada 100 pacientes-dia.

Segundo o Instituto para Praticas Seguras no Uso de Medicamentos, a farmácia na neonato e pediatria é desafiadora, visto que muitas vezes não há medicamentos com dosagens para essa população e existe ainda baixa evidência cientifica.

Por esses motivos, a dose da maioria dos medicamentos prescritos e administrados em neonatologia necessita ser calculada individualmente, de acordo com a idade, o peso e a área de superfície corporal dos neonatos. Como consequência, são realizadas adaptações para viabilizar o uso dos medicamentos para os recém-nascidos, como a trituração de comprimidos, as modificações nas vias de administração, entre outras.

Geriatria

O principal desafio da farmácia na geriatria é a conciliação  medicamentosa no ato da admissão desse paciente antes da administração dos novos fármacos.

Isto acontece por uma série de fatores como:

• Idade avançada deste perfil de paciente;

• Maior probabilidade dos pacientes desenvolverem doenças crônicas como:  hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia e doenças cardiovasculares.

Quando o paciente toma muitos remédios, o profissional de saúde precisa lidar com a polifarmácia, que, de acordo com definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) é "o uso rotineiro e concomitante de quatro ou mais medicamentos por um paciente".

Segundo o ISMP, o uso de medicamentos nessa faixa etária pode ser prejudicado devido a déficits cognitivos e baixa acuidade visual que podem levar a erros de medicação.

No cenário brasileiro, a baixa escolaridade também é fator preocupante no tocante à segurança da utilização de múltiplos medicamentos, uma vez que a população geriátrica apresenta, em média, apenas 4,2 anos de estudo e 28% têm menos de um ano de estudo. Portanto, cabe também ao farmacêutico clínico a beira leito realizar uma conscientização e esclarecer dúvidas do paciente e da família.

Com o envelhecimento também há uma redução da absorção de água pelo organismo do idoso e o aumento de gordura, afetando assim o volume de distribuição de medicamentos lipofílicos e hidrofílicos. Também deve-se ser levado em consideração que a clearance (medida da capacidade do organismo em eliminar um fármaco) desses medicamentos ficam reduzidas devido a redução do metabolismo e excreção.

Centro cirúrgico e UTI 

O farmacêutico clínico é peça chave na logística do centro cirúrgico, sendo responsável por prover o insumo certo na hora certa e na área certa, cabe ao farmacêutico prever os medicamentos e materiais indispensáveis para a realização de procedimentos anestésicos-cirúrgicos. 

Já na UTI, a alta complexidade dos casos associada ao uso da polimedicação faz com que o campo de atuação para o farmacêutico clínico nestas unidades seja amplo. 

Neste sentido, cabe ao farmacêutico estar atento às alterações fisiológicas da idade, alterações agudas em funções orgânicas como insuficiência renal ou hepática, interações medicamentosas e complexidade dos regimes terapêuticos.

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Referências

1. CATHO. Quando surgiu a carreira de farmacêutico? Disponível em: https://www.catho.com.br/carreira-sucesso/carreira/quando-surgiu-a-carreira-de-farmaceutico/. Acesso em: 24 de abril de 2022.

2. CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Aspectos Históricos. Disponível em: https://www.cff.org.br/50anos/?pg=aspectoshistoricos#:~:text=Em%201839%2C%20o%20governo%20provincial,funciona%20no%20Rio%20de%20Janeiro. Acesso em: 24 de abril de 2022

3. CRF-MG. História da Farmácia. Disponível em: https://www.crfmg.org.br/externo/institucional/historia_historia.php.  Acesso em: 24 de abril de 2022

4. FUNIP, Curso: Controle de infecções hospitalares e análise e interpretação de dados laboratoriais

5. ISMP. Boletim: Polifarmácia: quando muito é demais? Disponível em: https://www.ismp-brasil.org/site/wp-content/uploads/2018/12/BOLETIM-ISMP-NOVEMBRO.pdf. Acesso em: 30 de abril de 2022

6. LEOPOLDINO et al.  Drug related problems in the neonatal intensive care unit: incidence, characterization and clinical relevance. Disponível em: https://bmcpediatr.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12887-019-1499-2. Acesso em: 24 de abril de 2022

7. PROJETO PACIENTE SEGURO HOSPITAL MOINHOS DE VENTO. Uso de medicamentos seguros para idosos. Disponível em: https://lms.hospitalmoinhos.org.br/courses/course-v1:Moinhos+PS_SUMI_2021+PS_SUMI_2021_T1/course. Acesso em: 27 de outubro de 2021.

8. PROJETO PACIENTE SEGURO HOSPITAL MOINHOS DE VENTO. Segurança no uso de medicamentos em neonatologia. Disponível em:  https://lms.hospitalmoinhos.org.br/courses/course-v1:Moinhos+PS_SUMN_2021+PS_SUMN_2021_T1/course/. Acesso em: 01 de maio de 2022.


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