O SARS-CoV-2 e o vírus influenza A (IAV) representam dois patógenos altamente transmissíveis pelo ar com capacidade pandêmica. Embora esses vírus pertençam a famílias de vírus separadas, ambos apresentam potencial zoonótico, com reservatórios animais significativos em espécies em contato próximo com humanos. Os dois vírus são semelhantes em sua capacidade de infectar as vias aéreas humanas (possuem as mesmas células alvo), e sabe-se que coinfecções destes dois vírus, comuns principalmente no início da pandemia, quando não havia o uso de máscaras, resultam em morbidade e mortalidade significativas.
A coinfecção destes dois vírus não altera a trajetória nem a gravidade do vírus influenza A, independentemente do momento. Mas se o hospedeiro contrair o vírus influenza A primeiro, a resposta a essa infecção pode suprimir significativamente a replicação do SARS-CoV-2, de acordo com um artigo publicado nesta semana no Journal of Virology, um periódico da Sociedade Americana de Microbiologia.
Notavelmente, os pesquisadores descobriram que o vírus da gripe A interfere na replicação do SARS-CoV-2 no pulmão e pode continuar a fazê-lo por mais de 1 semana após a eliminação da gripe A, de acordo com a pesquisa.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores realizaram experimentos in vitro, bem como em um modelo animal de hamster. As células utilizadas foram provenientes de duas linhagens distintas: a primeira, células Vero-E6, geneticamente modificadas para não possuirem as sequências gênicas de interferons I e III nas quais, portanto, os vírus de replicam mais facilmente; e a segunda linhagem proveniente de células alveolares interferon-competentes, A549.
A cobaias animais receberam os 2 vírus simultaneamente e foram examinados nos dias 1,3, 5, 7 e 14 pós-infecção. Os pesquisadores também conduziram experimentos nos quais eles primeiro infectaram os animais com qualquer um dos vírus, seguidos três dias depois pelo outro vírus, monitorando-os nos dias 1, 3 e 5 após a infecção.
A equipe demonstrou que a coinfecção não resulta em um pior desfecho da doença no modelo animal. Eles descobriram que a infecção por SARS-CoV-2 não interfere na biologia do vírus influenza A in vivo, independentemente do tempo entre as infecções. Em contraste, os pesquisadores verificaram uma perda significativa de replicação do SARS-CoV-2 após a infecção pelo IAV. Eles concluem que é improvável que a cocirculação de SARS-CoV-2 e IAV resulte em aumento da gravidade da COVID-19. No entanto, este foi um estudo realizado em modelos animais, o que indica que a vigilância epidemiológica nas populações humanas é imprescindível para confirmar se este comportamento também ocorre na nossa espécie.
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Referências:
Kohei Oishi, Shu Horiuchi, Judith M. Minkoff, Benjamin R. tenOever. The Host Response to Influenza A Virus Interferes with SARS-CoV-2 Replication during Coinfection. Journal of Virology, 2022; DOI: 10.1128/jvi.00765-22 Disponível em https://journals.asm.org/doi/10.1128/jvi.00765-22