Patógenos zoonóticos que possuem alto
índice reprodutivo, como o vírus da varíola dos macacos (Monkepox), possuem
maior probabilidade de evolução durante o período em que o número de casos
permanece baixo. Por isso, esperar até que o número de casos seja alto daria ao
vírus da varíola dos macacos – ou a qualquer patógeno emergente – a
oportunidade de se adaptar substancialmente aos humanos. Essa foi a conclusão de
pesquisadores, em um artigo publicado pelo The
Lancet.
Devido ao crescimento populacional, à
degradação ecológica e às mudanças climáticas, houve um aumento na frequência
de contato entre humanos e outros animais, selvagens e domésticos. As
consequências desse contato prolongado incluem maiores oportunidades para os
patógenos cruzarem as barreiras das espécies.
Casos recentes de alto perfil reprodutivo
incluem vírus Ebola (de morcegos), coronavírus MERS (morcegos ou camelos),
SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2 e varíola dos macacos (roedores). Os pesquisadores
explicam que, depois que uma zoonose se espalha para os humanos, a evolução
subsequente do vírus resulta em maior transmissão, dificultando o controle e causando
mudanças imprevisíveis na gravidade da doença, como visto em diferentes
variantes da pandemia de SARS-CoV-2 em andamento.
O fato de infecções atuais por varíola
dos macacos terem sido encontradas geograficamente e mutacionalmente distantes
da provável origem na Nigéria corroboram com a adaptação do patógeno para maior
transmissão entre seres humanos.
Os autores ressaltam que coletar dados
sobre a evolução de patógenos emergentes é um desafio, pois é mais difícil
detectar um pequeno surto em estágio inicial do que um surto maior em estágio
posterior. Entretanto, se recursos substanciais de saúde pública forem
implantados apenas para patógenos que alcançaram alta visibilidade infectando
um grande número de pessoas (ou seja, um número limite de infecções) haverá
perda de uma janela de oportunidade crucial para controlar patógenos emergentes
de baixo índice reprodutivo.
Por décadas, a varíola dos macacos é bem
conhecida como uma infecção emergente com um índice reprodutivo baixo. Agora,
seu índice reprodutivo é provavelmente maior, o que pode ser o resultado da
evolução dentro da população do reservatório animal ou dentro dos humanos.
Independentemente do índice reprodutivo da varíola dos macacos nesse momento, é
necessário agir o quanto antes e destinar recursos para o controle de surtos
antes que eles cresçam e tenham tempo para evoluir ainda mais.
Para o surto atual do vírus da varíola
dos macacos, o uso rápido da vacinação em anel - onde os casos-índice, os
contatos rastreados (do caso-índice) e os contatos desses contatos são todos
vacinados com a vacina MVA-BN licenciada (conhecida como imvanex) - poderia
ajudar a garantir que esta epidemia não fique fora de controle. Vale enfatizar
que essa estratégia de vacinação levou à erradicação da varíola e pode ser
bastante eficaz na fase ainda inicial do surto.
Por fim, a equipe espera que sua pesquisa
encoraje os formuladores de políticas a evitar a complacência e a
procrastinação ao lidar com vírus aparentemente "controláveis". Se
implementadas de forma rápida e consistente ao longo do ciclo de vida de uma
epidemia, medidas de controle como rastreamento de contatos ou vacinação podem
dar às autoridades de saúde pública a melhor chance de erradicar completamente
o surto antes que ocorra uma evolução significativa.
Referência
Philip
L F Johnson et al, Evolutionary consequences of delaying intervention for
monkeypox, The Lancet (2022). DOI: 10.1016/S0140-6736(22)01789-5