Uma equipe de pesquisadores do Imperial College London e da London School of Hygiene and Tropical Medicine descobriu que as vacinas contra a COVID-19 reduziram o número potencial de mortes em mais da metade no primeiro ano em que estavam disponíveis para a população.
O estudo, publicado em 23 de junho de 2022 na revista The Lancet Infectious Diseases, modelou a propagação da doença em 185 territórios e países e descreve que, sem as vacinas, 31,4 milhões de pessoas teriam morrido da doença entre 8 de dezembro de 2020 e 8 de dezembro de 2021. Embora o impacto da pandemia tenha sido devastador, culminando em 3,5 milhões de mortes no período, o estudo estimou que as vacinas evitaram 19,8 milhões de mortes no total.
Os autores utilizaram um modelo de transmissão da COVID-19 que incorpora informações conhecidas atualmente sobre as vacinas e a doença a três situações: no primeiro cenário não haveria vacinas disponíveis, no segundo que as vacinas foram entregues, mas não reduziram a transmissão e, em terceiro lugar, o que realmente ocorreu, com vacinas eficazes lançadas e aplicadas.
Em seguida, eles subtraíram o número de mortes por COVID-19 observadas na terceira situação do número estimado de mortes da primeira situação – se não existissem vacinas – para determinar quantas mortes foram evitadas.
Uma vez que houve disparidades na instalação do programa de imunização entre os países, bem como na eficácia da vacina utilizada em cada país, o modelo levou em conta a variação nas taxas de vacinação ao redor do globo.
De forma semelhante, sabe-se que há diversos países em que houve subnotificação das mortes relacionadas à COVID-19. Portanto, os pesquisadores realizaram uma análise separada com base no número de mortes em excesso registradas acima daquelas que seriam esperadas durante o mesmo período. Em países nos quais dados oficiais não estavam disponíveis, a equipe usou estimativas de mortalidade excessiva por todas as causas. Essas análises foram comparadas com um cenário hipotético alternativo em que nenhuma vacina foi entregue.
Eles também modelaram o impacto das vacinas usando um banco de dados da Universidade Johns Hopkins de mortes oficialmente relatadas. Quando o modelo se ajustou a essas mortes por COVID-19 oficialmente relatadas, o resultado obtido foi que 14,4 milhões de mortes foram evitadas por vacinas, uma estimativa mais conservadora do que a calculada usando o excesso de mortalidade. Isso acontece pois o excesso de mortalidade pode incluir mortes independentes da COVID-19 e que há complicações em determinar a causa de morte específica em pessoas com múltiplas comorbidades.
No entanto, mais milhões de mortes poderiam ter sido evitadas. Segundo os autores, uma em cada cinco mortes decorrentes da COVID-19 em países de baixa renda poderia ter sido evitada se as metas globais de vacinas da Organização Mundial da Saúde (OMS) fossem cumpridas.
A iniciativa COVID-19 Vaccine Access (COVAX) facilitou o acesso a vacinas acessíveis para países de baixa renda para tentar reduzir as desigualdades, com uma meta inicial de dar duas doses de vacina a 20% da população em países abrangidos pelo compromisso até o final de 2021. No total, mais 81.750 mortes poderiam ter sido evitadas se a meta da COVAX tivesse sido cumprida por cada país. Da mesma forma, 599.300 vidas poderiam ter sido salvas se a meta da OMS de vacinar 40% da população de cada país com duas ou mais doses até o final de 2021 tivesse sido atingida. Assim, os pesquisadores destacam a importância do acesso equitativo às vacinas, particularmente em regiões de baixa renda.
Por fim, o estudo enfatiza que, embora a maior parte do benefício das vacinas tenha vindo da imunização direta – os indivíduos são menos propensos a serem infectados ou morrerem da doença após a vacinação – também há um considerável grau de proteção indireta. Ou seja, as vacinas reduzem a transmissão em uma população, aliviando alguma pressão sobre os recursos hospitalares e, potencialmente, facilitando o atendimento a pacientes mais doentes.
O trabalho possui limitações, incluindo a falta de dados de sequenciamento genético para confirmar a frequência das variantes circulantes, incerteza sobre a eficácia das vacinas e a inabilidade de explicar como os governos provavelmente mudariam as políticas de bloqueio ou restrições de viagem, além de estimar que a transmissibilidade se deu de forma igual entre os países.
Artigos relacionados:
COVID-19: Eficácia da vacina diminui mais rapidamente para pacientes com câncer, segundo estudo
Miopericardite após a vacinação COVID-19 é rara, constata estudo internacional
Quer aprimorar seus conhecimentos sobre vacina? Conheça 5 cursos gratuitos da OMS!
Referências:
Watson OJ, Barnsley G, Toor J, Hogan AB, Winskill P, Ghani AC. Global impact of the first year of COVID-19 vaccination: a mathematical modelling study. Lancet Infect Dis. 2022 Jun 23:S1473-3099(22)00320-6. doi: 10.1016/S1473-3099(22)00320-6. Epub ahead of print. PMID: 35753318. Disponível em https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(22)00320-6/fulltext