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A Revolução da Semiologia Médica

A Revolução da Semiologia Médica
Emerson Wolaniuk
out. 14 - 6 min de leitura
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Encerrou-se no 50º COBEM, considerado o maior congresso de educação médica do mundo, que ocorreu nas dependências da Universidade de São Paulo - USP. Acompanhamos nesta manhã o simpósio "O Ensino da Semiologia", liderado pelo Dr. Milton de Arruda Martins, diretor do setor de clínica médica do Hospital das Clínicas, professor titular de semiologia médica da USP e presidente docente do COBEM 2012.

Ele iniciou sua palestra valorizando a conversa da anamnese na prática clínica:

"Quando se trata de doença ocupacional, por exemplo, temos que saber o que o paciente faz de fato, e não o nome da sua profissão."

Foi assim que introduziu o caso de um paciente encaminhado ao seus cuidados, que vinha com um caso de febre de origem indeterminada há um ano. Os outros médicos pelo qual o paciente passou pediram tomografia e exames para detectar causas infecciosas e neoplasias. Quando chegou aos cuidados do Dr. Milton, através de sua anamnese, descboriu-se que sua ocupação era de leiteiro, trabalhando diretamente com vacas, em uma região onde haviam sido detectados casos de brucelose. O diagnóstico estava feito.

"É espantoso que em um ano nenhum médico havia perguntado o que o sr. João fazia. (...) Quem não sabe o que procura não entende o que acha. Não adianta saber apenas como fazer, é preciso fazer." - Ressaltando o valor da anamnese como instrumento semiológico fundamental.

O segundo caso por ele apresentado, o do paciente Richard, um engenheiro francês aposentado que vivia no Brasil, tratava-se de um homem de 60 e poucos anos que tinha um quadro de emagrecimento de causa indeterminada. No exame físico, Dr. Milton percebeu um fígado nodular e de consistência fibrosa. Na fossa ilíaca esquerda, uma massa palpável. O diagnóstico? Tumor colo-retal com metástases hepáticas.

"Ele era um paciente de posses, mas nenhum dos médicos que pagou, antes de chegar até mim, colocou a mão sobre o abdôme do sr. Richard. Isso é um absurdo."

O terceiro e último caso era de uma paciente de meia idade que veio com queixa de epistaxe. O médico que a atendeu pediu um raio-X de crânio, que apresentou algumas lesões nodulares. O diagnóstico de mieloma múltiplo foi levantado como hipótese. O neurocirurgião a que foi pedido uma interconsulta orientou uma biópsia. A paciente precisou raspar o cabelo do hemicrânio, o diagnóstico patológico deu negativo. O radiologista, a posteriori, chegou à conclusão que aqueles nódulos/cistos eram variações anatômicas dos seios da face e não explicavam a epistaxe. Uma tomografia foi solicitada e um tumor renal foi encontrado, então. Carcinoma renal confirmado por biópsia. Submeteu-se a sra. Maria a uma nefrectomia. O que deixou os médicos desarmados foi a reclamação da paciente:

"Eu entrei aqui com o nariz sangrando, furaram a minha cabeça, abriram a minha barriga, tiraram-me um rim, mas continuo com o nariz sangrando, doutor..."

Esse último exemplo leva-nos a pensar: nós sabemos o que é melhor para o paciente ou a gente decide que sabe sem perguntar do que ele precisa? Essa é uma questão que está sendo levantada mundialmente e está gerando novos pensamentos na prática clínica. Evidências mostram que exames inúteis têm sido pedidos e devem ser excluídos da rotina médica, como por exemplo:

Raios-X, tomografia ou ressonância magnética de coluna lombar em casos de lombalgia sem sinais de alarme;

Raios-X ou tomografia nos casos de sinusite aguda;

PSA no rastreamento do câncer de próstata.

Esses exames laboratorias ou de imagem não substituem uma boa anamnese e um bom exame clínico.

Em relação à semiologia médica do futuro, o Academia Médica perguntou ao Dr. Milton Arruda:

Como o uso de novas tecnologias, como os aplicativos para smartphones, podem ampliar o poder da semiologia no diagnóstico de doenças?

Dr. Milton Arruda: A tecnologia tem uma série de instrumentos que podem ajudar o médico. Uma vez, numa aula inaugural da disciplina de semiologia médica para os meus alunos da FMUSP, projetei uma imagem com uma foto de um paciente com síndrome de Claude-Bernard-Horner. Aí pedi para que eles me descrevessem o que viam. "Ah, ele tem a pupila pequena - e o que mais? - Tem a pálpebra caída também." Expliquei que o nome desses sinais eram miose e ptose, respectivamente. Aí orientei que procurassem no google as doenças que causam isso, colocando essas duas palavras no buscador. Na primeira linha de resultados, estava escrito: Síndrome de Claude-Bernard-Horner. O google pode ser tão poderoso quanto ou até mais poderoso que os aplicativos de iPhone para ajudar nos processos diganósticos, se bem aplicado.

Os outros participantes do simpósio também foram questionados acerca da mesma questão.

Dr. Carlos Caron - Professor de semiologia da FEPAR: Na Universidade de Harvard, foi feito um estudo que mostrou que o uso de aplicativos para iPhone reduziu em 30% os erros cometidos pelos residentes. Há um grande impacto dessas novas tecnologias na semiologia e na medicina, mas acredito que ainda é cedo para que tiremos conclusões mais sólidas a respeito disso, precisa-se de mais estudos envolvendo esse assunto.

André Lanza, acadêmico de Medicina da FCMMG: Para o jovem estudante ou médico, o uso dessas tecnologias é algo natural. Não vejo mais como um ponto de discussão, sempre que posso estou usando esses recursos. Hoje não me imagino sem o meu smartphone e a consulta médica pode ser otimizada com o uso desses aplicativos.

E você, o que pensa sobre isso? Deixe-nos sua opinão sobre o assunto!

Em breve, traremos mais artigos sobre o COBEM 2012 e os novos rumos da medicina brasileira. Volte sempre, sua visita é sempre bem vinda! Crescer é compartilhar novas ideias.

 


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