A saúde mental dos médicos, especialmente durante os anos de residência médica, é uma preocupação crescente que afeta não apenas os profissionais da saúde, mas também a saúde pública em geral. Um estudo publicado em 21 de junho de 2024, em JAMA Network Open, traz informações importantes sobre a duração e as consequências dos sintomas depressivos que se iniciam durante o primeiro ano de residência médica, conhecido como ano de internato.
🟦 A tabela detalha as características demográficas de base dos médicos participantes do estudo:
Fonte: Kim E, Sinco BR, Zhao J, et al., 2024
Este estudo acompanhou médicos nos Estados Unidos por até dez anos, utilizando o questionário de saúde do paciente (PHQ-9) para avaliar longitudinalmente a gravidade dos sintomas depressivos. Os resultados indicam que os sintomas depressivos que começam no internato não são apenas transitórios; eles tendem a persistir e impactar significativamente a saúde mental a longo prazo dos médicos.
🟦 No gráfico observamos a trajetória dos escores médios do PHQ-9 ao longo do tempo entre os médicos participantes:
Fonte: Kim E, Sinco BR, Zhao J, et al., 2024
Principais Descobertas:
1. Persistência de Sintomas Depressivos: Médicos que apresentaram sintomas depressivos moderados a graves durante o internato tiveram uma probabilidade significativamente maior de continuar apresentando esses sintomas após completar os primeiros anos de formação. Um ano após o internato, 21,9% desses médicos ainda exibiam sintomas depressivos significativos, uma taxa mais de três vezes maior em comparação com aqueles que não tiveram sintomas depressivos durante o internato.
2. Comparação com a População Geral: Os médicos que apresentaram sintomas depressivos durante o internato mostraram taxas de depressão superiores não só em relação aos seus colegas sem esses sintomas, mas também em comparação com adultos de idade semelhante na população geral.
3. Impacto a Longo Prazo: Os sintomas depressivos iniciais podem persistir ao longo da trajetória profissional dos médicos, sugerindo consequências duradouras para a saúde mental da força de trabalho médica.
🟦 O gráfico abaixo ilustra a proporção de participantes diagnosticados com depressão ao longo do tempo:
Fonte: Kim E, Sinco BR, Zhao J, et al., 2024
O estudo destaca a necessidade de reconhecimento dos sintomas depressivos entre médicos em formação como um problema sério, que pode resultar em sintomas depressivos prolongados por quase uma década entre os médicos em exercício. A pesquisa também aponta para a importância de intervenções precoces, que poderiam incluir:
- Redução das Horas de Trabalho: Reduzir as horas de trabalho e aumentar as horas de sono demonstraram ter um efeito protetor contra o desenvolvimento de sintomas depressivos.
- Desestigmatização do Cuidado com a Saúde Mental: Programas de bem-estar universais, aconselhamento com opção de não participação e inscrição automática em recursos de saúde mental podem diminuir as barreiras ao acesso e superar o estigma.
- Intervenções Baseadas no Sistema: A avaliação das metodologias de feedback e a implementação de práticas que permitem o cuidado preventivo básico de saúde são essenciais para mudar a cultura do local de trabalho para médicos em formação.
Este estudo vem reforçar a necessidade em se abordar a saúde mental dos médicos desde o início de sua formação e a necessidade do suporte contínuo para garantir a saúde de longo prazo dos profissionais que cuidam da saúde de todos nós.
Referência:
Kim E, Sinco BR, Zhao J, et al. Duration of New-Onset Depressive Symptoms During Medical Residency. JAMA Netw Open. 2024;7(6):e2418082. doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.18082